domingo, 1 de janeiro de 2023

HÁ CIDADÃOS DE PRIMEIRA E SEGUNDA?

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

Naquele tempo disse Jesus: "Não há profeta sem estima, senão na sua pátria e na sua casa – Mt1:57. Provérbio, provavelmente, corrente em Israel, no Seu tempo, que recorda o fenómeno psicológico, e sempre actual, que consiste admirar o que é dos outros, em detrimento do que é nosso.

Jesus ensinava na sinagoga da Sua terra. Os concidadãos que conheciam sua ascendência humilde, comentavam varados, entre si: " Não é filho do carpinteiro? Não se chama Sua Mãe Maria; e Seus parentes não estão entre nós ?" - Mt15:55.

Os judeus – incluindo muitos rabis, – admiravam-se, igualmente, que não tendo estudado, conhecesse profundamente as Escrituras.

Se essa ocorrência tivesse acontecido nos nossos dias, diríamos, certamente: Como pode falar com tanta autoridade senão cursou a Universidade?!

Seus patrícios conheciam perfeitamente Sua mãe e parentes próximos, que eram simples boçais, quase todos ignorantes, e custava-lhes acreditar no que Ele dizia; reconheciam, porem, Seu talento e sabedoria; porque lhes falava com autoridade.

No tempo que correm, diríamos desdenhosamente: Não passa de labrosta ou caipira; filho de rústicos ignaros, e ficaríamos deveras perplexos; " De onde Lhe vem tudo isto?!"

No início deste século, entrevistei figuras públicas para jornal local. Entre eles, talentoso deputado.

Após ter desligado, a seu pedido o gravador, confidenciou-me, quase à puridade:

" Quando cheguei ao parlamento senti-me descriminado pelo facto de não possuir licenciatura. Pensavam – pelo menos assim julgava, – até os da minha bancada: " Como pode opinar, com acerto, senão andou na Universidade?!"

Devo esclarecer, em abono da verdade, que o jovem deputado, mais tarde – para ser respeitado, – cursou certa Faculdade.

Jesus era pobre e não frequentara nenhuma escola rabina. Nasceu no seio de família modesta, numa cidade insignificante.

Não disse Natanael: " De Nazaré pode sair alguma coisa boa? – Jo1:46.

Agora muitos diriam: Do interior, de um camponês, de um saloio. boia-fria ou simples pedreiro, pode sair alguma coisa boa?

Daqui se conclui: quem não possuir fartos bens, curso universitário ou sobrenome importante, será sempre cidadão de segunda, como diziam certos portugueses, despeitados, que viviam nas Províncias Ultramarinas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário