sexta-feira, 1 de julho de 2022

GINETE POR ACASO (1º Lugar FESTILENDA)

 Por Severino Moreira (Bagé, RS)

 

À tardinha, daquele quase final de dezembro ainda guardava o mormaço que ficara depois de um “solaço véio” bagual que deixara a gauchada assoleada durante todo o dia. São Pedro apesar de padroeiro do Rio Grande do Sul, ao que parece, não estava colaborando muito com aquela festa artística e campeira que acontecia na Chácara Bela Vista, em mais uma grande promoção do Grupo de Artes Nativas Campo Aberto.

 Eu, nessa ocasião dava andamento às atividades artísticas com um festival de intérpretes amadores que arremataria em uma apresentação do cantor Cristiano Quevedo, que na época estava em início de carreira, pois essa era uma das atividades que sempre cabiam a mim e aos amigos do Departamento Cultural organizar e, por consequência apresentar ao público que, diga-se de passagem, já era numeroso e por ser uma apresentação ao ar livre, essa gauchada se espalhava a campo fora, sentado no pasto, em pelegos, nos troncos das árvores e até mesmo pelos alambrados.

Estava no palco improvisado o terceiro ou quarto concorrente, daquela tarde, quando ouvi anunciarem nos alto-falantes da campeira o início de um concurso de tiro de laço, onde o prêmio ao vencedor seria uma novilha gorda e eu resolvi, de “supetão”, que ia ganhar essa novilha, afinal me criei na lida de campo, embora haja algum tempo arrinconado aqui pelo povo, ainda, sei atirar o laço e não sou dos mais maturrengos no lombo de um cavalo.

 Passei minhas atividades de apresentador ao meu amigo Sérgio Pires, e enveredei no rumo das mangueiras, decidido a ganhar a prova.

Acontece que, na verdade, eu não viera “aprecatado” para tal atividade, tanto que nem meu ruano trouxera, de maneira que consegui uma égua emprestada com Eron Torales, na época o capataz da Invernada campeira da entidade promotora da festa.

 Era uma égua bueníssima, bicho flor de campeiro, mas chegadinha a dar cria o pobre animal. Lhes digo, estava amojadinha, e era para aqueles dias que o índio estaria aumentando a sua cavalhada.

O dono ainda me gritou. Vai com jeito, a égua esta “prenha” e é uma eguínha mimosa.

Me orquetei nessa égua, preparei o laço e esperei na saída do brete, mas não sei se por maturrengueada de quem largou ou se por simples picardia, o que refugou do brete, não foi nenhum terneirote e sim, um touro mocho que de tão “munaia” que era, quando largava a pata no chão, sumiam os tuco-tuco a uma légua em da volta e o pior é que por “brabo” já saiu atropelando.

   A égua, conforme eu disse, era flor de campeira, nem bem o touro refugou já saiu pateando no lado.

Galopeou não mais que uns vinte metros e depois abriu para a direita e foi no justo momento que atirei o laço: Atirei e “pescociei o bicho” e para ficar mais linda a pataquada chamei na cincha.

Meu Deus do céu... Foi só um estouro.

O laço aguentou, porque era do Deponti, mas a pobre égua partiu ao meio e se foi o touro a campo fora, errando cabeça nas pessoas, pulando cerca e levando de arrasto os arreios com pedaços da égua, enquanto o resto do animal se debatia ali no pasto, deixando a gauchada de olhos arregalados com tudo o que acontecia.

Mas eu não me apertei. Fiquei a cavalo no potrilho e “comendo na espora”.

Não ganhei a tal novilha, mas tirei primeiro lugar em gineteada.     

Notaram que estou de bombacha nova?

Bueno. Eu explico, é que minha bombacha velha se inutilizou com os restos da placenta daquele potro.

 

 

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