sábado, 1 de outubro de 2022

COTIDIANO: A CRECHE

 Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

 

Lia é minha única filha. Coloquei-a, com os seus seis meses de idade na creche. Mesmo assim, todos os dias foram e são difíceis deixá-la aos cuidados de gente estranha. Chora muito, se joga no chão, antes de entrar. É difícil para mim ver a minha filha pequena naquele estado, chorando compulsivamente. Mas, eu preciso trabalhar, afinal a minha pequena menina precisa de mim.

E, assim é nossa rotina, por anos. Um dia resolvi ir buscá-la na creche um pouco mais cedo. Chegando lá percebi que a monitora gritava com Lia. Desesperada, Lia chorava alto. Tirei a minha filha daquele pesadelo, fiz isso sem olhar para trás.

Fomos para casa, mas meu instinto dizia, gritavam na verdade, que algo estava acontecendo de muito errado. Minha filha já tinha cinco anos de idade e nunca falou, vivia quieta pelos cantos.

No outro dia, como de costume, fui levá-la à creche. Só que dessa vez resolvi ficar um pouco mais. Para minha dor! Vi minha filha ali sofrendo abusos psicológicos por parte de uma monitora da creche.

Então entrei, peguei a minha filha e fomos a uma delegacia. Chegando na delegacia, sofri um grande descaso. Um policial de meia, mal encarado me atendeu,  pediu para eu preencher uma ficha, fui enviada para uma longa fila de espera. Depois de horas de espera não nos atenderam, resolvi ir embora, eu e a minha pequena!

Logo deduzi, na verdade eu sabia, era por eu ser mãe solteira. Chorei muito, logo depois levei minha filha para casa.

          Então, eu resolvi tirá-la daquela creche! Mas tudo isso me ensinou uma coisa. Sendo eu mulher e mãe solteira, o preconceito é bem maior, e fico impotente pelo fato de a filha ter sido violentada psicologicamente. Para mim era esse o motivo de Lia não falar, me senti culpada.

         Tudo isso me fez vivenciar o descaso, sendo uma mãe solteira e sem apoio de mais ninguém. Eu me senti impotente diante de tudo e principalmente diante das  autoridades constituídas.

     Quanto a malfadada creche!  Eu me perguntava:  — Por que com a minha filha!? Por que tanta maldade!?  Qual a razão desse preconceito por ser uma mãe solteira?

Minha filha  foi criada com muito amor. Então o porquê disso!? E por fim chego a uma conclusão, os preconceitos existem há muito tempo! Eu nunca quis enxergar!

 

 

 

Fabiane Braga Lima é poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

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