quinta-feira, 1 de maio de 2025

UMA FLOR CHAMADA MARGARIDA

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

                                                                           Para Cheila Cristina Rita

 

Uma vida simples, bem ali no pé do morro, em uma pequena cidade. No fogão à lenha, uma chaleira avisa que a água está pronta para coar o café e lá fora a vida seguia normalmente. E ela nem sabia que dia da semana era naquele momento. Só sabia que lá fora, pessoas vestidas de negro, municiadas com negras velas fúnebres, em uma estranha procissão, ganham as ruas. Estavam a fazer muito barulho, ali bem perto e seu velho marido gritou do quarto: — Shara! Traz um café pro vô! — Que alívio! Chamou a neta e não eu! — Diz em resposta Adélia em voz baixa e olhando para o chão meneando a cabeça.

A senhora, de idade avançada, fez as seguintes reflexões para si: — Quem diria que, após tantos anos de convivência, muita luta, muita fome, filhos criados, netos e netas, bisnetos e bisnetas e agora é a solidão a dois. Justamente agora que temos um teto, graças a Deus! ’’  Adélia Caetano, com os seus setenta anos de idade e sua cor de ébano viu a vida passar de forma bem lenta. Vez ou outra um filho, uma filha ou os netos e netas, vem lhe fazer visitas rápidas ou mesmo passar um final de semana em sua humilde casa. Nesses breves períodos afasta-se a solidão.

E lá fora as notícias, dão conta que o mandatário local, não está mais no poder, coisas do mundo da política, dizem que ele roubou um monte de dinheiro do povo, coisas de políticos, coisas que não me meto diz para si mesma e para mais ninguém dona Delinha, como é chamada Adélia de forma carinhosa pelos seus vizinhos e familiares.

Fragmento do livro: Uma flor chamada margarida, de Samuel da Costa, contista, poeta, cronista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

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