Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
MÃOS QUE SANGRAM
No sobrado ao lado
de minha casa, sempre escutava gritos, era um casal discutindo perto de seus
filhos, a esposa estava numa cadeira de rodas, com as pernas amputadas, devido
ao acidente de serviço.
Da janela de minha casa pude notar,
assim que seu esposo saia puxava sua cadeira de rodas pela rua e entrava na
casa de uma senhora.
E, as crianças
ficavam sozinhas por um bom tempo, também não frequentavam escola, o pai não os
deixavam estudar. Cheguei até ela, e perguntei: —Porque deixa seus filhos
sozinhos em casa. Assustada foi embora...
Certo dia, fiquei
sabendo que aquela senhora, era uma professora aposentada, foi então, que
descobri que estava estudando, e infelizmente as discussões com seu esposo não
cessaram.
Era um homem rígido
de pouco caráter! Podia ouvir seus gritos pelo quarteirão com sua esposa, que se
encontrava numa cadeira de rodas, e não conseguia se defender. Descobri que ela
estava tendo aulas com aquela senhora, na qual era uma professora, para que
depois, pudesse ensinar seus filhos.
Suas mãos
sangravam, pois, aquela cadeira de rodas era antiga! Havia tanto amor naquela mulher, seus filhos
estavam alfabetizados e logo frequentariam a escola como toda criança.
E, ali estava uma
guerreira, que nunca se deixou levar pela estupidez do esposo, com mãos
ensanguentadas, mas com alma serena. Nada impediu aquela mãe de alfabetizar os
filhos, nem mesmo suas pernas amputadas.
Um ano depois,
fiquei sabendo que seus filhos, estavam estudando e vivendo como toda criança
merece. Quanto ao homem, deixou a
família, esposa em uma cadeira de rodas, debilitada, filhos ainda pequenos,
pois nunca quis aceitar a verdade. Toda criança merece um estudo adequado!
DESPIU-ME
Despiu-me sem juízo, desenhou sob meu
corpo seus desejos mais ocultos, sua ânsia em querer se satisfazer! Saciou
minha sede, envolvendo-me em seu corpo másculo, devorou meus sentidos, em
desatino. Prendeu-me no seu íntimo, me fez sentir a tortura mais extasiante,
que inflamou minha carne devassa, em meio a gritos e gemidos.
Impregnou-me, com seu cheiro impuro, com
seu fogo sagrado, curou feridas da minha alma, invadiu-me toda, sem pedir
permissão, com sua essência me dominou.
Rendida, ensinou-me o verbo amar, e nos
deliciamos, nos lascivos prazeres libidinosos, envolvidos sob às estranhas de
nossa alma...!
PERCO-ME
Minhas lágrimas não
cessam, são lágrimas de dor, felicidade e ocultas de um poeta sonhador. Cada
palavra escrita é um alívio na alma. Entrego-me
intensamente em cada verso que flui em minha mente.
Cada poema ou
poesia, sou eu a protagonista! No meu silêncio me entrego a inúmeros desejos
omitidos e contidos que carrego. Vasta de tantos sentimentos, grito em versos.
Meus pensamentos e
gemidos na alma, só a minha escrita entende. Nunca o mundo entenderia o meu
pensar e sentir! Lá fora sou estranha, e minha carne inflama de dor.
E quem entenderia
essa vastidão de sentimentos!? Ninguém, apenas minha caneta e meus cadernos. Mesmo
que minhas mãos estejam calejadas de escrever, me sinto gratificada... No meu
versar, grito e declamo com a alma e coração...!
Fabiane Braga Lima é poetisa e
cronista em Rio Claro SP
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