Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Em 130 anos de abolição a igualdade social na vida
da população negra não avançou em nada, cada vez mais é gritante a
desigualdade. Essa desigualdade é visível em todos os setores. Somos em grande
número no Brasil e, no entanto, insistem em acabar com a nossa história, com a
nossa luta, com os nossos direitos, com a nossa dignidade. Na sua maioria somos
pobres e quando mudamos de vida não recebemos méritos. Carregamos sempre os
estereótipos de vagabundo, macaco, empregadinho, e por aí vai. Dentre 10% de pobres
no Brasil 76% são negros, segundo as fontes do IBGE.
É a hora de mudanças, de lutarmos juntos. É sabido
que aquele ou aquela com todo seu discernimento e consciência é um ser humano e
como tal tem seus deveres e direitos, seja qual for a sua raça. A raça
identifica cada indivíduo, seja por sua cor, etnia, origem e cultura, ao mesmo
tempo em que é responsável pela criação e manutenção de um sistema desigual. A
desigualdade social forma grupos, julgamentos precipitados e exclui pessoas. Na
natureza humana cada indivíduo é encarado de forma diferente por serem
exatamente diferentes, mas a aceitação é o processo que passa por décadas.
O negro é o que mais sofre com isso. Claro que
outros grupos, sejam pela opção sexual, ou escolha de vida, também sofrem. Mas
o negro carrega com sigo uma história pesada e mesmo depois de séculos acarreta
danos a sua vida.
As
variações de sua cor embora sejam bonitas, causam repulsa para muitos.
O discernimento que o mundo é uma pluralidade de
pessoas, raças, cores e variantes sexualidades é algo lento. Talvez uma das
coisas que ajudaria na construção do humano fosse esta, ver o outro e o mundo
como um só. Uma conexão. A contradição disso tudo é que de olhos fechados somos
todos iguais. Com perdão aos deficientes visuais... Sejamos, pois, cegos, para
vermos o mundo realmente como é: uma pluralidade.
A discordância desse fato e não aceitação do ser
diferente leva por décadas a existência do preconceito e acarreta ao negro uma
imensa fome. E diferente da ambição pela matéria, o negro tem fome por outras
coisas. A fome que o consome é a essência da sua dignidade. Fome por respeito,
fome por justiça, fome por igualdade, fome pelo seu espaço na sociedade.
Por
décadas calaram a real história sobre os negros e a escravidão africana. Hoje
querem calar a voz de quem luta. Quando somos submetidos a torturas como fora
no passado, a identidade nos roubada na época da escravidão e os dias atuais
forçados a nos calarmos nós temos que unir forças e mostrar que não esmorecemos
por nada. Temos que mudar o nosso cenário diante da sociedade. Todas as
estatísticas sociais e econômicas no Brasil provam que a nossa população negra
continua sendo discriminada. Em sua maioria não somos inclusos somos excluídos.
A nossa real história é ocultada por décadas.
Sempre fomos os coitados e escravos, quando não, vagabundos. Mas as nossas
origens vêm da África próspera e cheia de cultura, de uma população negra
estruturada, sábia e cultural. Uma arte que não só representa como retrata os
usos e costumes das tribos africanas. Arte que traz em todas as formas a figura
humana, que identifica a preocupação com valores étnicos morais e religiosos.
Uma cultura que ao chegar ao Brasil foi suprimida pelos colonizadores.
A colonização mudou toda a vida do negro. Está na hora
das peças do tabuleiro se mover e o negro por fim ganhar essa luta. É hora da
nossa liberdade sair do papel de fato. Merecemos o nosso espaço, somos muito
mais que faxineiros, copeiros, varredores, lixeiros, guardas de shopping... Não
que isso nos desvalorize. Até mesmo porque o trabalho dignifica o homem.
Mas bem
sabemos que podemos ir muito mais além do que somos, do que sonhamos ou aquilo
que a sociedade nos impõe.
Por muito tempo os africanos foram apresentados
como um povo pacífico, nada contestador e pouco desenvolvido. E uma mística acerca
dos negros foi criada. E hoje, a luta pela nossa dignidade tem sido a nossa
guerrilha. E a exclusão, a escravidão atual.
Então no intuito de unirmos forças e prosseguirmos
na caminhada, o Movimento Nação Negra Lusofonia, convoca a todos os guerreiros
negros e todos aqueles que acham a causa justa e nobre a guerrear conosco com
toda a sua honestidade.
Clarisse da Costa é poetisa, cronista e articulista em Biguaçu, SC
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
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