quinta-feira, 1 de junho de 2023

O CAFÉ DEFINITIVO

Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

            Seja porque quisesse deixar um legado universal, seja porque desejasse multiplicar sua fortuna para além do imaginável, seja, enfim, porque nunca fora admirador da livre concorrência, o fato é que o Barão de Barra Mansa, cafeicultor por profissão e químico e botânico por diletantismo, há um bom tempo se debruçava sobre uma ideia no mínimo audaciosa – criar o Café Definitivo.

            Por esse termo, explicava em sua caderneta, o Barão cobiçava produzir grãos que teriam o poder de transmitir a uma pessoa a sensação de que sorvia o melhor dos cafés. Em outras palavras, agiria diretamente nos receptores ligados ao paladar e ao olfato, “convencendo-os”, no exato momento em que captassem os respectivos estímulos químicos, de que se tratava da sua bebida ideal.

Sendo assim, pouco importaria se fulano já tivesse experimentado várias marcas e afirmasse, sem a menor sombra de dúvida, que jamais abriria mão da que escolhera como a de sua preferência. Da mesma forma, seria irrelevante se sicrano, connaisseur que fosse, argumentasse que a predileção por este ou por aquele produto dependeria da espécie cultivada, do momento do plantio, do clima da região, da quantidade de irrigação, do tipo de solo, e de outras tantas variáveis que interferem no sabor, no aroma e na qualidade do café. Pois o comprador do Café Definitivo sempre se sentiria absolutamente satisfeito.

O projeto, em si, não era dispendioso. Até porque, dinheiro não era problema ao todo-poderoso, haja vista que, a partir de 1850, as exportações das sacas para a Europa e para os Estados Unidos cresciam exponencialmente, fazendo com que as fazendas do Vale do Paraíba fluminense chegassem a ser equiparadas a verdadeiros palácios da opulência nas províncias. E a Fazenda Santo Elesbão, de propriedade do Barão de Barra Mansa, era, sem dúvida, a que mais sobressaía.

O problema, pois, resumia-se em modificar as plantas que cultivava para que gerassem sementes sui generis, as únicas capazes de produzir uma “bebida arquetípica”. E para isto, ele usaria e abusaria do conhecimento científico que adquirira.

De outra parte, tudo o que dissesse respeito a este ambicioso projeto deveria ser encoberto pelo manto do sigilo absoluto, uma vez que, alcançado o sucesso, o seu idealizador seria alçado ao patamar de o homem mais rico do Brasil, quiçá do mundo!

Sendo assim, o Barão faria questão de preservá-lo até de sua esposa e filha, que, como bem sabia, não eram propriamente exemplos de discrição.

No entanto, ambas se comportariam como verdadeiras cobaias, visto que, como tinham o hábito de tomar café, mais cedo ou mais tarde suas feições e comentários seriam os primeiros a revelarem o que o Barão tanto ansiava, os deslumbres espontâneos, e essas reações o alertariam de que o sucesso enfim chegava. – Desde que concebeu este sonho, o fazendeiro preferiu deixar da bebida, não só para se manter isento quanto aos resultados, mas, também, porque, àquela época, a azia já o queimava em seguida ao primeiro gole.

No entanto, mesmo com tantas precauções, o Barão achou interessante ampliar o rol de “voluntários”, pois quanto maior o leque dos que sorveriam do produto final, maiores as chances de serem notados aqueles deslumbramentos. Daí que já pensava em enviar moleques para as fazendas próximas com a missão de entregar cartas aos seus senhores, convidando-os para que viessem prosear, saborear alguns quitutes, e tomar boas xícaras de café. De igual forma, também achou interessante aumentar a frequência com que os saraus alegravam o casarão, não apenas porque sua filha encontrava-se em idade casadoura, mas, também, porque mais pessoas experimentariam o milagroso café.

Só que entre uma e outra experiências – tais como a adubação das mudas com elementos químicos recém-descobertos ou os enxertos com ramos de plantas alucinógenas – e a colheita dos grãos, a secagem, a torrefação, a moagem e, por fim, os tão esperados primeiros goles, muito tempo decorreria, o que acarretava ao fazendeiro uma angústia lancinante.

