Por Paulo Cezar S. Ventura (Nova Lima, MG)
Que Vô Ventura
é um artista não tenho dúvidas. Artista incompreendido, talvez, de arte
desconhecida, é possível, um artista a meu ver, no entanto. Busquei no
dicionário várias explicações para o verbete “arte”, para explicar um pouco das
artes de Vô Ventura, e justificar minha atribuição e para a descrição de uma de
suas artes: a de criar tornados. Vejamos, então:
Aptidão inata
para aplicar conhecimentos, usando talento ou habilidade, na demonstração de
uma ideia, um pensamento; pode se referir também ao resultado dessa
demonstração: no caso em questão, o tornado. Aí vem outra necessária
explicação: o que é um tornado? De volta ao dicionário encontramos várias
definições. A que nos interessa aqui é o redemoinho intenso e violento em forma
de cone invertido que, girando de modo muito veloz, destrói quase tudo por onde
passa.
Arte pode ser
também a aptidão natural para realizar algo, perícia, talento ou habilidade
para fazer algo. Aqui iremos nos referir ao talento para criar tornados.
Arte pode
também se referir à criatividade humana que, sem intenções práticas, representa
as experiências individuais ou coletivas, por meio de uma interpretação ou
impressão sensorial, emocional, afetiva, estética etc. Criar tornados é uma
arte que se enquadra nessa definição, não há intensões práticas no ato e
pode-se chegar a interpretações emocionais.
Essas notas são
suficientes para referenciar a arte de criar tornados, então vamos logo a
algumas ações que podem ser realizadas, segundo o manual proposto pelo Vô
Ventura. Vamos às ações sugeridas:
Para se iniciar
nesta arte é preciso abrir espaços em sua mente para pensamentos incertos e
ações inesperadas: quanto mais inesperados e imprevisíveis melhor. A
imprevisibilidade é a alma do negócio, ou melhor, da arte.
É preciso parar
o tempo: tornados só aparecem depois de calmarias, naqueles momentos em que se
esquece o instante anterior aos acontecimentos. Dominar o tempo é um dos
requisitos dessa arte milenar. Os povos antigos eram mestres nela.
Não veja
televisão se deseja criar tornados, esses não acontecem quando você está
paralisado assistindo aqueles programas tediosos da TV. Os canais de televisão
são os principais manipuladores da mente dos candidatos à arte de criar
tornados.
Estimule o frio
na barriga, esse é um ótimo indicador de possibilidades de surgimento de novos
tornados.
Cante no
chuveiro, ou em qualquer outro lugar, sempre que tiver vontade. Se você canta
bem ou canta mal, não tem importância. A música cantada com reais sentimentos
irão criar tornados em algum lugar.
Se for do sexo
feminino sempre saia de casa bonita: de salto bem alto e roupas que lhe vestem
bem, sentindo-se a rainha da bala chita. Pode ser que escute assobios. Mas assobios
e bater de asas de borboletas provocam tornados em algum lugar do planeta,
segundo a teoria do caos.
Se for do sexo
masculino, assobie quando vir uma mulher com ar de felicidade caminhando na rua.
Mas não a incomode, assédio não produz tornados. O assédio produz ondas
gigantes capazes de naufragar navios.
Seja
incondicionalmente feliz: a felicidade provoca alterações orgânicas em algumas
pessoas de nossa vizinhança, alterações essas que aumentam a probabilidade de
surgimento de tornados exatamente por serem imprevisíveis (seja feliz por
querer). Pessoas felizes são completamente imprevisíveis, fundamental para a
arte de criar tornados.
Ponha um gosto
de amor na tua boca, nas tuas mãos, em teus gestos. O amor é essencial para a
criação de tornados, pois ele faz surgir aquela tempestade boa dentro da
gente.
Se caminha com
fé em si mesmo, bons tornados serão criados.
Você pode até
pensar que tornados são destruidores. Sim, mas sempre acabam e sempre é
possível reconstruir. Mas aí já é outra arte, a arte do recomeço, da
reconstrução. Depois do tornado, sempre seremos outra pessoa, em geral bem
melhor que a anterior. Portanto, segundo Vô Ventura, é melhor se esmerar na
arte de criar tornados.
Contato: pcventura@gmail.com
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