Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
O sargento Lopes escuta ao
longe o som devastador das ondas a bater nas pedras. E o cheiro da maresia a
lhe invadir as narinas e ele não pode deixar de pensar na infância pobre. Para
o encontro com o genro tinha o policial militar o seu discurso mais que pronto:
‘’– Canalha, maldito, calhorda!’’ Diz Lopes para si mesmo, agora diante do
genro, um branco total toma a mente do homem que um dia jurou defender a lei e
a sociedade, mas a ideia de matar o jovem diante dele de repente lhe vem à cabeça,
um lampejo apenas.
– Angelina minha filha, vem
aqui, quero que tu também escutes o que eu tenho pra dizer. – Diz o policial
militar em tom paternal para a filha que ainda permanecia no banco de
passageiros do carro a poucos metros dele –. Olha rapaz, tive que emancipar a
minha filha pra ela poder casar contigo – O policial militar para e retoma o
fôlego, pois tinha que continuar – Agora que ela tá grávida, tu me aprontas uma
deste rapaz. Vender a casa que comprei e mobiliei para vocês dois morarem e queimar
as roupas do teu filho, que sequer nasceu ainda! Não vou te prender agora
rapaz, mas creio que tu vai parar em cana logo e braba, bem logo rapaz! – O
velho sargento se recusava em dizer o nome do genro.
Desde que foi apresentado
aquele jovem rapaz, o sargento teve um pressentimento nada agradável! Não pelo
fato dele ser negro, pois importava sim, o policial não gostava de negros, mas
algo soava estranho demais. Agora diante daquele indivíduo estranho diante
dele, as coisas pareciam se encaixar.
E de fato, poucos dias se
passaram após esta conversa com André de Sousa Andrade. E André de Sousa
Andrade que nunca cometera um ato ilegal na vida, foi preso após um assalto mal
sucedido. E em sua nova residência foram encontrados armas, mercadorias roubadas
e drogas.
Samuel da Costa é contista em
Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
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