Ansiedade dribla-se com dedicação ao trabalho e muita disciplina, dizia para si. E lá se ia para a estufa, adubar, enxertar, catalogar, meditar.

Passado algum tempo, e uma boa fração das tentativas começou a germinar. O Barão não cabia em si de tanta felicidade. Seus olhos faiscavam diante daquelas folhinhas que se mostravam verdadeiros diamantes. E já imaginava comprar mais terras e escravos a fim de dobrar, que digo, de quadruplicar a produção!

A Baronesa e a Sinhazinha logo perceberam uma melhora radical no comportamento do chefe da família. Esta, vendo o menor dos seus caprichos sendo prontamente atendido; aquela, reacendendo os seus mais secretos desejos e sem nenhum pudor.

O tempo passava conforme impõe a natureza. E dia a dia o Barão ia à estufa examinar o seu tesouro. Se houvesse um único inseto a rondar algum rebento, era perseguido sem tréguas e rapidamente eliminado; se verificasse o que pareciam ser fungos, a planta era isolada e submetida a procedimento adequado; e se suspeitasse que alguma gema precisava de estímulo ao crescimento, pegava o violino e arriscava melodias do padre José Maurício.

Mesmo com todas essas cautelas, apenas quinze por cento dos brotos acabaram vingando.

Era pouco, sem dúvida. Mas se ao final as plantas crescessem e, frutificando, produzissem o almejado néctar, todo o tempo decorrido e toda a dedicação dispensada teriam valido a pena.

Algumas plantas, porém, secaram depois de poucos meses; outras nada produziram; outras, ainda, geraram sementes disformes e que foram logo desprezadas. E apenas um único pé cresceu vigoroso, superou a altura esperada, floriu espetacularmente, e gerou uma quantidade enorme de frutos.

Tamanhas e tão visíveis eram as discrepâncias daquele espécime que não havia o que temer, o que desconfiar. Era claro que os céus premiavam a ciência e o seu dedicado representante por meio daquele exemplar diferenciado. Agora era aguardar só mais um pouco para que os grãos amadurecessem, fossem colhidos, processados, e o precioso líquido, revelado ao mundo.

 Tão entusiasmado e confiante ficou o Barão que, negligenciando todos os rigores científicos que preconizam paciência, achou por bem que seria mais do que justo comemorar, e em grande estilo. E compartilhou com sua esposa a ideia de um grandioso sarau.

A Baronesa ficou maravilhada, não só porque adorava dançar, e fofocar, mas, sobretudo, porque algum rapagão poderia cativar os olhos e o coração de Sinhazinha. E com o aval do marido, pôs-se aos preparativos.

Por seu turno, o fazendeiro já se imaginava por entre os convivas. E a cada brinde levantado, a cada charuto aceso, a cada valsa iniciada, a cada poema declamado, tudo, enfim, aconteceria para louvá-lo em secreto e à sua descoberta! E quando o voltarete começasse, tanto faria se perdesse ou ganhasse, pois a melhor das cartas, a do sucesso meteórico, sabia-a muito bem escondida na manga do seu destino.

A uma semana do sarau, e recebidas todas as confirmações dos convidados, o próprio Barão já tinha colhido os últimos grãos que seu pé produzira. E para espanto da Baronesa e de sua filha, do feitor e de alguns escravos que por ali circulavam, ele mesmo os esparramara sobre um terreiro recém-construído; ele pessoalmente os revolvera a fim de que secassem; e ele, em pessoa, recolheu, ensacou, torrou e providenciou a moagem de suas pepitas.

Terminado todo esse trabalho – ele nunca soube o que eram calos nas mãos – o fazendeiro teve algumas ideias que muito o agradaram, se bem que causariam certo rebuliço, visto que quebrariam a etiqueta. Que tal se ele próprio fizesse as honras e oferecesse o café recém-passado aos convivas? e que tal se as xícaras não fossem servidas ao final, mas, sim, aos poucos, durante todo o evento? Desta forma, poderia melhor observar as reações de um grande número de pessoas! Não por isso que sua ansiedade só aumentava.

