Por Dias Campos (São Paulo, SP)
Seja porque quisesse deixar um
legado universal, seja porque desejasse multiplicar sua fortuna para além do imaginável,
seja, enfim, porque nunca fora admirador da livre concorrência, o fato é que o Barão
de Barra Mansa, cafeicultor por profissão e químico e botânico por
diletantismo, há um bom tempo se debruçava sobre uma ideia no mínimo audaciosa
– criar o Café Definitivo.
Por esse termo, explicava em sua caderneta,
o Barão cobiçava produzir grãos que teriam o poder de transmitir a uma pessoa a
sensação de que sorvia o melhor dos cafés. Em outras palavras, agiria
diretamente nos receptores ligados ao paladar e ao olfato, “convencendo-os”, no
exato momento em que captassem os respectivos estímulos químicos, de que se
tratava da sua bebida ideal.
Sendo assim, pouco importaria se fulano já tivesse experimentado várias marcas
e afirmasse, sem a menor sombra de dúvida, que jamais abriria mão da que
escolhera como a de sua preferência. Da mesma forma, seria irrelevante se sicrano,
connaisseur que fosse, argumentasse
que a predileção por este ou por aquele produto dependeria da espécie cultivada,
do momento do plantio, do clima da região, da quantidade de irrigação, do tipo
de solo, e de outras tantas variáveis que interferem no sabor, no aroma e na
qualidade do café. Pois o comprador do Café Definitivo sempre se sentiria absolutamente
satisfeito.
O projeto, em si, não era dispendioso. Até porque, dinheiro não era
problema ao todo-poderoso, haja vista que, a partir de 1850, as exportações das
sacas para a Europa e para os Estados Unidos cresciam exponencialmente, fazendo
com que as fazendas do Vale do Paraíba fluminense chegassem a ser equiparadas a
verdadeiros palácios da opulência nas províncias. E a Fazenda Santo Elesbão, de
propriedade do Barão de Barra Mansa, era, sem dúvida, a que mais sobressaía.
O problema, pois, resumia-se em modificar as plantas que cultivava para
que gerassem sementes sui generis, as
únicas capazes de produzir uma “bebida arquetípica”. E para isto, ele usaria e
abusaria do conhecimento científico que adquirira.
De outra parte, tudo o que dissesse respeito a este ambicioso projeto
deveria ser encoberto pelo manto do sigilo absoluto, uma vez que, alcançado o
sucesso, o seu idealizador seria alçado ao patamar de o homem mais rico do
Brasil, quiçá do mundo!
Sendo assim, o Barão faria questão de preservá-lo até de sua esposa e
filha, que, como bem sabia, não eram propriamente exemplos de discrição.
No entanto, ambas se comportariam como verdadeiras cobaias, visto que,
como tinham o hábito de tomar café, mais cedo ou mais tarde suas feições e
comentários seriam os primeiros a revelarem o que o Barão tanto ansiava, os
deslumbres espontâneos, e essas reações o alertariam de que o sucesso enfim chegava.
– Desde que concebeu este sonho, o fazendeiro preferiu deixar da bebida, não só
para se manter isento quanto aos resultados, mas, também, porque, àquela época,
a azia já o queimava em seguida ao primeiro gole.
No entanto, mesmo com tantas precauções, o Barão achou interessante
ampliar o rol de “voluntários”, pois quanto maior o leque dos que sorveriam do
produto final, maiores as chances de serem notados aqueles deslumbramentos. Daí
que já pensava em enviar moleques para as fazendas próximas com a missão de
entregar cartas aos seus senhores, convidando-os para que viessem prosear,
saborear alguns quitutes, e tomar boas xícaras de café. De igual forma, também
achou interessante aumentar a frequência com que os saraus alegravam o casarão,
não apenas porque sua filha encontrava-se em idade casadoura, mas, também,
porque mais pessoas experimentariam o milagroso café.
Só que entre uma e outra experiências – tais como a adubação das mudas
com elementos químicos recém-descobertos ou os enxertos com ramos de plantas
alucinógenas – e a colheita dos grãos, a secagem, a torrefação, a moagem e, por
fim, os tão esperados primeiros goles, muito tempo decorreria, o que acarretava
ao fazendeiro uma angústia lancinante.
