Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
‘’Fez-me
refém de tua loucura,
O grito
contido e o desejo omitido.
Preciso possuir teu corpo. Insanidade!
És tu a
primícia, que ofereço aos deuses,
És o
mistério, que toma o meu corpo,
Que invade
os meus desejos mais libidinosos,
Transbordando me dê vasta saudade.’’
Fabiane Braga
Lima
Das muitas sensações primevas e ancestrais, que podemos e sentimos, o medo do
desconhecido, é sem dúvidas a mais antiga e mais motivadora e, ao mesmo tempo,
a mais paralisante de todas as sensações. Luna, quando despertou do seu sono
profundo, por fim, um forte clarão cegou os seus frágeis olhos, da dramaturga,
obrigando a fechá-los novamente. E Luna, tentou levar as mãos aos olhos, mas
não conseguiu, tentou erguer a cabeça e também não conseguiu. Não era um
cansaço puro e simples, muito menos um esgotamento físico qualquer. Parecia que
uma poderosa força gravitacional, a empurrava para baixo a cada tentativa
folha. E a cada movimento, ela que fazia, a força gravitacional, a obrigava
recuar com veemência. Vencida por fim, Luna tateou, com as pontas dos dedos e
descobriu que estava em uma confortável cama, pois sentiu os lençóis de linho
egípcios. Luna moveu a cabeça, com dificuldades e pode sentir um confortável
travesseiro de penas de ganso.
Os olhos da dramaturga, de repente, começaram a aceitar a claridade e o espelho
no teto lhe deu as piores e as melhores sensações. Percebeu que estava nua, ela
percebeu que estava bem fisicamente e foram os melhores e os piores sentimentos
até então. O corpo de Luna, começou a emanar sensações, informações
fragmentadas, começaram a chegar sem avisos. Eram pequenas ondas, a princípio,
que se agigantavam. Eram ondas avassaladoras, de intensos prazeres e
satisfações físicas, que inundavam a confusa mente de Luna. E as palavras
sussurradas de Camilla, ecoaram nos recantos mais distantes, da mente da
dramaturga, naquela hora: — Bem vinda a minha teia, disse a aranha para a
mosca! — O clichê barato ecoou, através da máscara pálida da verdade.
Naquela hora negra, Luna não poderia reclamar de nada, do que tinha recebido, o
que ela estava procurando e acabou encontrando, o que pediu. E a dramaturga
teve certeza, que as informações, que faltava e precisava viriam com o tempo.
Prazeres e fortes sensações, na beira do mais profundo e mais negro de todos os
álgidos abismos. Ela queria viver a vida ao máximo, para o além do possível e
longe do imaginável no limitado mundo em vigília.
Luna
procurou e encontrou forças que procurava, conseguiu erguer a cabeça e viu o
que tanto procurava. Ela viu a si mesma, a poucos metros, um pouco além do
quarto em que estava. A dramaturga, estava vestindo um confortável roupão de
banho carmesim, ela estava segurando uma estilizada caneca rosa de café e os
vapores que emanavam da caneca, hipnotizaram Luna. Ela estava diante de uma
enorme janela de vidro, olhando para a imensidão sem fim do oceano, estava nas
alturas da Torre de Marfim e estava feliz, venerando a alvorada rubra. E de
repente ele apareceu, veio por trás dela, segurava uma estilizada caneca azul
marinho de café, os vapores intensos da caneca dele, se misturaram com os
vapores, da caneca de Luna. Ele também estava vestido, com um roupão amarelo,
que fazia par com o dela, ele abraçou Luna, afastou os cabelos sedosos e lhe
deu um terno beijo na nuca. A pele alvíssima dele, contrasta com a pele
amendoada dela, os longos e platinados cabelos lisos dele se misturaram com o
trigal cabelo liso perolado de Luna. Estavam felizes depois de uma noite de
amor.
(Fragmento
do livro Sono Paradoxal, de Samuel da Costa)
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
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