Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
domingo, 1 de janeiro de 2023
ESSE ANO EU QUERO O SIMPLES, SEM EXCESSOS
Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)
Todo final de ano somos acometidos pelo
desejo do novo. É um desejo que nos leva a fazer listas de ações —na maior
parte das vezes não cumpridas — e uma infinidade de rituais na esperança de
dias melhores.
Há, também, certa quantidade de gurus
com suas previsões, leituras astrais, queimas de karmas e até mesmo
recomendações de se usar determinadas cores de roupa, comer ou evitar essa ou
aquela iguaria e outras coisas mais na intenção da boa sorte. Não sou contra
nada disso. Desde que se sinta bem, vá em frente. O importante é ser feliz. Mas
deixe-me dizer uma coisa…
Esse ano eu quero o simples sem
excessos, só isso. Em muitas coisas, quase todas, eu desejo o menos: menos
barulho, menos discurso, menos necessidade de mostrar para que os olhos possam
enxergar. Quero aprender com o menino do Manoel, que falava que “os vazios são
maiores e até infinitos” e me formar em desenchimentos.
Sou do tipo de pessoa apaixonada pelo
pequeno, pelo pouco, pelas miudezas das coisas, e isso não quer dizer pobreza
material e muito menos de espírito ou falta de crença em conquistas, muito
antes pelo contrário. Coragem e uma boa dose de sensibilidade se fazem
necessárias para enxergar o quanto é belo o nascer do sol, o cair de uma folha,
o canto de um pássaro, o reconhecimento afetivo de um animal. Junte-se a isso o
sorriso de uma criança e o afago de um idoso e o mundo desabrocha tal qual
pétala de rosas. Ainda bem não ser possível colocar tudo isso em um
quadro, porque nenhuma dessas coisas nasceram para serem emolduradas. É necessário
saber apreciá-las em sua liberdade. E é por isso que são preciosas e raras
porque poucos sabem o gigantismo de cada uma delas.
Que possamos esvaziar-nos de ilusões,
ser água para correr livremente e enxergar o aconchego do silêncio; ele até
pode ser quieto, mas nos diz o certo.
Que encontremos, pois, em nossos
corações, o silêncio das necessárias verdades, e que o simples nos leve às
nossas letras.
Queridos amigos e amigas, desejo a todos
vocês um ano de magnífica beleza. Sejamos poetas das cores, dos sabores, dos
amores, dos encontros sem preconceitos. Que saibamos extrair a preciosidade da
vida em seus menores detalhes. São neles que moram as essências.
Feliz 2023 e até os próximos dias em que
estaremos juntos na continuidade da nossa caminhada e de nossas virtudes.
Forte abraço!
HÁ CIDADÃOS DE PRIMEIRA E SEGUNDA?
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Naquele tempo disse Jesus: "Não
há profeta sem estima, senão na sua pátria e na sua casa – Mt1:57.
Provérbio, provavelmente, corrente em Israel, no Seu tempo, que recorda o
fenómeno psicológico, e sempre actual, que consiste admirar o que é dos outros,
em detrimento do que é nosso.
Jesus ensinava na sinagoga da Sua
terra. Os concidadãos que conheciam sua ascendência humilde, comentavam
varados, entre si: " Não é filho do carpinteiro? Não se chama Sua
Mãe Maria; e Seus parentes não estão entre nós ?" - Mt15:55.
Os judeus – incluindo muitos rabis,
– admiravam-se, igualmente, que não tendo estudado, conhecesse profundamente as
Escrituras.
Se essa ocorrência tivesse
acontecido nos nossos dias, diríamos, certamente: Como pode falar com tanta
autoridade senão cursou a Universidade?!
Seus patrícios conheciam
perfeitamente Sua mãe e parentes próximos, que eram simples boçais, quase todos
ignorantes, e custava-lhes acreditar no que Ele dizia; reconheciam, porem, Seu
talento e sabedoria; porque lhes falava com autoridade.
No tempo que correm, diríamos
desdenhosamente: Não passa de labrosta ou caipira; filho de rústicos ignaros, e
ficaríamos deveras perplexos; " De onde Lhe vem tudo isto?!"
No início deste século,
entrevistei figuras públicas para jornal local. Entre eles, talentoso deputado.
Após ter desligado, a seu
pedido o gravador, confidenciou-me, quase à puridade:
" Quando cheguei ao
parlamento senti-me descriminado pelo facto de não possuir licenciatura.
Pensavam – pelo menos assim julgava, – até os da minha bancada: " Como
pode opinar, com acerto, senão andou na Universidade?!"
