Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para Miguel Maria da Costa e
Aristide Souza Maia
Em New Orleans, os sacos de
algodão estão cheios, pois já passa das onze horas da manhã. O sol a pino não
intimida aquele exército de corpos reluzentes. São Deuses de Ébano a cantar uma
doce canção. Que para o povo que está na outra margem do oceano de desigualdade
ainda não aprendeu a entoar.
Indo mais ao sul, no Rio de
Janeiro, bem próximo à praia, um bater de palma encanta quem passa por perto,
corpos elásticos voam ao som de um instrumento musical rústico.
Em África em um país, cuja
língua oficial veio a muito da Europa, imposta pelos colonizadores. Um jovem
fortemente armado e uniformizado na selva sonha com um futuro melhor, e vê seu
país livre do domínio do colonizador. Diante de um regimento estava impaciente
tentando articular as palavras em um discurso trêmulo.
No sul do Brasil um jovem
artista negro troca o dia pela noite ao cumprimentar os presentes. Está
lançando seu primeiro livro de poemas, ninguém parece notar o fato, pois estão
todos chocados com a dureza das palavras proferidas.
Um tripulante negro de um
navio mercante, que cruza os oceanos para e recorda da infância e juventude em
uma ilha perdida nas Antilhas. E no em quem ele teve que deixar para trás, para
cruzar a imensidão do mar. Conhecer o mundo era um dos seus sonhos, ainda jovem
sonhava em rodar o mundo e conhecer pessoas. Negro como a noite e de origem
humilde sabe que jamais comandaria o navio em que trabalha.
Um jovem negro de um país
desértico que queira ver a neve pela primeira vez. Agora sentado à mesa de um
café, ao norte no velho mundo no leste europeu, se espanta com a forma rude
como é tratado a fazer seu pedido.
Samuel da Costa é cronista e
funcionário público em Itajaí, SC.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
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