Ansiedade dribla-se com dedicação ao trabalho e muita disciplina, dizia
para si. E lá se ia para a estufa, adubar, enxertar, catalogar, meditar.
Passado algum tempo, e uma boa fração das tentativas começou a germinar.
O Barão não cabia em si de tanta felicidade. Seus olhos faiscavam diante
daquelas folhinhas que se mostravam verdadeiros diamantes. E já imaginava
comprar mais terras e escravos a fim de dobrar, que digo, de quadruplicar a produção!
A Baronesa e a Sinhazinha logo perceberam uma melhora radical no
comportamento do chefe da família. Esta, vendo o menor dos seus caprichos sendo
prontamente atendido; aquela, reacendendo os seus mais secretos desejos e sem nenhum
pudor.
O tempo passava conforme impõe a natureza. E dia a dia o Barão ia à
estufa examinar o seu tesouro. Se houvesse um único inseto a rondar algum
rebento, era perseguido sem tréguas e rapidamente eliminado; se verificasse o
que pareciam ser fungos, a planta era isolada e submetida a procedimento
adequado; e se suspeitasse que alguma gema precisava de estímulo ao
crescimento, pegava o violino e arriscava melodias do padre José Maurício.
Mesmo com todas essas cautelas, apenas quinze por cento dos brotos
acabaram vingando.
Era pouco, sem dúvida. Mas se ao final as plantas crescessem e,
frutificando, produzissem o almejado néctar, todo o tempo decorrido e toda a
dedicação dispensada teriam valido a pena.
Algumas plantas, porém, secaram depois de poucos meses; outras nada produziram;
outras, ainda, geraram sementes disformes e que foram logo desprezadas. E
apenas um único pé cresceu vigoroso, superou a altura esperada, floriu espetacularmente,
e gerou uma quantidade enorme de frutos.
Tamanhas e tão visíveis eram as discrepâncias daquele espécime que não
havia o que temer, o que desconfiar. Era claro que os céus premiavam a ciência
e o seu dedicado representante por meio daquele exemplar diferenciado. Agora
era aguardar só mais um pouco para que os grãos amadurecessem, fossem colhidos,
processados, e o precioso líquido, revelado ao mundo.
Tão entusiasmado e confiante ficou
o Barão que, negligenciando todos os rigores científicos que preconizam paciência,
achou por bem que seria mais do que justo comemorar, e em grande estilo. E
compartilhou com sua esposa a ideia de um grandioso sarau.
A Baronesa ficou maravilhada, não só porque adorava dançar, e fofocar,
mas, sobretudo, porque algum rapagão poderia cativar os olhos e o coração de
Sinhazinha. E com o aval do marido, pôs-se aos preparativos.
Por seu turno, o fazendeiro já se imaginava por entre os convivas. E a
cada brinde levantado, a cada charuto aceso, a cada valsa iniciada, a cada
poema declamado, tudo, enfim, aconteceria para louvá-lo em secreto e à sua
descoberta! E quando o voltarete começasse, tanto faria se perdesse ou ganhasse,
pois a melhor das cartas, a do sucesso meteórico, sabia-a muito bem escondida na
manga do seu destino.
A uma semana do sarau, e recebidas todas as confirmações dos convidados, o
próprio Barão já tinha colhido os últimos grãos que seu pé produzira. E para
espanto da Baronesa e de sua filha, do feitor e de alguns escravos que por ali
circulavam, ele mesmo os esparramara sobre um terreiro recém-construído; ele
pessoalmente os revolvera a fim de que secassem; e ele, em pessoa, recolheu,
ensacou, torrou e providenciou a moagem de suas pepitas.
Terminado todo esse trabalho – ele nunca soube o que eram calos nas mãos
– o fazendeiro teve algumas ideias que muito o agradaram, se bem que causariam certo
rebuliço, visto que quebrariam a etiqueta. Que tal se ele próprio fizesse as
honras e oferecesse o café recém-passado aos convivas? e que tal se as xícaras
não fossem servidas ao final, mas, sim, aos poucos, durante todo o evento? Desta
forma, poderia melhor observar as reações de um grande número de pessoas! Não
por isso que sua ansiedade só aumentava.