Devo esclarecer, em abono da
verdade, que o jovem deputado, mais tarde – para ser respeitado, – cursou certa
Faculdade.
Jesus era pobre e não
frequentara nenhuma escola rabina. Nasceu no seio de família modesta, numa
cidade insignificante.
Não disse Natanael: "
De Nazaré pode sair alguma coisa boa? – Jo1:46.
Agora muitos diriam: Do
interior, de um camponês, de um saloio. boia-fria ou simples pedreiro, pode
sair alguma coisa boa?
Daqui se conclui: quem não
possuir fartos bens, curso universitário ou sobrenome importante, será sempre
cidadão de segunda, como diziam certos portugueses, despeitados, que viviam nas
Províncias Ultramarinas.
ÂNGELA
Por Waldir de Melo Filho (Siriri, SE)
A escuridão da noite densa era quebrada com a fraca
luz de uma fogueira tímida de papelão, garrafas e pedaços de tábuas de uma
frágil caixa de madeira que servira como esquife de tomates apodrecidos,
devorados pelos fungos da decomposição orgânica que tremulava chamas amareladas
de fumaças negras e mal cheirosas, tentando sem muito sucesso aquecê-la da
corrente de ar frio e insistente que percorria por sob seu corpo arrepiando-lhe
a pele negra e ensujecida como as correntezas das águas que contornam as pedras
em seu caminho de leito aquoso.
Seu estômago vazio de comida, reclamava em roncos e dores finas e profundas, gritando os tormentos da inanição de dias sem nada para poder digerir. Estava fraca, e em seu estado de vulnerabilidade entregava-se ao abismo da loucura que a conduzia pelos caminhos tortuosos da duvida e questionamentos sem respostas que a fazia ignorar o certo, a razão da moral e os princípios em troca de algum prato de comida que a fizesse sobreviver mais um dia maldito de miséria. Oferecendo seu corpo como meio de barganha e pagamento para adquirir o sustento da sua existência. Mas, não conseguia muito e o pouco dos seus espólios não passavam de alguns cigarros amassados, sandálias quebradas e remendadas, as vezes alguns cobertores sujos, fedidos, usados aonde seu antigo dono se abrigava em sua imundície de degeneração e miséria. Conseguia com seu corpo pouquíssimas garrafas de bebidas alcoólicas e sentiu-se orgulhosa, desejada, querida e amada entre as tais que como ela viva sua realidade, quando certa noite conheceu o Daniel, moço jovem, bonito no auge dos seus 22 anos de pele branca, cabelos pretos e encaracolados, olhos negros e vivos, nariz pontiagudo como o de um marquês que ela viu certa vez assistindo uma novela de época na lanchonete enquanto comia selvagemente um hambúrguer servido a contra gosto pelo proprietário do estabelecimento a pedido de um freguês.
Daniel a fez se sentir mulher. Transou com ele com uma paixão que desconhecia, uma paixão de força quase incontrolada que a fazia se entregar em uma urgência de desespero, engolindo seu corpo imberbe, inexperiente com cheiro de docilidade que se assemelhava ao aroma divino dos anjos em sua pureza intocada. Estava em êxtase como se estivesse possuída, perdida entre o tempo e o espaço, vagando alucinada no limbo de um prazer animalesco que a fez voltar às origens da sua primitividade. Foi a primeira vez que sentiu prazer de verdade, um gosto inexplicável em ser preenchida pelo falo de um menino homem que lhe arrancava gemidos sem dor e murmúrios desconexos, fazendo-a viajar entre espasmos de gozo viscosos no mundo da fantasia, entorpecida pelo cheiro forte de água sanitária, resultado da mistura do esperma do seu anjo, aquecido nas carnes internas da sua vagina. Como o cheiro de enxofre saído das profundezas da terra, provocadas pela abertura de uma erupção. Seu corpo enfraquecido formigava suado pelos arremessos das investidas fortes e profundas do seu menino avantajado, fazendo-a se sentir muito mais sortuda que Valéria Messalina.
Estava feliz, realizada por se sentir útil como mulher e entender em seus padrões distorcidos e confusos que conseguiu atender com êxito o seu proposito em dar prazer ao seu homem. Conseguiu sentir o que até então supôs ser mentira, pois fingia deleite enquanto se consumia de ardência, desconforto e dores que agrediam seu útero, esfolando as paredes internas da sua vulva por não conseguir produzir lubrificação própria, e em seu desespero sofrido provocado por um sexo ruim, rude e grotesco, gemia de dores como se quisessem com elas enfeitiçar o seu parceiro, elevando sua autoestima de macho alfa o fazendo se desmanchar em ejaculação febril de prazer.