A Baronesa, que pelo comportamento anterior do marido chegou a suspeitar de sua sanidade mental, achou essas inovações para lá de excêntricas. No entanto, como seriam os detalhes que fariam do seu sarau uma reunião ímpar, acabou concordando e de muito bom grado.

No dia do sarau, e logo pela manhã, o Barão chamou uma das cozinheiras e lhe entregou um saco recheado do seu valiosíssimo pó. Disse que dele não se desgrudasse sob pena de ir parar no tronco. Determinou, ainda, que deixasse preparadas a bandeja de prata, as xícaras e o açúcar; e que a água se mantivesse bem aquecida, pois, ao seu sinal, o café deveria ser prontamente coado. Em seguida, que o trouxesse a fim de oferecerem aos convidados que ele indicaria.

Na hora aprazada, a elite assomava. E como ninguém quisesse ficar por baixo, não havia carruagens sem palafreneiros, os castões das bengalas eram de prata, e os patacões, de ouro, e as joias das damas reluziam mesmo na escuridão. Podia-se mesmo afirmar que o sarau da Fazenda Santo Elesbão nada deveria aos suntuosos bailes da corte, pois os músicos contratados mais de uma vez tocaram para o imperador, não havia vinhos que não fossem franceses, e as iguarias que seriam servidas eram idênticas às do último ágape celebrado no Palácio Imperial.

A Baronesa desempenhava com esmero a sua nobre função de anfitriã, fosse indicando às mucamas quem desejasse mais champanhe, fosse solicitando ao maestro uma nova contradança, fosse, enfim, apimentando a expressão de quem quisesse ouvir uma boa pilhéria.

Quanto ao Barão, vestia-se como toda a estirpe fluminense, que só faziam importar o que de mais caro produzisse a alfaiataria da cidade luz.

Mas todos os olhos se voltavam para Sinhazinha, que, além de possuir uma beleza estonteante, desfilava a última moda parisiense e ostentava um magnífico conjunto de colar e brincos de brilhantes, o que refletiam o futuro dote e, por conseguinte, faziam cintilar muitos olhares pretendentes.

A certa altura, quando o apetite dos mais idosos começava a ser saciado, quando os jovens já se fartavam de tanto dançar, e quando as senhoras fofocavam e riam à solta nos canapés, o Barão achou que o momento chegara. Dirigiu-se, então, à cozinha e ordenou que o café fosse passado. E uma vez coado, a responsável foi ao seu encontro.

Por uma questão de deferência, os primeiros agraciados seriam os padrinhos de batismo da Sinhazinha, e que conversavam animadamente com o pároco do vilarejo sobre a possível queda de um ministério.

É claro que a reação do trio foi idêntica – todos franziram as sobrancelhas ante a inesperada quebra de etiqueta. Mas o Barão, matreiro que fosse, já se tinha forrado, e foi logo dizendo tratar-se da última moda no Rio de Janeiro. E como ninguém jamais ousaria desprezar tal novidade, a comadre recolheu o leque e os cavalheiros puseram as taças de lado.

O fazendeiro teve ímpeto de rasgar elogios à sua descoberta, mas conseguiu refrear a língua em nome da imparcialidade. Afinal, quanto menos induzidos fossem, quanto maior fosse a espontaneidade das reações, mais certo se sentiria quanto ao resultado positivo do seu projeto. – Lembrou, apenas, que não os acompanharia por força da gastrite.

Após saudarem o dono da casa, e depois de adoçarem as respectivas bebidas, os três se entregaram ao primeiro gole.

            O Barão, se bem que se mantivesse quieto, não conseguia camuflar o brilho nos olhos e o leve sorriso, enquanto observava os velhos amigos, que retinham o líquido nas bocas.

Após engolirem, as reações ficaram mais evidentes. A comadre, cujas sobrancelhas se tinham frisado, não conseguia dizer palavra, e apenas sorria; o compadre, que meneara a cabeça para a direita e para a esquerda, entreabriu os lábios, e olhava para o éter; e o pároco, depois de um delongado suspiro, permitiu-se uma introspecção, enquanto fixava o anfitrião.

