sábado, 1 de abril de 2023

NAS ENTRELINHAS

 Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

            Ah!... Como é difícil para mim, que sou prosador, versejar sobre a mulher. Falta-me, como escreveu Voltaire, o dom dos poetas.

            Mas se nasci sem esse carisma, nada me impede de tomá-lo emprestado. Daí me socorro de José de Alencar, quem melhor cantou as vozes das florestas brasileiras: “A mulher é uma flor que se estuda, como a flor do campo, pelas suas cores, pelas suas folhas e, sobretudo, pelo seu perfume.”

            Mas se é verdade que os poetas não se enganam quanto à divina fragrância que delas exala, o mesmo não se pode dizer quanto à sua origem. Neste sentido, se para Lessing “A mulher é a primeira obra do Universo”, para Gonçalves Dias ela se localiza no extremo oposto: “A mais perfeita das criaturas, porque foi a última que caiu das mãos do Eterno, quando ele quis completar o quadro variado e magnífico das suas maravilhas com a maior de todas elas.”

            Aposto que a justificativa para tamanha discrepância estaria no efeito personalíssimo que o divinal olor causa em cada espírito.

 Seja como for, ter sido a primeira ou a última obra na criação pouco importará aos olhos dos que transcendem a só contemplação da abóbada recamada, pois, como bem afirmou Víctor Hugo, “Nós olhamos as estrelas por dois motivos, porque são luminosas e porque são impenetráveis. Mas temos perto de nós uma luz bem mais doce e um mistério maior, a mulher.”

            E pegando esse gancho, creio que ninguém poderá contestar que “A mulher põe no mundo toda a poesia e toda a doçura”, como bem retratou Leon Daudet.

Quanto ao mistério, ouso afirmar, porém, e o faço com o auxílio da Condessa de Ségur, que pelo menos um deles já me foi revelado: “O homem pratica os grandes feitos. É a mulher que os inspira.”

Com efeito, devo tudo o que sou à minha única mulher, Mônica.

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