Não quis cobrar dele coisa alguma, mais recebeu como gratidão pelo momento proporcionado uma lata de cerveja quente que ela bebericava em goles suaves e pequenos como se quisesse preservar o liquido ali contido. O liquido precioso de Dionísio com sabor tão especial quanto o gosto do esperma do seu bem feitor que ela pegou com as pontas dos dedos em sua virilha e os levou a boca, como se quisesse preservar em seu paladar o gosto de sabor imberbe do interior do seu anjo! Guardou o recipiente da bebida em seu saco de tralhas imundas, como se guarda uma joia no cofre seguro, protegendo seu patrimônio dos olhares cobiçosos e invejosos dos menos afortunados!
Enquanto ajudava seu príncipe a vestir sua cueca box de cor vermelho escuro, encardida de cheiro azedo, forte que ela sorvia como se quisesse a todo o custo perfumar sua pele no odor, igual a um cão sarnento que se esfrega na carniça encontrada para camuflar seu próprio cheiro de derrota e mostrar ao mundo o triunfo adquirido em sua trajetória de miséria. Um odor de pênis sujo, ensebado, guardado em uma cueca com manchas de pingos de urina, peidos e espermas ressecados como nódoa impregnada nas tramas do tecido, que para ela valia mais que o sudário!
- Meu nome é Daniel! Confidenciou-o enquanto ela ainda embebecida beijava suavemente sua barriga magra de pele brancas, brincando com os pelos ralos e aloirados que desciam do umbigo como um caminho da felicidade e se juntavam nos emaranhados do seu púbis.
- Nome lindo, disse ela procurando seus olhos que estavam perdidos no vazio, como se estivesse voltando catatônico do mundo da ilusão. O meu é Ângela, disse ela em voz baixa como se quisesse ser lembrada por ele, como se a sutileza em pronunciar seu nome para ele fosse ouvida pela alma e guardada nos arquivos secretos da sua memoria.
- Preciso ir! Disse ele demonstrando inquietação e arrependimento como se estivesse acordado de um transe, se arrepiando a medida que os dedos dela percorria seu braço.
Com a cabeça curvada em sinal de reverência e humildade como de um escravo diante do seu senhor, ela recebia dele a sentença do seu abandono. Sabia que estaria sozinha dali em diante. Que não seria mais preenchida de completude! Estaria amparada pelo medo da morte iminente que a perseguia pelos becos frios e escuros das ruas de Francisco Morato. Que seria coberta pela solidão que esmagava seu peito sem valor de mulher seca de propósitos. Estaria mais uma vez perdida na inviabilidade de suas andanças pelas ruas que a levavam aos bairros da insignificância social! Viu a silhueta da esperança indo embora com o seu anjo, dobrando a esquina depois de subir um escadão e chorou! Chorou como uma criança faminta sem se importar com o som dos seus lamurios, andando a passos rápidos como se quisesse alcança-lo, revê-lo mais uma vez e dizer em alto e bom som que o amava. Mais ele já não mais existia na sua realidade. Era como um fantasma translúcido que desaparecera ao sopro do vento frio da noite de primavera e em seu estado de perturbação e carência, pronunciava aos gritos o nome do seu príncipe, como se o estivesse invocando do mundo abstrato da fantasia imaginária, procurando sem sucesso o rosto conhecido entre os transeuntes.
- Daniel, Daniel, Daniel! - vociferava ela encolhida na calçada da degradação, se agarrando ao nome místico como um náufrago a sua tábua de salvação até sua mente sucumbir de vez ao estado da loucura.
MUNDO MELHOR
Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)
Estamos em
convulsão
Corona vírus na
nossa mão,
Muitos diziam
que iam partir
Outros que ia
ter confusão.
Doença na
humanidade
Milhão contra
milhão,
A moléstia de
verdade
Não traz
reflexão.
O povo perdeu a
humanidade
Irmão matando
irmão
Casais
tornando-se mortais
Sem fé no
coração...
Roubos,
xingamentos, ostentação
O mundo é uma
bola
Agonia que
assola
Rola até perseguição...
A necessidade
de um mundo melhor
É a nossa
grande missão,
Mas não
adiantam palavras
Sem prática e
união.
Vibremos
positivamente
Com todo
coração
Gente amando
gente
É a grande
lição.
Nessa História
intermitente
Nós somos
alunos, minha gente!
Vivemos a nossa
vida
E logremos
aprovação.