A Baronesa, que pelo comportamento anterior do marido chegou a suspeitar de
sua sanidade mental, achou essas inovações para lá de excêntricas. No entanto,
como seriam os detalhes que fariam do seu
sarau uma reunião ímpar, acabou concordando e de muito bom grado.
No dia do sarau, e logo pela manhã, o Barão chamou uma das cozinheiras e
lhe entregou um saco recheado do seu valiosíssimo pó. Disse que dele não se
desgrudasse sob pena de ir parar no tronco. Determinou, ainda, que deixasse preparadas
a bandeja de prata, as xícaras e o açúcar; e que a água se mantivesse bem aquecida,
pois, ao seu sinal, o café deveria ser prontamente coado. Em seguida, que o trouxesse
a fim de oferecerem aos convidados que ele indicaria.
Na hora aprazada, a elite assomava. E como ninguém quisesse ficar por
baixo, não havia carruagens sem palafreneiros, os castões das bengalas eram de
prata, e os patacões, de ouro, e as joias das damas reluziam mesmo na
escuridão. Podia-se mesmo afirmar que o sarau da Fazenda Santo Elesbão nada deveria
aos suntuosos bailes da corte, pois os músicos contratados mais de uma vez
tocaram para o imperador, não havia vinhos que não fossem franceses, e as
iguarias que seriam servidas eram idênticas às do último ágape celebrado no
Palácio Imperial.
A Baronesa desempenhava com esmero a sua nobre função de anfitriã, fosse
indicando às mucamas quem desejasse mais champanhe, fosse solicitando ao
maestro uma nova contradança, fosse, enfim, apimentando a expressão de quem quisesse
ouvir uma boa pilhéria.
Quanto ao Barão, vestia-se como toda a estirpe fluminense, que só faziam
importar o que de mais caro produzisse a alfaiataria da cidade luz.
Mas todos os olhos se voltavam para Sinhazinha, que, além de possuir uma
beleza estonteante, desfilava a última moda parisiense e ostentava um magnífico
conjunto de colar e brincos de brilhantes, o que refletiam o futuro dote e, por
conseguinte, faziam cintilar muitos olhares pretendentes.
A certa altura, quando o apetite dos mais idosos começava a ser saciado,
quando os jovens já se fartavam de tanto dançar, e quando as senhoras fofocavam
e riam à solta nos canapés, o Barão achou que o momento chegara. Dirigiu-se,
então, à cozinha e ordenou que o café fosse passado. E uma vez coado, a
responsável foi ao seu encontro.
Por uma questão de deferência, os primeiros agraciados seriam os
padrinhos de batismo da Sinhazinha, e que conversavam animadamente com o pároco
do vilarejo sobre a possível queda de um ministério.
É claro que a reação do trio foi idêntica – todos franziram as
sobrancelhas ante a inesperada quebra de etiqueta. Mas o Barão, matreiro que
fosse, já se tinha forrado, e foi logo dizendo tratar-se da última moda no Rio
de Janeiro. E como ninguém jamais ousaria desprezar tal novidade, a comadre recolheu
o leque e os cavalheiros puseram as taças de lado.
O fazendeiro teve ímpeto de rasgar elogios à sua descoberta, mas
conseguiu refrear a língua em nome da imparcialidade. Afinal, quanto menos
induzidos fossem, quanto maior fosse a espontaneidade das reações, mais certo se
sentiria quanto ao resultado positivo do seu projeto. – Lembrou, apenas, que
não os acompanharia por força da gastrite.
Após saudarem o dono da casa, e depois de adoçarem as respectivas bebidas,
os três se entregaram ao primeiro gole.
O Barão, se bem que se mantivesse
quieto, não conseguia camuflar o brilho nos olhos e o leve sorriso, enquanto
observava os velhos amigos, que retinham o líquido nas bocas.
Após engolirem, as reações ficaram mais evidentes. A comadre, cujas
sobrancelhas se tinham frisado, não conseguia dizer palavra, e apenas sorria; o
compadre, que meneara a cabeça para a direita e para a esquerda, entreabriu os
lábios, e olhava para o éter; e o pároco, depois de um delongado suspiro,
permitiu-se uma introspecção, enquanto fixava o anfitrião.
