Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Quem
são as outras pessoas?
São
simplesmente
Nada
mais que
Nano-partículas
áreas
Alheias
a nós mesmos
Nas
nossas subexistências liquefeita
São
astros mortos
Gravitando
perdidamente
Os
outros?
São
entes etéreos
Vagando
cegamente
No cosmo
pós-moderno
No
paraíso artificialmente fabricado
Fá
Rodrigues Butler olhou em volta e sentiu todo o peso da solidão e da
semi-clausura perpétua que lhe caírem nas cansadas costas. E ela pensou,
também, na decisão que tomou há muito tempo: — Se é para viver deste jeito,
pois então, que seja pelo menos do meu jeito! — E foi assim que o projeto da
floricultura nasceu lá atrás, que ela nominou mais tarde de Flor-de-lis, um
espaço de cultivo de flores e plantas raras e exóticas.
Então tudo foi projetado por ela para ser artificialmente
controlado ao máximo do possível. Tudo vinha do desejo de Fá, da mais complexa
decisão administrativa até o mais vago detalhe artístico da decoração. Ali até
o tempo parecia que existia então somente para servi-la. A própria Fá parecia
ser um quadro vívido, uma pintura emoldurada, uma peça perdida no tempo e no
espaço de um atormentado obscuro artista do alto medievo. Em cada gestual, em
cada fala, a mulher, que aparentava ter meia idade, parecia que estava sempre
desempenhando um papel em uma peça teatral, para uma plateia avida por mais um
ato.
Especialmente, naquele dia ela mandou Manoel e Ramirez
iriam adiantar um trabalho agendado para o dia seguinte. Também deu folga, de
última hora, para a jovem e dedicada secretária particular. Ela também
dispensou as visitas pré-agendadas do advogado e do contador naquele mesmo dia.
E assim foi como alguns clientes habituais que apareciam sempre na mesma hora,
ela avisou, que não estaria para ninguém, que não receberia ninguém naquele
dia. O dia era só dela, ou quase dela, pois a urbanista e paisagista
profissional teria as plantas e projetos como companhia.
Foi naquele começo de noite, depois de um longo dia de
solidão voluntária e muito trabalho, ela sentiu a extrema necessidade de levar
a mão até a parte interior do balcão para pegar a garrafa de Cointreau e a
cigarreira. Logo ela que não tinha esses hábitos, de se dar ao luxo dos
prazeres de carne em horário de trabalho.
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