Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Lia é minha única filha. Coloquei-a, com os seus
seis meses de idade na creche. Mesmo assim, todos os dias foram e são difíceis deixá-la
aos cuidados de gente estranha. Chora muito, se joga no chão, antes de entrar.
É difícil para mim ver a minha filha pequena naquele estado, chorando
compulsivamente. Mas, eu preciso trabalhar, afinal a minha pequena menina
precisa de mim.
E, assim é nossa rotina, por anos. Um dia resolvi
ir buscá-la na creche um pouco mais cedo. Chegando lá percebi que a monitora
gritava com Lia. Desesperada, Lia chorava alto. Tirei a minha filha daquele
pesadelo, fiz isso sem olhar para trás.
Fomos para casa, mas meu instinto dizia, gritavam
na verdade, que algo estava acontecendo de muito errado. Minha filha já tinha
cinco anos de idade e nunca falou, vivia quieta pelos cantos.
No outro dia, como de costume, fui levá-la à
creche. Só que dessa vez resolvi ficar um pouco mais. Para minha dor! Vi minha
filha ali sofrendo abusos psicológicos por parte de uma monitora da creche.
Então entrei, peguei a minha filha e fomos a uma
delegacia. Chegando na delegacia, sofri um grande descaso. Um policial de meia,
mal encarado me atendeu, pediu para eu preencher uma ficha, fui enviada
para uma longa fila de espera. Depois de horas de espera não nos atenderam,
resolvi ir embora, eu e a minha pequena!
Logo deduzi, na verdade eu sabia, era por eu ser
mãe solteira. Chorei muito, logo depois levei minha filha para casa.
Então, eu resolvi tirá-la daquela creche! Mas tudo isso me ensinou
uma coisa. Sendo eu mulher e mãe solteira, o preconceito é bem maior, e fico
impotente pelo fato de a filha ter sido violentada psicologicamente. Para mim
era esse o motivo de Lia não falar, me senti culpada.
Tudo
isso me fez vivenciar o descaso, sendo uma mãe solteira e sem apoio de mais
ninguém. Eu me senti impotente diante de tudo e principalmente diante
das autoridades constituídas.
Quanto a malfadada creche! Eu me perguntava: — Por que com a minha
filha!? Por que tanta maldade!? Qual a razão desse preconceito por ser
uma mãe solteira?
Minha
filha foi criada com muito amor. Então o porquê disso!? E por fim
chego a uma conclusão, os preconceitos existem há muito tempo! Eu nunca quis
enxergar!
Fabiane Braga Lima é poetisa e contista em Rio Claro, São
Paulo
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
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