Como o Barão os intimasse com o semblante, os gaguejos começaram a pipocar. E depois de se entreolharem, o trio acabou concordando que tomaram um café no mínimo... exótico. E o felicitaram pela excelente safra.

 O fazendeiro ficou sem saber o que dizer, pois o que via e ouvia estava muito aquém do que imaginara. Chegou mesmo a oferecer outras doses, no intuito de que melhor opinassem. Mas os três recusaram polidamente, alegando, a comadre, que a bebida era por demais encorpada; o compadre, que nunca tomara mais de uma xícara à noite; e o pároco, que se abusasse, teria que se ver com a insônia.

O Barão agradeceu, insistiu para que aproveitassem a noite, pediu licença, e puxou a escrava para um canto.

Questionada sobre se fizera algo de diferente ao passar o café, a pobre moça garantiu que sempre fizera do mesmo jeito. E que nunca se queixaram do seu café.

Encafifado, mandou chamar a Baronesa e a Sinhazinha.

E passados poucos minutos, ambas adentraram a cozinha, um tanto afoitas.

Indagado sobre o que acontecia, o Barão explicou que serviu o café que cultivara para o compadre, sua esposa e o pároco. E que as reações não foram as que ele esperava. Sendo assim, pediu que o provassem, e que fossem absolutamente sinceras, pois o futuro da família estava em jogo.

Ressabiadas, e um tanto intimidadas, mãe e filha não tiveram alternativa. E depois de adocicarem as bebidas, levaram o café às bocas.

A Baronesa não se aguentou e cuspiu ao longe o pouco que retivera! Sinhazinha, por seu turno, também não se conteve, e vomitou o que ingerira no almoço!

O fazendeiro esbugalhou os olhos! E mais estarrecido ficou quando ambas começaram a despejar a realidade que ele jamais pensara ouvir. A bebida era simplesmente horrível, intragável, abominável! um misto de água de lavadeira, ferrugem e meias encardidas! E quando perguntado sobre se tudo não passava de uma brincadeira de muito mau gosto, foi advertido de que nenhum de seus convidados o aplaudiria.

O “cientista” ficou desconcertado. Não havia motivo para que sua família estivesse mentindo. Daí que sentiu um frio na espinha ao imaginar o que experimentaram (contidos) o compadre, sua esposa e o pároco. E começou a se questionar: Como encararia os amigos de longa data? o que estariam pensando dele? sua amizade ficaria abalada? teriam prevenido os demais convidados? deveria pôr a culpa na escrava ou o melhor seria admitir que tudo não passara de um simples gracejo? estariam passando mal, ou já teriam partido, afrontados e desfiando impropérios?

E como a Baronesa e a Sinhazinha dessem um tempo às reclamações, o Barão tentou se justificar, alegando que algo teria dado errado no processo de produção, e que, por isso, voltaria a servir o café tradicional, mas só ao término do sarau. Pediu que não comentassem nada com ninguém; que se recompusessem e retornassem para os convidados como se nada tivesse acontecido; e que evitassem topar com o compadre, sua esposa e o pároco, pois é provável que estivessem “um tanto” descontentes. Mas que ele os procuraria em seguida e explicaria esse tremendo mal-entendido.

Depois de alguns minutos, tempo suficiente para que concatenasse as ideais, o Barão retornou para o salão e foi ao encontro das infelizes cobaias. Encontrou-as já recompostas, mas sem a alegria que lhes era peculiar. Explicou que sua intenção fora a melhor possível, mas que, por infelicidade, o café que separara tinha sido mal preparado, e que a escrava culpada seria duramente castigada. O casal aceitou as explicações e aprovou a corrigenda. O pároco, contudo, conclamou misericórdia. Ele, então, fazendo-se de cristão, acabou prometendo que não a puniria.

O sarau varou a noite e foi um tremendo sucesso. A Baronesa estava orgulhosa de si, sentindo-se invejada e satisfeita. Sinhazinha teve mais de um candidato aos seus pés, sendo que não deixou de distribuir esperanças para todos. E o Barão...