POESIA NA ÁRVORE
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
(Em
memória de Raquel da Costa e Isabel Cristina da Costa)
Eu
prefiro as frases feitas...
Adoro
lê-las...
E
pensar que elas são minhas!
***
Dizer:
– Vou te amar para todo o sempre!
Usando
velhos clichés.
***
Finjo
ser poeta!
Às
vezes até contista...
Nessas
horas uso antigos clichés.
Porque
dizer: – Eu te amo!
Não é
dizer bom dia.
***
Escuto
velhas músicas!
E
chego a pensar que a dor.
É
realmente minha.
Mas
não é!!!
***
Às
vezes...
Penso
em ser prosador!
Para
voltar para a minha infância!
Onde
eu corro de novo.
Entre
becos e vielas...
De
braços bem abertos!
***
Mas
volto para o tempo presente...
Mais-que-perfeito!
Onde
finjo ser o aedo...
Na
pós-modernidade líquida!
A
ignorar regras, rimas e métricas...
E
desdenhar antigas elegias!
Todas
as fórmulas arcaicas...
Prontas
e acabadas.
Desusadas
formas de amar musas,
Virgens
intocadas e santas vaporosas...
***
Às
vezes….
Finjo
ser eu o versejador!
Nos
tempos pós-modernos!
E em
meus versos!
Sinto
que não fostes embora...
Estás
perdida entre os meus versos...
Mais
profanos...
No
estro meu...
Às
vezes finjo que não te perdi,
Para
todo o sempre!
***
Às
vezes leio antigas poesias.
Mas
somente às vezes!
E
penso que são meus...
Aqueles
idílios de saudades...
***
Nessa
hora eu gostaria...
De ser
um poeta de verdade.
Para
pensar que não a perdi!
Para
todo o sempre...
***
Imortalizar-te-ia...
Minha
sacrossanta musa,
Em
meus versos mais profanos!
***
Às
vezes...
Penso
ser eu o poeta!
Na
pós-modernidade liquefeita.
A usar
velhos clichés!
Para
poder ousar dizer:
–Te
amo, não é bom dia!
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
DAR O MELHOR DE MIM...
Por Patrícia Raphael (Itajaí, SC)
A loucura é minha...
A sinceridade é minha...
A luta é minha...
O futuro é meu...
A promessa é minha...
A conquista é minha...
A surpresa é minha...
A hora é minha...
O carinho é meu...
O outro lado é meu...
A força é minha...
A paixão é minha...
A promessa é minha...
A amizade é minha...
A coragem é minha...
A sutileza é minha...
O ficar é meu...
O sentimento é meu...
O pensamento é meu...
A provação é minha...
O desejo é meu...
O receio é meu...
O amanhã é meu...
A passagem é minha!
COTIDIANO: BATOM VERMELHO
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
As
horas passam devagar, eu não vejo a hora de chegar à madrugada, pois existe um
silêncio excitante nas madrugadas. É a madrugada que eu me sinto graciosa, onde
me olho no espelho. Pode até soar estranho, mas são nas madrugadas que passo um
batom vermelho, e me sinto bem. Renovo-me, sou uma outra pessoa, mais alegre e
mais grata, por estar bem comigo mesma!
Em
perdias horas noturnas que leio meus livros, que eu ouço vozes, que saem do meu
inconsciente. Quando eu tenho a mente acelerada, geralmente ando em círculos.
Logo depois, me aquieto! Quando cansei de ler e escrever, mas é mentira
(risos)….
Às vezes, eu penso nessas perdidas horas noturnas, se todos nós tivéssemos a
chance e tempo para ler e escrever! Que o nosso país seria bem diferente do que
é agora, não haveria tantas ignorâncias, violências, ganâncias e mentiras.
Se todos nós tivéssemos a chance de conhecer as histórias de escritoras do
quilate de Carolina Maria de Jesus, existiria mais valor nos estudos, e uma
vida mais digna a todos nós.
Silencio-me agora, vou retocar o meu batom vermelho! Logo depois, quero ler
“Quarto de Despejo” de Carolina de Jesus, livro que recomendo.
Contato:
bragalimafabiane@gmail.com
CONVERSA FRANCA: O HOMEM E SUA RELAÇÃO COM A MULHER
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Quem é
escritor sempre tem relação com diversas pessoas e conversando várias vezes com
uma mulher, ela me disse com toda certeza que o homem não gosta da mulher.
Então passei a pensar em tudo que me disse e cheguei à seguinte conclusão, é
provável sim que o homem possa não gostar da mulher, mas sim do que ela pode
lhe proporcionar. Ou seja, lhe oferecer. É como se todas nós mulheres
tivéssemos a obrigação de servir ao homem.
