terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

CARTA UNIVERSAL DA NAÇÃO NEGRA

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

 

Em 130 anos de abolição a igualdade social na vida da população negra não avançou em nada, cada vez mais é gritante a desigualdade. Essa desigualdade é visível em todos os setores. Somos em grande número no Brasil e, no entanto, insistem em acabar com a nossa história, com a nossa luta, com os nossos direitos, com a nossa dignidade. Na sua maioria somos pobres e quando mudamos de vida não recebemos méritos. Carregamos sempre os estereótipos de vagabundo, macaco, empregadinho, e por aí vai. Dentre 10% de pobres no Brasil 76% são negros, segundo as fontes do IBGE.

É a hora de mudanças, de lutarmos juntos. É sabido que aquele ou aquela com todo seu discernimento e consciência é um ser humano e como tal tem seus deveres e direitos, seja qual for a sua raça. A raça identifica cada indivíduo, seja por sua cor, etnia, origem e cultura, ao mesmo tempo em que é responsável pela criação e manutenção de um sistema desigual. A desigualdade social forma grupos, julgamentos precipitados e exclui pessoas. Na natureza humana cada indivíduo é encarado de forma diferente por serem exatamente diferentes, mas a aceitação é o processo que passa por décadas.

O negro é o que mais sofre com isso. Claro que outros grupos, sejam pela opção sexual, ou escolha de vida, também sofrem. Mas o negro carrega com sigo uma história pesada e mesmo depois de séculos acarreta danos a sua vida.

As variações de sua cor embora sejam bonitas, causam repulsa para muitos.

O discernimento que o mundo é uma pluralidade de pessoas, raças, cores e variantes sexualidades é algo lento. Talvez uma das coisas que ajudaria na construção do humano fosse esta, ver o outro e o mundo como um só. Uma conexão. A contradição disso tudo é que de olhos fechados somos todos iguais. Com perdão aos deficientes visuais... Sejamos, pois, cegos, para vermos o mundo realmente como é: uma pluralidade.

A discordância desse fato e não aceitação do ser diferente leva por décadas a existência do preconceito e acarreta ao negro uma imensa fome. E diferente da ambição pela matéria, o negro tem fome por outras coisas. A fome que o consome é a essência da sua dignidade. Fome por respeito, fome por justiça, fome por igualdade, fome pelo seu espaço na sociedade.

Por décadas calaram a real história sobre os negros e a escravidão africana. Hoje querem calar a voz de quem luta. Quando somos submetidos a torturas como fora no passado, a identidade nos roubada na época da escravidão e os dias atuais forçados a nos calarmos nós temos que unir forças e mostrar que não esmorecemos por nada. Temos que mudar o nosso cenário diante da sociedade. Todas as estatísticas sociais e econômicas no Brasil provam que a nossa população negra continua sendo discriminada. Em sua maioria não somos inclusos somos excluídos.

A nossa real história é ocultada por décadas. Sempre fomos os coitados e escravos, quando não, vagabundos. Mas as nossas origens vêm da África próspera e cheia de cultura, de uma população negra estruturada, sábia e cultural. Uma arte que não só representa como retrata os usos e costumes das tribos africanas. Arte que traz em todas as formas a figura humana, que identifica a preocupação com valores étnicos morais e religiosos. Uma cultura que ao chegar ao Brasil foi suprimida pelos colonizadores.

A colonização mudou toda a vida do negro. Está na hora das peças do tabuleiro se mover e o negro por fim ganhar essa luta. É hora da nossa liberdade sair do papel de fato. Merecemos o nosso espaço, somos muito mais que faxineiros, copeiros, varredores, lixeiros, guardas de shopping... Não que isso nos desvalorize. Até mesmo porque o trabalho dignifica o homem.

Mas bem sabemos que podemos ir muito mais além do que somos, do que sonhamos ou aquilo que a sociedade nos impõe.

Por muito tempo os africanos foram apresentados como um povo pacífico, nada contestador e pouco desenvolvido. E uma mística acerca dos negros foi criada. E hoje, a luta pela nossa dignidade tem sido a nossa guerrilha. E a exclusão, a escravidão atual.

Então no intuito de unirmos forças e prosseguirmos na caminhada, o Movimento Nação Negra Lusofonia, convoca a todos os guerreiros negros e todos aqueles que acham a causa justa e nobre a guerrear conosco com toda a sua honestidade.


Clarisse da Costa é poetisa, cronista e articulista em Biguaçu, SC

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

 

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