Por Luiz Augusto Rocha do Nascimento (Brasília, DF)
As crianças entram em um mundo de mentiras
falando a verdade. Portanto, mentir é uma construção social, não um
determinismo humano. Assim, as crianças crescerão e aprenderão, passo a passo,
a omitir determinadas ideias, fatos, acontecimentos, dentre outras coisas. É um
processo de desaprender a falar a verdade, de mencionar o que se pensa e o que
se acha sobre tudo. É deixar de ser autêntico para ser sobrevivente.
Portanto, vimos que a mentira entrou no
mundo por uma necessidade humana, uma questão de omitir fatos. Não se trata
pura e simplesmente de se faltar à verdade por pura canalhice, por pura falta
de ética ou de decência. É uma determinação da própria evolução humana, pois,
como a Teologia mencionou, a Revelação se dá em ondas, em etapas. Por isso, nem
todos possuem o preparo para encarar a verdade, a saber de tudo
indiscriminadamente.
Moisés subiu ao Monte Sinais, no Êxodo, e
passou quarenta dias e quarenta noite em seu interlúdio com o Grande Arquiteto
do Universo, que é Deus. Ele, ao final desse período, trouxe para o povo as
Tábulas da Lei. Um decálogo de regras simples para guiar o Povo Escolhido, de
início, e a Humanidade, depois. As Leis vieram aos poucos, e seu conhecimento
não se deu de maneira geral. O conhecimento de seu conteúdo teve sua divulgação
em etapas.
Porém, apesar de trazer uma parcela de
Conhecimento para todos, Moisés trouxe mais conhecimento de sua jornada. No
entanto, os hebreus não estavam ainda prontos para ouvir esses vastos
ensinamentos. Por isso, Deus mandou seu emissário transmitir tudo isso apenas a
alguns poucos, sábios capazes de entender a Mensagem e prepara-la para
divulgação. Também por etapas.
O Mestre dos Mestres disse no Evangelho
que não deveríamos jogar pérolas aos porcos. Em uma interpretação livre, nem
tudo de valioso se deve dar a todos, pois nem todos possuem a capacidade de
apreender o que se dá. A beleza de uma pérola só terá verdadeiramente sua
apreciação para aqueles que serão dignos de entender sua beleza e apreciar o
seu valor. Senão, não haverá valor algum.
Daí virá que nem tudo é para ser dito, nem
tudo é para ser sabido. Haverá o tempo certo de se dizer, de se mostra, de se
revelar. Quando o momento chega, a verdade virá à tona e a humanidade saberá o
que estava oculto. A mentira, longe de algo feio ou perverso, possui seu papel
na vida da Humanidade. Ela passou a ser uma necessidade de avançar, um ponto
necessário para que, um dia, todos chegarão à Verdade.
Sobre o autor: Luiz Augusto Rocha do Nascimento é membro da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal, ALB/DF, Brasília, DF.
Nenhum comentário:
Postar um comentário