terça-feira, 1 de março de 2022

ANGELINA

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

O sargento Lopes escuta ao longe o som devastador das ondas a bater nas pedras. E o cheiro da maresia a lhe invadir as narinas e ele não pode deixar de pensar na infância pobre. Para o encontro com o genro tinha o policial militar o seu discurso mais que pronto: ‘’– Canalha, maldito, calhorda!’’ Diz Lopes para si mesmo, agora diante do genro, um branco total toma a mente do homem que um dia jurou defender a lei e a sociedade, mas a ideia de matar o jovem diante dele de repente lhe vem à cabeça, um lampejo apenas.

– Angelina minha filha, vem aqui, quero que tu também escutes o que eu tenho pra dizer. – Diz o policial militar em tom paternal para a filha que ainda permanecia no banco de passageiros do carro a poucos metros dele –. Olha rapaz, tive que emancipar a minha filha pra ela poder casar contigo – O policial militar para e retoma o fôlego, pois tinha que continuar – Agora que ela tá grávida, tu me aprontas uma deste rapaz. Vender a casa que comprei e mobiliei para vocês dois morarem e queimar as roupas do teu filho, que sequer nasceu ainda! Não vou te prender agora rapaz, mas creio que tu vai parar em cana logo e braba, bem logo rapaz! – O velho sargento se recusava em dizer o nome do genro.

Desde que foi apresentado aquele jovem rapaz, o sargento teve um pressentimento nada agradável! Não pelo fato dele ser negro, pois importava sim, o policial não gostava de negros, mas algo soava estranho demais. Agora diante daquele indivíduo estranho diante dele, as coisas pareciam se encaixar.

E de fato, poucos dias se passaram após esta conversa com André de Sousa Andrade. E André de Sousa Andrade que nunca cometera um ato ilegal na vida, foi preso após um assalto mal sucedido. E em sua nova residência foram encontrados armas, mercadorias roubadas e drogas.


Samuel da Costa é contista em Itajaí, Santa Catarina.

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br              

 

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