Mas o que teria dado de errado?! perguntava-se em pensamento, esparramado na poltrona, no silêncio do gabinete. Será que algum vizinho mal intencionado descobriu o seu projeto, cooptou o capataz e sabotou alguma fase bem debaixo das suas suíças? Seria possível.

 Não... Fora meticuloso ao extremo, prevenindo-se sob todos os ângulos e não deixando uma só aresta que precisasse ser aparada.

E depois de meditar por alguns minutos, a única resposta plausível a que chegou foi a de que tudo não passara de uma provação a fim de testar a sua fé e perseverança, justamente para que a vitória fosse ainda mais meritória.

O melhor que deveria fazer, portanto, seria ir dormir, refazer-se no sono, e deixar para o dia seguinte o rever de todas as suas anotações. E foi o que fez.

Na manhã seguinte, tomado logo o desjejum, o Barão se debruçou sobre sua caderneta. Leu, releu e treleu tudo o que anotara. E nada pareceu equivocado, temerário ou forçado.

Sendo assim, chegou a admitir que lhe faltassem conhecimentos para melhor compreender e manipular os receptores ligados ao olfato e ao paladar. Mas se recusou a aceitar que carecesse dos relativos à obtenção do sabor, do aroma e da qualidade do seu café.

 E quando já se dirigia para a estufa decidido a fazer talhos no caule daquele pé experimental, visando a que aumentasse a produção de frutos, foi surpreendido pela Baronesa que trazia um grande envelope enviado por seu representante comercial nos Estados Unidos, e que chegara no último paquete.

O fazendeiro retornou ao gabinete, trancou a porta, e abriu o envelope. Havia uma carta e uma roseta com fita azul em que fora gravado o número 1. Lendo a mensagem, o destinatário soube que seu café mereceu o primeiro lugar na última Feira Mundial realizada em Nova Iorque, o que rendeu algumas notas nos principais jornais daquela cidade e fez com que os importadores locais disputassem à tapa a próxima safra. Terminava a missiva parabenizando-o pela vitória, agradecendo a confiança nele depositada, e, como de praxe, aguardava instruções.

É claro que o Barão ficou exultante. Em seguida, porém, viu-se em um dilema. Se seu café tinha sido escolhido o melhor do mundo, e se o primeiro resultado do seu projeto tinha sido um verdadeiro fiasco, não seria por demais arriscado prosseguir com suas pretensões? Ora, se os futuros grãos fossem tão ruins quanto os da primeira colheita, e se, por alguma infelicidade, este novo fracasso vazasse, seria possível que os boatos voassem até os mercados ianque e europeu, o que poria em dúvida a qualidade do seu produto e prejudicaria as exportações, levando-o à bancarrota.

Não! Era preciso pôr um fim a esse risco! E o fazendeiro saiu do gabinete determinado a destruir aquela aberração vegetal.

Mas quando entrou na estufa, portando um machado bem afiado, foi surpreendido com um perfume indescritível, cujo aroma era totalmente diferente de tudo o que já sentira! E ao olhar para o seu experimento, viu que estava recamado de flores, e que estas eram bem maiores e muito mais vistosas e chamativas que as da florada anterior.

Aproximou-se do pé de café, tomou de um das flores, sorveu todo aquele bálsamo, e, como que embriagado, largou o machado e voou até Paris, cidade que sabia ser o berço dos melhores, dos mais cobiçados e dos mais caros perfumes do mundo.

E depois de reflexionar por alguns instantes, tempo esse em que reviu o seu anseio por um legado universal, o seu desejo de multiplicar a fortuna, e o seu desprezo pela livre concorrência, o Barão de Barra Mansa sentou-se, retirou a caderneta da casaca, e rabiscou estas poucas palavras: O sonho do café ideal chega ao fim. Mas o projeto do Perfume Definitivo apenas começa.

Um comentário:

  1. É o saber "escrever" que prende a leitura, isso não é para qualquer um. Muito bom.

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