Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para Cheila Cristina Rita
Uma vida simples, bem ali no pé do
morro, em uma pequena cidade. No fogão à lenha, uma chaleira avisa que a água
está pronta para coar o café e lá fora a vida seguia normalmente. E ela nem
sabia que dia da semana era naquele momento. Só sabia que lá fora, pessoas
vestidas de negro, municiadas com negras velas fúnebres, em uma estranha
procissão, ganham as ruas. Estavam a fazer muito barulho, ali bem perto e seu
velho marido gritou do quarto: — Shara! Traz um café pro vô! — Que alívio! Chamou
a neta e não eu! — Diz em resposta Adélia em voz baixa e olhando para o chão
meneando a cabeça.
A senhora, de idade avançada, fez as
seguintes reflexões para si: — Quem diria que, após tantos anos de
convivência, muita luta, muita fome, filhos criados, netos e netas, bisnetos e
bisnetas e agora é a solidão a dois. Justamente agora que temos um teto, graças
a Deus! ’’ Adélia Caetano, com os seus setenta anos de idade e sua
cor de ébano viu a vida passar de forma bem lenta. Vez ou outra um filho, uma
filha ou os netos e netas, vem lhe fazer visitas rápidas ou mesmo passar um
final de semana em sua humilde casa. Nesses breves períodos afasta-se a
solidão.
E lá fora as notícias, dão conta que o
mandatário local, não está mais no poder, coisas do mundo da política, dizem
que ele roubou um monte de dinheiro do povo, coisas de políticos, coisas que
não me meto diz para si mesma e para mais ninguém dona Delinha, como é chamada
Adélia de forma carinhosa pelos seus vizinhos e familiares.
Fragmento
do livro: Uma flor chamada margarida, de Samuel da Costa, contista,
poeta, cronista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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