Porque
o afeto que era para ser algo de sentimento passa a ser matéria. Percebe-se
isso nos atos cruéis de alguns homens, perseguições, agressões verbais e
físicas, roubos, estupros e mortes.
Mas também temos o jogo emocional, falar de amor para sempre manter aquela mulher por perto no seu controle, sem nenhum interesse em ter um relacionamento sério com esta mulher.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
ARDOR
Por Patrícia Raphael (Itajaí, SC)
O tempo quer que fiquemos juntos,
Ardo em desejo na tua espera,
Tempo de ficarmos juntos,
De mãos dados comigo,
Teu corpo encostado no meu
Chega arder por dentro
Que arde contigo e comigo
Sempre fico no lugar
Eu quero te sentir
Eu vou gostar
Eu quero acordar...
E sonhar contigo
Viver intensamente
Já no amanhã te quero sorrindo
Doida pra ser feliz com contigo...
O que ficou pra sempre
Vou te amar
Coisas da vida...
Se quiseres crer
Não creia, porque tudo foi ilusão...
Mas o que importa!
Só restou saudades.
ME EMPRESTA, POR FAVOR?
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
– Eu quero voltar lá de novo,
Roberto! — Disse Sylvia animadamente ao marido no volante do carro.
Como era longo e tortuoso o
caminho de volta para casa. E Roberto, de repente, lembra-se da conversa banal
no escritório, dias atrás. Um amigo do trabalho, um pouco mais velho que ele,
vinha com essa conversa: – A pior fase do casamento, Roberto meu amigo, é a
crise dos sete anos! – Roberto nem deu atenção para aquele tipo de conversa
naquela hora do dia e no local de trabalho.
Mas,
no fundo, ele não poderia deixar de pensar em seu relacionamento com Sylvia,
como as coisas estavam frias de uns tempos para cá. Aquele fogo todo, tão comum
no início do namoro e do casamento, era definitivamente coisa do passado. E uma
série de desculpas sem fim, parecia permear a relação dele com Sylvia.
Desculpas de ambos os lados, que os dois toleravam por puro comodismo apenas.
Certo dia, quando Roberto volta do
trabalho para casa, Sylvia venho com uma conversa estranha, sobre tal Hell–fire
Club. Segundo ela, era uma casa noturna para casais modernos e liberais. Nem
adiantou Roberto perguntar onde ela encontrou essa tal casa noturna para casais
modernos liberais.
***
Na mesa ao lado, Roberto reconheceu
a figura sentada com uma mulher à tiracolo, ele só não sabia quem era ao certo.
Era um senhor calvo e de meia idade vestido elegantemente para um lugar como
aquele. A jovem mulher, que o acompanhava, estava vestida com roupas
provocantes e maquiagem pesada que lhe davam a aparência de uma prostituta
barata. Roberto deduziu que estavam em uma espécie de área vip. Em uma segunda
olhada, Roberto lembrou de onde conhecia o senhor calvo, ele foi um candidato a
vereador nas últimas eleições, bem votado por sinal, mas, não conseguiu se
eleger. Roberto viu, quando o senhor calvo esticou quatro carreiras de um pó branco
na mesa. Até que, um segurança apareceu e conduziu o senhor calvo e sua
companheira para fora do recinto, de forma bem discreta por sinal.
– Me empresta, por favor?
– Emprestar o que meu amigo?
– A tua mulher, ora bolas!
A pergunta trouxe Roberto de volta
para a realidade. Era um homem jovem, alto, tez morena e bem-vestido com terno
e gravata, no punho um caro relógio de ouro, que fizera pergunta fatídica.
O jovem estava de pé ao lado de Sylvia, estava
acompanhado de uma mulher que parecia ter saído de um ensaio fotográfico de uma
revista de alta costura. Sylvia estava sentada na frente de Roberto. Ele não
notou, mas Sylvia devorava o jovem desconhecido com os olhos.
A mulher de Roberto, nem esperou a
resposta do marido e, estendeu a mão para o jovem desconhecido mancebo. Mas,
rápido ainda, outra mulher tomou o lugar de Sylvia, uma mulher também jovem,
loura, esguia e muito bonita. Ao sentar-se, a loura não perdeu tempo,
passou com voracidade a mão esquerda no meio das pernas de Roberto e com a
língua, banha a orelha de Roberto com saliva. E, mais que de repente, um
arrepio passa a correr pela espinha dorsal de Roberto. Roberto, não tirou os
olhos e a mente da sua esposa Sylvia e do austero jovem desconhecido, eles se beijam
com ardor, a poucos centímetros dele e da sua mais nova e desinibida companhia.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
FLOR-DE-LIS
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Quem
são as outras pessoas?
