terça-feira, 1 de março de 2022

A COLINA DE ROBERTO

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)


Sempre na segunda semana de janeiro, justamente na quinta-feira, como hoje, é feita a Lavagem do Bonfim, inicialmente era uma festa religiosa, onde candomblé e catolicismo se uniam  para fazer umas das mais tradicionais lavagens da Bahia, a Lavagem do Senhor do Bonfim.
Inicialmente quando juntou o religioso ao profano, chamavam de “A Festa dos Coroas” mas  a coisa foi se popularizando, tomando grandes proporções, que é conhecida até internacionalmente, nessa época de verão, é muita gente vindo ver.
Apesar da pandemia, ainda irão  uns teimosos que regado à muita folia, usam  como desculpa para segurar  uma “loira gelada”  com sua vestimenta tradicionalmente branca...
Não é por tudo isso que meu amigo Roberto, que veio do Rio Grande do Sul, utilizou esse subterfúgio para ir à Colina Sagrada à pé, comigo ?
Chegando do Sul, a pouco tempo, hospedado na casa da minha vizinha, aproveitou o ensejo para ir, onde eu era o cicerone, pois o cara não conhecia nada, não sabia dos percalços e dos detalhes de segurança.
Mesmo sem saber de nada disso, ainda potencializou sua inocência com o chamado “roupinol” que era uma bebia artesanal, feita de um monte de coisa que a gente nem imagina.
Eu o desaconselhei, beber  algo  que a gente não tem nem ideia...  mas o homem insistiu, saiu com a dita cuja na mão, uma garrafa de uma “bomba”  desconhecida...
Eu sei que ele nem chegou à metade  do litro que era  literalmente uma embalagem de plástico, daquelas que guardam álcool líquido...
A cada gole o cara pirava, desandou a paquerar todo mundo que passava, lá na Colina começou a claudicar nos passos, se arrastando...  quanto  mais se arrastava, mais bebia, quanto mais bebia, mas paquerava...
Ele via que era mulher, já era! Poderia ser de qualquer natureza, inclusive as acompanhadas, ele ia encima, eu não sabia mais o que fazer,  não queria largar aquele troço, não sabia andar na cidade, portanto  não poderia abandoná-lo à própria sorte, então quando o ébrio  investia nas mulheres acompanhadas, os seus respectivos namorados ou maridos, iam para cima dele a fim de  querer esmurrá-lo.
Eu interferia sempre com a mesma frase:
- Olhe o estado desse homem, ele não está sabendo o que faz está se arrastando, você vai querer bater num cara desses?
Sorte que as pessoas viam e compreendiam, porque se saísse murro, ele ia apanhar sozinho!
Quando não tinha mais jeito, eu o  chamei para retornar para casa, caminhando, pois o trânsito estava interditado  por causa do evento.
O dito cujo saiu se arrastando de lá até aqui na nossa morada, uns oito quilômetros, mesmo assim durante o percurso não largava a “mardita” saiu paquerando tudo pela frente, um verdadeiro horror, um trapo se arrastando com a garrafa na mão paquerando, com  aquele bafo etílico...
Quando chegamos aqui, ele estava com a chave do seu apartamento, que a quebrou ao tentar abrir a  porta, nisso  já era  noite, não tendo como entrar em contato, com a sua irmã, ficou ali mesmo, escornado no tapete de entrada, chegando até a dormir.
No outro dia, apareceu como se não tivesse acontecido nada, mas até hoje eu não esqueço  dessa grande lição, que Colina Sagrada com Roberto, não tem condição. 

 

 

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