terça-feira, 1 de março de 2022

JOGOS DE RELAÇÃO

Por Elisa Augusta de Andrade Farina (Teófilo Otoni, MG)

 

 O século XXI caminha a passos largos e no seu bojo as tecnologias vão cada vez mais se aprimorando. A era da informação dos multimeios é a realidade que leva as pessoas a procurarem se informar a seu respeito. Por mais incrível que pareça, nunca tivemos uma situação tão caótica na comunicação interpessoal.

O que se falava "tete-a-tete", hoje se clica na internet, sem o famoso "olho no olho", uma verdadeira simulação de sentimentos, ocultando a verdade que hoje é quimera dos " sentimentaloides" (aqueles que prezam a ética e a boa convivência).

Os relacionamentos vão de mal a pior entre os homem e mulher, silêncio doloroso e persistente entre pais e filhos, clima pesado entre alunos e professores. Todos nós desastrados, ora tolhidos, ora dissimulados e na maior parte do tempo, mentindo uns aos outros.

Estamos assistindo impassíveis a agonia da verdade, deixando a falsidade campear livre, fazendo vítimas entre os inocentes e ingênuos. A civilização pós-moderna se firma cada vez mais no egoísmo, na vaidade, numa total indiferença: tudo para mim, para a satisfação do meu ego e o próximo que se dane!

O ser humano é incapaz de manter uma relação de amizade verdadeira, em compensação a maior relação se dá em sua tela de computador, seu círculo social resume-se no Instagram, Facebook ou no WhatsApp, etc.

As fofocas, o exibicionismo, a falta de privacidade, as imaturidades virtuais vilipendiam o tempo e as verdadeiras emoções do encontro face a face.

A verdade, onde se encontra? Nesse mundo de faz de conta está mais distante, marcada de dependência psicológica e afetiva, de ciúmes desvairados, de insegurança e traições virtuais, de promiscuidades e baladas regadas a bebidas, sexo, tirando a sanidade mental de todos. Nunca fomos tão frágeis, carentes e inseguros, a angústia é o marco das nossas relações inter e intrapessoais.

Cadê o olho no olho e a sabedoria de dizer "errei", "não sei", "não posso”, “não quero". Quanto mais roupa de grife, tatuagens, corpo sarado, imagem narcísica, maior a baixa autoestima, menos a paz de espírito, maior a nossa fragilidade. A espontaneidade faz parte de um passado, a nossa sociedade nos imputa uma "respeitabilidade" falsa, nos adestra como animais de circo para falar o que não pensamos, expressar o que não sentimos e fazermos o que não desejamos.

Vivemos em contraposição, uma era conflituosa nas nossas relações matrimoniais, na criação e no cuidado dos nossos filhos, nas escolas, no trabalho e entre as demais nações.

Dia virá em que as pessoas buscarão de fato a capacidade de descomplicar os atos que as impedem de pensar, amar, sentir e agir, tendo a aptidão de na maior parte do tempo, falarem o que pensam, expressarem o que sentem e de fazerem o que desejam, resgatando desta forma a busca da verdade.

O sonho de um tempo em que a energia do pensamento seja transmissível, nos tornando mais honestos, habita o recôndito do nosso ser, nos impulsionando a viver em paz, sem dissimulações, simplificando a nossa vida e as nossas relações de fato.

 

 

Sobre a autora: Elisa Augusta de Andrade Farina, é Professora, Escritora, Poetisa, Contadora de histórias, e Presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. 

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