São
simplesmente
Nada
mais que
Nano-partículas
áreas
Alheias
a nós mesmos
Nas
nossas subexistências liquefeita
São
astros mortos
Gravitando
perdidamente
Os
outros?
São
entes etéreos
Vagando
cegamente
No cosmo
pós-moderno
No
paraíso artificialmente fabricado
Fá
Rodrigues Butler olhou em volta e sentiu todo o peso da solidão e da
semi-clausura perpétua que lhe caírem nas cansadas costas. E ela pensou,
também, na decisão que tomou há muito tempo: — Se é para viver deste jeito,
pois então, que seja pelo menos do meu jeito! — E foi assim que o projeto da
floricultura nasceu lá atrás, que ela nominou mais tarde de Flor-de-lis, um
espaço de cultivo de flores e plantas raras e exóticas.
Então tudo foi projetado por ela para ser artificialmente
controlado ao máximo do possível. Tudo vinha do desejo de Fá, da mais complexa
decisão administrativa até o mais vago detalhe artístico da decoração. Ali até
o tempo parecia que existia então somente para servi-la. A própria Fá parecia
ser um quadro vívido, uma pintura emoldurada, uma peça perdida no tempo e no
espaço de um atormentado obscuro artista do alto medievo. Em cada gestual, em
cada fala, a mulher, que aparentava ter meia idade, parecia que estava sempre
desempenhando um papel em uma peça teatral, para uma plateia avida por mais um
ato.
Especialmente, naquele dia ela mandou Manoel e Ramirez
iriam adiantar um trabalho agendado para o dia seguinte. Também deu folga, de
última hora, para a jovem e dedicada secretária particular. Ela também
dispensou as visitas pré-agendadas do advogado e do contador naquele mesmo dia.
E assim foi como alguns clientes habituais que apareciam sempre na mesma hora,
ela avisou, que não estaria para ninguém, que não receberia ninguém naquele
dia. O dia era só dela, ou quase dela, pois a urbanista e paisagista
profissional teria as plantas e projetos como companhia.
Foi naquele começo de noite, depois de um longo dia de
solidão voluntária e muito trabalho, ela sentiu a extrema necessidade de levar
a mão até a parte interior do balcão para pegar a garrafa de Cointreau e a
cigarreira. Logo ela que não tinha esses hábitos, de se dar ao luxo dos
prazeres de carne em horário de trabalho.
ESSÊNCIA
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Essência... grite, grite alto, que me ama...
Seja audaz e grite sem medo,
Indelével é o meu amor recíproco
Não esconda o teu olhar incógnito.
***
Não hesite amor, perca a razão
Não deixe que nada fique oculto
Contigo, sinto a vida, não ilusão
Deixe-me mostrar o meu mundo.
***
Não vivo sem tua ternura, sem a tua presença...
Pois livrou-me do árduo suplício!
Faça do meu mundo, esperança....
Paixão instigante e telepática
Permita-me sentir a tua alma...
E toda essência que fulgura dentro de ti...
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
ENCLAUSURADA NA EVITERNA NOITE
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Ela olhou para trás, para a escrivaninha de forma desolada, pois lá estava ela,
a velha máquina de escrever Kanzler e as muitas saudades de Quincys bateu no
seu amago mais profundo àquela hora extrema. Fá lembrou do velho pai sentado
ali e trabalhando por horas e mais horas a fio, sem parar um minuto sequer. O
velho pai, bem alinhado, de barba longa e branca com seu inquieto cachimbo de
madrepérola no canto da boca. E ele sorrindo para ela de forma terna entre uma
pequena pausa e outra para trocar a lauda por outra. Ela lembrou de um dia, em
especial, era um outono e um vento álgido soprava e o pai chamou-a para perto.
Ela se se aproximou do velho escritor escocês, ela bem tímida e com medo dos
grandes olhos verdes vívidos, por detrás dos óculos tartaruga, ele de pele
alvíssima, o terno bem alinhado e do cravo vermelho na lapela. Tudo ali era um
mistério abissal para Fá. O velho escritor colocou a pequena filha no colo e
fez a pergunta fatídica, que dali para frente ele iria repetir por diversas
vezes como uma senha entre ambos: — Vamos trabalhar minha doce menina de olhos
famintos? — E era idílico, mágico, etéreo e belo para ela, pois a frieza do
velho refinado senhor europeu desterrado desaparecia completamente por uns
instantes pelo menos, por mais breve que fosse. E ele ficava bem mais próximo
da mãe e da avó da menina, ficava mais latino, mais terno, mais emotivo e
mediterrâneo por fim.
