sábado, 1 de abril de 2023

ADEUS, CARNE!

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

O corpo esguio, e o andar rápido, em meio aos corredores e, ela não parecia se importar com o fato de os detentos estarem perfilados e, de cara para a parede, enquanto ela passava. O fato já não o intrigava mais, Maria da Saudade, com seus olhos verdes sedutores e seus quarenta e poucos anos de idade.

Já se foi, pouco mais de um ano que fizera sua primeira visita ao seu filho no cárcere. No primeiro dia ela ficou sabendo, como as coisas ali se procediam e ela ficou feliz e amargurada, ao mesmo tempo. Hoje, ela está especialmente feliz, pois estava enfim chegando o dia da soltura de seu filho e, amargurada de ainda ao vê-lo ali preso naquele inferno. E hoje, ao visitá-lo, foi o encontrá-lo amuado em seu cubículo.

– Filho, o que foi?

– Ora bolas, o que foi? – disse o jovem irritadiço – Quero sair deste inferno mãe! É que quero acertar umas continhas fora daqui...

          – Tu vais sair logo meu filho! – As palavras saíram em tom acalentador dos lábios de Maria.

            Ver o filho em tal estado, não era uma coisa que ela estava preparada. Mas, era sempre assim, todas as sextas-feiras, um recomeçar, uma agonia sem fim, uma vez por semana e todo o mês. A princípio, ela pensava que o filho morreria, em dois tempos naquele lugar infernal. Mas, logo soube que o comando criminoso, que domina o presídio, havia suspendido, todo e qualquer acerto de contas ali dentro. As broncas deveriam ser resolvidas, bem longe dali, do lado de fora. Isto devido à superpopulação de presídio.

– O advogado, disse que tu vai sair no mês que vem filho.

O que Maria da Saudade não sabia, era que o comando criminoso, que de fato manda no presídio, fizera uma acareação, entre seu filho e o Josué de Guimarães Travasso, o ‘’Nego preto’’, que fora preso logo após o filho da Maria cair na rua. O Patrão queira saber da bronca entre os dois elementos. E ele deixou bem claro, que as diferenças entre os dois seriam acertadas fora do presídio.

O Patrão ficou contente, por saber que quem dera o tiro que matou um casqueiro qualquer fora o Nego preto e o filho de Maria da Saudade ficou quieto durante todo o inquérito e o processo que o arrolou como homicida. O filho de Maria da Saudade assumiu uma crime que não cometera. E agora que o Nego Preto estava na rua, uma coisa não sai da cabeça do filho de Maria da Saudade.

***

Ao subir na ‘’ziquinha’’, Josué de Guimarães Travasso, vulgo Nego Preto, só pensava no lucro que teria à noite. Repassar sua cota de drogas e ficar de boa com o Trinta e oito. Mesmo preso Trinta e oito administrava os corres nas ruas e as bocas deveriam prestar contas, pois o chefe não aturava atrasos e desculpas.

Mas de repente, em sua mente criminosa, um pressentimento lhe invade a alma. Um mau presságio, e a figura do prego que estava pagando cadeia no seu lugar, vêm em sua mente. Preto não sabia se o comédia já estava para ser solto ou não. Vender a arma, para ele, foi uma tacada de mestre, justo a arma que usara para apagar aquele laranja, que lhe devia uma boa quantidade de craque.   

– Ligo ‘’pros’’ irmãos mais tarde, pra saber do lance! – Disse Josué para si mesmo. E ao chegar bem em frente, da escola onde estudava, parecia que séculos passaram desde a expulsão de Preto do colégio.

E aquele mau adágio lhe invade com toda a força. E ele não escutou o tiro da arma de fogo, que disparou em sua direção, que o derrubou da bicicleta, mas sentiu o ombro esquerdo arder em chamas. Atônito e atordoado, Nego preto, em sua confusão mental, se vira e, vê uma figura de uma mulher, que lentamente se aproxima. Seu andar era firme e esguio, seus olhos verdes e sem emoção alguma, a lhe fitar bem de perto. Josué de Guimarães Travasso, reconheceu a fisionomia da mulher, só não sabia de onde a conhecia. O Nego preto, que sentia o ombro queimar em brasas, viu a arma apontada a poucos centímetros de sua têmpora e, um brilho laranja esbranquiçado e uma fumaça branca. O odor de pólvora queimada ele não chegou a sentir. Mas, um forte impacto na cabeça o jogou para trás, e ele que sentia o ombro arder em brasas, já não sentia mais nada ao ser lançar ao chão..     


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