Como o Barão os intimasse com o semblante, os gaguejos começaram a
pipocar. E depois de se entreolharem, o trio acabou concordando que tomaram um
café no mínimo... exótico. E o felicitaram pela excelente safra.
O fazendeiro ficou sem saber o que
dizer, pois o que via e ouvia estava muito aquém do que imaginara. Chegou mesmo
a oferecer outras doses, no intuito de que melhor opinassem. Mas os três
recusaram polidamente, alegando, a comadre, que a bebida era por demais encorpada;
o compadre, que nunca tomara mais de uma xícara à noite; e o pároco, que se
abusasse, teria que se ver com a insônia.
O Barão agradeceu, insistiu para que aproveitassem a noite, pediu licença,
e puxou a escrava para um canto.
Questionada sobre se fizera algo de diferente ao passar o café, a pobre
moça garantiu que sempre fizera do mesmo jeito. E que nunca se queixaram do seu
café.
Encafifado, mandou chamar a Baronesa e a Sinhazinha.
E passados poucos minutos, ambas adentraram a cozinha, um tanto afoitas.
Indagado sobre o que acontecia, o Barão explicou que serviu o café que
cultivara para o compadre, sua esposa e o pároco. E que as reações não foram as
que ele esperava. Sendo assim, pediu que o provassem, e que fossem
absolutamente sinceras, pois o futuro da família estava em jogo.
Ressabiadas, e um tanto intimidadas, mãe e filha não tiveram alternativa.
E depois de adocicarem as bebidas, levaram o café às bocas.
A Baronesa não se aguentou e cuspiu ao longe o pouco que retivera!
Sinhazinha, por seu turno, também não se conteve, e vomitou o que ingerira no
almoço!
O fazendeiro esbugalhou os olhos! E mais estarrecido ficou quando ambas
começaram a despejar a realidade que ele jamais pensara ouvir. A bebida era
simplesmente horrível, intragável, abominável! um misto de água de lavadeira,
ferrugem e meias encardidas! E quando perguntado sobre se tudo não passava de
uma brincadeira de muito mau gosto, foi advertido de que nenhum de seus
convidados o aplaudiria.
O “cientista” ficou desconcertado. Não havia motivo para que sua família
estivesse mentindo. Daí que sentiu um frio na espinha ao imaginar o que experimentaram
(contidos) o compadre, sua esposa e o pároco. E começou a se questionar: Como
encararia os amigos de longa data? o que estariam pensando dele? sua amizade
ficaria abalada? teriam prevenido os demais convidados? deveria pôr a culpa na escrava
ou o melhor seria admitir que tudo não passara de um simples gracejo? estariam
passando mal, ou já teriam partido, afrontados e desfiando impropérios?
E como a Baronesa e a Sinhazinha dessem um tempo às reclamações, o Barão tentou
se justificar, alegando que algo teria dado errado no processo de produção, e
que, por isso, voltaria a servir o café tradicional, mas só ao término do sarau.
Pediu que não comentassem nada com ninguém; que se recompusessem e retornassem
para os convidados como se nada tivesse acontecido; e que evitassem topar com o
compadre, sua esposa e o pároco, pois é provável que estivessem “um tanto”
descontentes. Mas que ele os procuraria em seguida e explicaria esse tremendo
mal-entendido.
Depois de alguns minutos, tempo suficiente para que concatenasse as
ideais, o Barão retornou para o salão e foi ao encontro das infelizes cobaias.
Encontrou-as já recompostas, mas sem a alegria que lhes era peculiar. Explicou
que sua intenção fora a melhor possível, mas que, por infelicidade, o café que
separara tinha sido mal preparado, e que a escrava culpada seria duramente castigada.
O casal aceitou as explicações e aprovou a corrigenda. O pároco, contudo,
conclamou misericórdia. Ele, então, fazendo-se de cristão, acabou prometendo
que não a puniria.
