quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

SUÇUARANA

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)


Eu sempre quis ser
A negra musa ideal
Desnudada em múltiplos
Tons pastéis abstratos
A florir e povoar o fecundo
E nevoento imaginário
Do afro-aedo acidental
Em eviternas dores
Em seus decadentistas multiversos
Supra-reais
Que livres quedam ao chão
Pela da pena alabastrina
Sufocada na pós-modernidade
Liquefeita
***
Eu realmente sempre quis ser
Uma outra pessoa acre
E perdida que perambula pelas ruas
Em meio à multidão apologética
E não ficar aqui sozinha e sentada
Sempre quieta
E sempre escrevendo
E sempre compondo livres versos inúteis
Dulcificados pelos sabores rocios da solitude
Em cruéis tempos pandêmicos
***
Eu sempre quis ser
A mais que perfeita negra suicide-girls
Que em desespero
De ser o que não desejo ser
E vai modelar em total desalinho
Para um retratista qualquer
E ter a bem-sonante ilusão fluída
De ser um outro alguém
Para ter a imagem super-exposta em rede
Publicada em uma ufana revista eletrônica
Que ninguém lerá
***
Eu sempre quis ser
A mais bela negra ninfeia dos bosques
A mais que perfeita de todas
As mulheres-objeto
Enclausuradas na contemporaneidade fugidia
Ser de uso fruto de qualquer um
Sem ter qualquer tom de cinza
E não pertencer
A quem quer que seja

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