Por Severino Moreira (Bagé, RS)
À tardinha, daquele quase final de dezembro ainda guardava o mormaço que
ficara depois de um “solaço véio” bagual que deixara a gauchada assoleada
durante todo o dia. São Pedro apesar de padroeiro do Rio Grande do Sul, ao que
parece, não estava colaborando muito com aquela festa artística e campeira que
acontecia na Chácara Bela Vista, em mais uma grande promoção do Grupo de Artes
Nativas Campo Aberto.
Eu, nessa ocasião dava andamento
às atividades artísticas com um festival de intérpretes amadores que arremataria
em uma apresentação do cantor Cristiano Quevedo, que na época estava em início
de carreira, pois essa era uma das atividades que sempre cabiam a mim e aos
amigos do Departamento Cultural organizar e, por consequência apresentar ao
público que, diga-se de passagem, já era numeroso e por ser uma apresentação ao
ar livre, essa gauchada se espalhava a campo fora, sentado no pasto, em
pelegos, nos troncos das árvores e até mesmo pelos alambrados.
Estava no palco improvisado o terceiro ou quarto concorrente, daquela
tarde, quando ouvi anunciarem nos alto-falantes da campeira o início de um
concurso de tiro de laço, onde o prêmio ao vencedor seria uma novilha gorda e
eu resolvi, de “supetão”, que ia ganhar essa novilha, afinal me criei na lida
de campo, embora haja algum tempo arrinconado aqui pelo povo, ainda, sei atirar
o laço e não sou dos mais maturrengos no lombo de um cavalo.
Passei minhas atividades de
apresentador ao meu amigo Sérgio Pires, e enveredei no rumo das mangueiras,
decidido a ganhar a prova.
Acontece que, na verdade, eu não viera “aprecatado” para tal atividade,
tanto que nem meu ruano trouxera, de maneira que consegui uma égua emprestada
com Eron Torales, na época o capataz da Invernada campeira da entidade
promotora da festa.
Era uma égua bueníssima, bicho
flor de campeiro, mas chegadinha a dar cria o pobre animal. Lhes digo, estava
amojadinha, e era para aqueles dias que o índio estaria aumentando a sua
cavalhada.
O dono ainda me gritou. Vai com jeito, a égua esta “prenha” e é uma
eguínha mimosa.
Me orquetei nessa égua, preparei o laço e esperei na saída do brete, mas
não sei se por maturrengueada de quem largou ou se por simples picardia, o que
refugou do brete, não foi nenhum terneirote e sim, um touro mocho que de tão
“munaia” que era, quando largava a pata no chão, sumiam os tuco-tuco a uma
légua em da volta e o pior é que por “brabo” já saiu atropelando.
A égua, conforme eu disse, era
flor de campeira, nem bem o touro refugou já saiu pateando no lado.
Galopeou não mais que uns vinte metros e depois abriu para a direita e
foi no justo momento que atirei o laço: Atirei e “pescociei o bicho” e para
ficar mais linda a pataquada chamei na cincha.
Meu Deus do céu... Foi só um estouro.
O laço aguentou, porque era do Deponti, mas a pobre égua partiu ao meio e
se foi o touro a campo fora, errando cabeça nas pessoas, pulando cerca e
levando de arrasto os arreios com pedaços da égua, enquanto o resto do animal
se debatia ali no pasto, deixando a gauchada de olhos arregalados com tudo o
que acontecia.
Mas eu não me apertei. Fiquei a cavalo no potrilho e “comendo na espora”.
Não ganhei a tal novilha, mas tirei primeiro lugar em gineteada.
Notaram que estou de bombacha nova?
Bueno. Eu explico, é que minha bombacha velha se inutilizou com os restos
da placenta daquele potro.
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