O sarau varou a noite e foi um tremendo sucesso. A Baronesa estava
orgulhosa de si, sentindo-se invejada e satisfeita. Sinhazinha teve mais de um candidato
aos seus pés, sendo que não deixou de distribuir esperanças para todos. E o
Barão...
Mas o que teria dado de errado?! perguntava-se em pensamento, esparramado
na poltrona, no silêncio do gabinete. Será que algum vizinho mal intencionado descobriu
o seu projeto, cooptou o capataz e sabotou alguma fase bem debaixo das suas suíças?
Seria possível.
Não... Fora meticuloso ao extremo,
prevenindo-se sob todos os ângulos e não deixando uma só aresta que precisasse
ser aparada.
E depois de meditar por alguns minutos, a única resposta plausível a que
chegou foi a de que tudo não passara de uma provação a fim de testar a sua fé e
perseverança, justamente para que a vitória fosse ainda mais meritória.
O melhor que deveria fazer, portanto, seria ir dormir, refazer-se no sono,
e deixar para o dia seguinte o rever de todas as suas anotações. E foi o que
fez.
Na manhã seguinte, tomado logo o desjejum, o Barão se debruçou sobre sua
caderneta. Leu, releu e treleu tudo o que anotara. E nada pareceu equivocado,
temerário ou forçado.
Sendo assim, chegou a admitir que lhe faltassem conhecimentos para melhor
compreender e manipular os receptores ligados ao olfato e ao paladar. Mas se
recusou a aceitar que carecesse dos relativos à obtenção do sabor, do aroma e
da qualidade do seu café.
E quando já se dirigia para a
estufa decidido a fazer talhos no caule daquele pé experimental, visando a que
aumentasse a produção de frutos, foi surpreendido pela Baronesa que trazia um
grande envelope enviado por seu representante comercial nos Estados Unidos, e
que chegara no último paquete.
O fazendeiro retornou ao gabinete, trancou a porta, e abriu o envelope.
Havia uma carta e uma roseta com fita azul em que fora gravado o número 1.
Lendo a mensagem, o destinatário soube que seu café mereceu o primeiro lugar na
última Feira Mundial realizada em Nova Iorque, o que rendeu algumas notas nos
principais jornais daquela cidade e fez com que os importadores locais
disputassem à tapa a próxima safra. Terminava a missiva parabenizando-o pela
vitória, agradecendo a confiança nele depositada, e, como de praxe, aguardava
instruções.
É claro que o Barão ficou exultante. Em seguida, porém, viu-se em um
dilema. Se seu café tinha sido escolhido o melhor do mundo, e se o primeiro
resultado do seu projeto tinha sido um verdadeiro fiasco, não seria por demais
arriscado prosseguir com suas pretensões? Ora, se os futuros grãos fossem tão
ruins quanto os da primeira colheita, e se, por alguma infelicidade, este novo fracasso
vazasse, seria possível que os boatos voassem até os mercados ianque e europeu,
o que poria em dúvida a qualidade do seu produto e prejudicaria as exportações,
levando-o à bancarrota.
Não! Era preciso pôr um fim a esse risco! E o fazendeiro saiu do gabinete
determinado a destruir aquela aberração vegetal.
Mas quando entrou na estufa, portando um machado bem afiado, foi
surpreendido com um perfume indescritível, cujo aroma era totalmente diferente
de tudo o que já sentira! E ao olhar para o seu experimento, viu que estava
recamado de flores, e que estas eram bem maiores e muito mais vistosas e chamativas
que as da florada anterior.
Aproximou-se do pé de café, tomou de um das flores, sorveu todo aquele
bálsamo, e, como que embriagado, largou o machado e voou até Paris, cidade que
sabia ser o berço dos melhores, dos mais cobiçados e dos mais caros perfumes do
mundo.
E depois de reflexionar por alguns instantes, tempo esse em que reviu o
seu anseio por um legado universal, o seu desejo de multiplicar a fortuna, e o
seu desprezo pela livre concorrência, o Barão de Barra Mansa sentou-se, retirou
a caderneta da casaca, e rabiscou estas poucas palavras: O sonho do café ideal chega
ao fim. Mas o projeto do Perfume Definitivo apenas começa.
É o saber "escrever" que prende a leitura, isso não é para qualquer um. Muito bom.
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