Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Hoje silencio todos os meus versos e rimas
Minha alma pede paz
E necessita se distanciar
Das ardências, ânsias, fúrias
Calo-me, pois preciso do silêncio
Fabiane
Braga Lima
Madalena Azumi, por fim, abriu os seus olhos cansados e demorou uma eternidade, para perceber onde estava. No alto, um imenso céu azul, sem nuvens, os grasnares de aves marinhas, uma brisa outonal e um forte cheiro de água salgada, anunciavam que estava no alto mar, ou perto dele pelo menos. Ela notou a presença de homens e mulheres uniformizados e caças de combate estacionados ao lado dela. Eram evidências concretas, que estava em um navio de guerra, um porta aviões.
Flashes contínuos, de uma vida remota, chegavam rápido e sem aviso algum. Era ela em um quarto, em uma cama enorme, com lençóis brancos de linho egípcio. Ela completamente despida, ao lado de uma bela mulher nua, uma negra corpulenta, de longos e bem tratados cabelos lisos dourados, olhos castanhos, pequenos e rasgados, vorazmente faminta por sexo e pelo prazer extremo.
Depois ela se viu criança, vagando a esmo por um vilarejo empobrecido, em um país, perdido em meia a montanhas. As pessoas do vilarejo, apontavam para ela com o dedo em riste, furiosos praguejavam em uma estranha língua, que ela não compreendia. No meio da rua, um homem idoso, de barbas longas e cabelos brancos, vestido como um sacerdote a pegando pelos braços e a entregou para um outro homem uniformizado, um militar.
Madalena se viu, um pouco mais crescida, em um prédio moderno, cheio de militares homens e mulheres e pessoas sisudas vestidas de branco usando máscaras cirúrgicas. Ela se viu em um enorme alojamento, com várias crianças, de várias etnias, eram crianças assustadas e chorosas. Uma senhora idosa vestida de branco, entrou no alojamento, bateu com força na face de uma menina negra, que não parava de chorar, as outras crianças para de chorar e se lamuriar. A mulher de branco, gritava alto, em um idioma, que Madalena não compreendia. Depois, Madalena estava em um pátio muito grande, ela estava perfilada com outras crianças um pouco mais velhas. E uma música tocava alto, era um hino marcial, um caça de combate, deu um voo rasante, um estrondo alto explodiu na mente de Madalena.
De volta ao tempo presente e de olhos bem abertos, Madalena Azumi estava de pé, na frente de duas colunas de militares, que estavam postados em posição de sentido. Madalena, reconheceu cada um dos homens e das mulheres de várias etnias e nacionalidades, eram todos oficiais de médias patentes e todos e todas ativos agentes de campo de vários serviços secretos. Madalena Azumi reconheceu todas e todos, ela sabia os nomes, as patentes e as origens de cada um deles.
Madalena ergueu a cabeça e olhou para frente, os oficiais de alta patente, eram comandantes de campos, que estavam sentados por detrás de uma mesa. Madalena Azumi os reconheceu, um era o Tenente-general Aristo Souza da Maia, estava vestido com seu uniforme hussardo angolano, o outro era o General da Divisão de infiltração Adérito Muteia com seu uniforme de gala moçambicano, o Major-general Aldo Maris com seu uniforme de gala russo e presidindo a mesa e por fim lá estava o Almirante de Esquadra Araquem Maximus com seu uniforme de gala russo. Todos experientes militares altamente condecorados e ativos em todo o globo.
Os militares de alta patente à mesa, estavam conversando muito baixo e animadamente. Madalena Azumi, contraiu o seu rosto, para poder escutar o que eles conversavam de forma tão amigável. Mas só fragmentos chegaram até ela, os nomes, Calibor, Yara e Marcus Wolf e as palavras, total triunfo e células nazistas dizimadas, chegam na mente de Madalena. O Almirante de Esquadra, se levantou e deu uma ordem unida para a tropa, em russo com um leve sotaque hispânico do caribe, os ocupantes da mesa se levantaram e ficaram em posição de sentido. E as duas filas de militares bateram os cascos e ficaram em posição de sentido.
Madalena não soube o porquê, mas caminhou no meio das duas colunas, os militares desembainharam e erguerem as suas espadas, conforme ela passava em revista à tropa. Madalena Azumi se aproximou da mesa e o condecorado almirante russo caminhou até ela. O Almirante de Esquadra Araquem Maximus, falou poucas palavras, que foram transmitidas em alto-falantes, dizeres que Madalena não entendeu, o Almirante de Esquadra, ergueu um estojo ricamente decorado, abriu, tirou uma medalha e pregou a medalha no peito de Madalena e deu um selo nos lábios de Madalena.
Madalena Azumi olhou para a reluzente medalha de ouro e percebeu que trajava um uniforme militar de gala, com a patente de Tenente-Coronel. A Tenente-Coronel Madalena Azumi, chegou os olhos e quis voltar a viver em uma outra realidade, mas não poderia.
Longe
dali, para além de oceanos cósmicos, Calibor se regozijava.
Fragmento do livro Em Perpétuos Ciclos, de Samuel da Costa, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
Argumento
de Clarisse Cristal é bibliotecária, contista, novelista e poetisa em Balneário
Camboriú, Santa Catarina.
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