E a quimera evanesceu e a dura realidade se impõe, com todo o seu rigor, a mesa
de trabalho do Quincys estava vazia naquele momento e o martelar ritmado do
intelectual libertário do norte da Europa não enchia mais a imaginação da
menina, ele se fora para sempre e não votaria nunca mais. Coisas mais premente
surgiram e se insurgiram quando a mãe de Fá adentrou na loja de forma
intempestiva ignorando a ordem natural das coisas.
— Para onde a senhora foi? Agora é assim mãe? Sai e não avisa para aonde vai e
nem quando volta?
— Desde quando eu tenho que dar satisfação para a senhorita? Sou mais velha e
não te devo satisfações alguma, dos meus atos, menina malcriada! — A velha
cigana colocou a delicada cesta de vime usada para carregar flores no balcão, a
cesta estava vazia. A filha não tive coragem de parar de olhar para antiga e
bem conservada máquina de escrever de Quincys, enquanto falava com a mãe. Fá
sabia, muito bem, para onde a mãe tinha ido, mas não tinha o denodo de fazer o
confronto derradeiro, nessas horas extremas a mãe é sempre a soberana e dona de
todos as razões, mesmo que as razões não existiam ou pareciam não existir.
— A negra flor mãe! A halfeti, ela não te pertence mãe! E não tens o direito de
dispor dela como bens queres! Ora essa!
— Quem te disse que fui eu que dispus dela? Quem disse que eu quero, ou deixo
de querer as coisas? Tu deves ficar bem quieta e não se mete em coisas, que
estão para além da tua frágil concepção, minha querida filhinha.
— A hora dele chegou então? Vão buscá-lo por fim? Sibelly já sabe? A proscrição
acabou?
— Não faça perguntas minha querida, muito menos as que eu não posso
responder-te, há horas que é melhor não saber, de coisa alguma! — A velha
senhora romani caminhou até a artesanal cadeira de balanço de ferro e de vime,
sentou nela, se se ajeitou como se a idade avançada não pesasse em nada. O
rangido do ir e vir da cadeira de balanço afastou um pouco o pesar da falta de Quincys no coração e na mente de Fá. E
então a velha cigana esperou uma eternidade, até a filha parar de olhar para a
mesa de trabalho de Quincys e se voltar para ela e então a velha senhora
começou a tricotar lentamente uma chale.
— O africano vem se esquivando da escuridão eviterna, e vem fazendo isto por
muito tempo, minha amada filha. Vem fugindo dela faz muito tempo e vocês dois
bem sabem disto. Falando nisso, tu vais dar mesmo uma festa hoje de noite?
— Vou sim! — Decidiu ela naquela mesma hora, queria provar para mãe que estava
bem crescida para tomar as próprias decisões, não importando de pedir permissão
para quem quer que seja.
— Posso saber quem foi convidado? — Foi ríspido o tom da voz da mão de
Fá.
— Todo mundo ora essa, desta vez ninguém fica de fora, vai ser um grande
festejo com tudo que eu tenho o direito de o ter! — A velha senhora parou de se
se balançar e de tricotar e olhou espantada para a filha.
— Cuidado minha filha, seja discreta, estes teus espetáculos não são nada bom
para os dias de hoje, pois já chamamos muitas atenções para nós sendo quem
somos. São tempos difíceis estes em que vivemos hoje! Muito diferente do
passado, onde a neblina não nos abriga mais como antes. — E Fá escutou a mãe
que repetia sempre o mesmo discurso anos e anos a fio, com o mesmo tom gélido.
A mulher de aparência jovem temia em fazer a pergunta fatídica, mais com medo
da pergunta em si, do que a resposta propriamente dita, que ela sabia qual
seria.
— Mãe! Responde-me logo! O que será feito da minha Agnes? O que será que eles
reservam para ela?
— Que pergunta ora essa minha filha! Ela vai como tu bem sabes, vai reinar
absoluta na escuridão sem fim. É muito diferente de nós duas, Agnes terá um
reinado próprio, mesmo que breve, mas será somente dela. E se conforme logo,
com o legado que carregamos, por mais pesado que seja.
— Mãe! Por que as coisas tem que ser assim?
— Porque são assim e pronto menina! E me deixa em paz com o meu tricô! — Foi o
jeito que o que a velha senhora espanhola encontrou, de parar com a conversa
cheias de frivolidades de mente jovem e impressionável da filha.
