Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Raposo, do nosso Eça, bacharel
em Direito, sobrinho de D. Patrocínio, ao chegar ao Egipto, exclamou perante o
companheiro, que com ele viajava:
- " Egipto! Egipto! Eu
te saúde, negro Egipto! E que me seja propícia..."
Mas Topsius, conhecedor que
Raposo tinha tanto de Dom João, como ele de historiador, voltou-se para o
companheiro, e retorquiu: " Não! que vos seja propicia D. Raposo Ísis,
a vaca amorosa!"
Raposo não compreendeu, mas
venerou!
Como Raposo, quantos de nós,
para não parecermos ignorantes, em determinado tema, não dizemos, também: venerei!...
Perante Arte Abstrata, diante
de cada borrão ou rabisco, que qualquer criança de tenra idade, executava, não
dizemos:
- "Que maravilha! Que
obra de arte! Que pintor genial"...
O mesmo sucede quando topamos
mamarrachos, na praça pública, assinados por artistas de gabarito, que qualquer
garoto talentoso, faria melhor, não exclamamos doutoralmente: " Que
imaginação!..." É que ninguém gosta de passar por ignorante, parecer
néscio, perante os outros...
Se os críticos entendidos, os
que conseguem, com palavras difíceis, explicar o que ninguém entende, nós,
simples mortais, homem comum, para não parecermos estúpidos, tomamos expressões
intelectuais, e dizemos enfaticamente: "formidável".
Se dissermos que é uma "
borracheira", palavra com que obteve muita antipatia o Mestre Soares dos
Reis, quando sinceramente apreciava obra que não gostava, os nossos amigos,
logo dizem ou pensam. " E eu que o julgava inteligente!..."
O que digo de artistas
plásticos, poderia dizer de certos escritores e poetas, premiados e ventilados
na mass-media.
A velha e relha história do:
Rei Vai Nu, está sempre atual.
Conheci amigo brincalhão, que
se gabava de ser muito letrado.
Certa ocasião, deixou velho
abade, atónito, ao discutir, com ele, teologia.
Decorara meia dúzia de nomes
sonantes, e quando pretendia embasbacar o velho sacerdote – pouco versado ou já
esquecido, – dizia-lhe: que o filósofo cristão ou teólogo tal, disseram, o que
eram apenas palavras suas...
O velho abade, não queria
parecer ignorante, e " engolia", como verdadeiras, as palavras
falsas.
Pobre abade!... O que se passa
para não se passar por pascácio!...
Situação verdadeira e super atual
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