Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Das
figuras mais sisudas que conheci, foi, sem dúvida, a do Professor Vitorino
Nemésio. Suas eloquentes palestras, interessantíssimas, pecavam, quase sempre,
pelo rebuscado da frase, que o tornavam, muitas vezes, para os menos versados,
incompreensível.
Isso
não o impediu de se tornar popular, graças à simpatia, e principalmente à TV.
Certo
dia o nosso Maestro João Nobre assistia a uma aula de Vitorino Nemésio, e
tomado pelo sono e pela aridez, como o professor tratava a matéria, resolveu
levantar-se e sair.
Ia
a dirigir-se para a porta, quando o mestre o interroga, em tom de censura:
- Então vai sair?!
A
que João Nobre respondeu com toda a franqueza:
-
Não aguento mais… O Sr. Professor é um grande maçador!
No
dia imediato, refletindo na atitude, o maestro receou ser repreendido, e não
teve coragem de enfrentar o professor.
Decorrido
dias, como nada lhe dissessem, nem corresse atoarda, entre os estudantes,
compareceu, novamente às aulas.
Sentou-se
e ficou muito quietinho, de cabeça inclinada, a escutar o mestre.
De
súbito, Vitorino Nemésio, interrompe a exposição e voltando-se para o aluno que
abandonara a sala tão inesperadamente, disse:
-Pensei
no que falou e conclui que tem razão. Vou tentar ser menos pesado.
Era
assim Vitorino Nemésio.
Não
será necessário dizer, aos leitores portugueses, quem era o intelectual, já que
é sobejamente conhecido; mas como a crónica aparecerá, também, na imprensa
brasileira, vou reunir brevíssimos dados biográficos, deste eminente professor,
que foi membro da loja maçónica” A Revolta”.
Nasceu
nos Açores, na Praia da Vitória, em 19-12-1901. Foi Professor Catedrático da
Universidade de Lisboa. Educado no seio da Igreja Católica, aos poucos afastou-se.da
Fé. Tinha 21 anos de idade quando se tornou membro do cenáculo da loja
maçónica.
Cursou
Filologia Românica na Faculdade de Letras de Coimbra, com elevada
classificação. Escreveu várias obras literárias. Foi o intelectual mais
requisitado da sua época, e manteve, com sucesso, a rubrica: “Se bem me
lembro…”, na RTP.
Numa
quarta-feira da Semana - Santa de 1955, o Professor dirigiu-se ao reitor do
Seminário, D. Manuel Almeida Trindade, depois Bispo de Aveiro, e durante três
horas palestrou animadamente. No final, Vitorino Nemésio, abraçou-o. As
lágrimas corriam-lhe pelo rosto, em catadupa.
O
Catedrático, o conhecido intelectual, o “velho” republicano, o poeta famoso,
abraçara definitivamente o cristianismo.
Vitorino
Nemésio, que foi diretor do matutino “O Dia”, casou, em 1926, com Dona Gabriela
Monjardim Azevedo Gomes e é pai de Georgina, Jorge, Manuel e Ana Paula.
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