DA MINHA JANELA 2
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Viver é tão singular em cada íntimo.
As dores se revelam
Somente nos olhares.
Não parece, mas cada um
Já viveu da sua janela
A despedida.
Até mesmo da porta ao lado.
Sem a certeza do retorno.
Aí nessa pausa do tempo
A gente repensa
No que deixou para trás
E quer ter a chance de recomeçar.
Mas algumas coisas
Não nos pertencem mais,
Fica um pedaço de retalho
Sem poder remendar.
E nos papéis
Amores que se desmancham
Na água,
Ali no vazio dos olhos.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
POINT BLANK (1ª E 2ª PARTES)
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Point Blank 1ª parte
Raimundo Nonato Corrêa Júnior
era parecido fisicamente com o do pai, exceto no temperamento, isso saíra à mãe
diziam. Não levava desaforo para casa, coisa normal para quem vive no recôncavo
baiano. E ao saber que o prefeito, a pretexto de pressões sociais, que a
população da pequena cidade fizera, que cairá sobre seus ombros, despediu o pai
de Raimundo embora da prefeitura.
O guarda-livros Raimundo
Nonato Corrêa, muito popular e amigo de todos, fora pego desviando verbas da
prefeitura. Pai de oito filhos e funcionário público respeitado.
Muitos atribuíam o fato como
obra do próprio prefeito de acusar o guarda-livros de desfalque. O medo do
prefeito era que Mundinho, como Raimundo Nonato era conhecido, ser chamado a concorrer
nas próximas eleições para prefeito. Era a muito que Raimundo era assediado
pela oposição. Mas, quem mesmo não absolveu a demissão de Raimundo foi o filho
mais jovem da família Corrêa.
Point Blank 2ª parte
A Mauser destravada, que apontava para o vazio da caatinga, com seu mato ralo e
árvores tortuosas. O jovem, mirrado e bem alinhado, não ligou para o sol
abrasador sobre sua cabeça, nem a boca seca que pedia água. E a arma não
parecia pesar nada, nas mãos do rapaz, de seus quatorze anos de idade, que
nunca pegara em uma arma antes na vida.
Ele mesmo se espantou com a
facilidade e naturalidade da coisa toda. E como era fácil esperar o carro do
prefeito passar e diminuir na curva. O prefeito, com seu terno branco inconfundível
e, como ele deveria estar ao lado do motorista e não no banco traseiro. A ira
animal que tomava conta de Raimundo Nonato Corrêa Júnior parecia não ter fim e
tinha que dar um tiro na cara do Cabra safado’’ que tanto prejudicou seu pai e
sua família.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
CUMPLICIDADE (ÀS VEZES OU POETA)
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Tentei olhar em teus olhos, não consegui
Tentei ao menos te escutar, impossível...
Entendi, melhor assim, liberta de sombra
Estava enganada, e esquecendo de mim.
***
Hoje busco, vejo- te em todos os lugares
Minha outra metade, minha cumplicidade
E, mesmo se quisesse tê-lo, seria loucura
Tocar em ti são infindas incertezas, dor...
***
Então, melhor transbordar de amor, viver,
viver sem dor, trocando conversas fúteis
Mesmo que tudo se desfaça, tentar seguir.
***
Tu és a poesia que sempre esteve comigo
Fiz de ti o protagonista das minhas prosas
Aparência!? Desconheço, Alma, cumplicidade!
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
BENEDITA/BENEDICTION (O TEATRO ESTÁTICO)
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para a
atriz Sabrina Viana
In my
opinion
your epigraf was not correct,
the editor was wrong,
the text ended and the poet died
Clarisse
Cristal
As
sinfônicas valsas burlescas
Vislumbradas
Aos sintécticos
sabores celestes
De
sons sibilinos a meio tom
Suspensos
no ar
***
Sim!
As luzes da ribalta
Do
teatro mágico
Do
espetáculo estático
À meia
luz
Ofuscaram
os olhos meus
***
Ajustamos
todos nós
As
nossas Clepsidras imagéticas
Que
brilhes tu nos palcos
Da
vida
E em
total triunfo
Magnificente
aljôfar astral
***
Sim!
Os estridentes risos inodoros
Dos
públicos virtuais
Que
quedaram em queda livre
No
tempo e no espaço
***
Sim!
Tem os aplausos inefáveis
Suspensos
no ar
Das
plateias em êxtases
Sim!
As profundas e milenares
Lágrimas
cristalinas
Da audiência
quimérica
Perdidas
no tempo atemporal
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br