Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Talvez muitos não deem a devida importância para as
antologias, mas elas são portas de entrada para um processo histórico e
literário que amplia a nossa cultura e conhecimento. Como vemos ao longo do
tempo, elas também são portas abertas para novas editoras e consecutivamente
oportunidades para escritores que muitas das vezes não tiveram espaço na nossa
literatura brasileira.
Claro, por serem textos curtos, as antologias e
coletâneas, a análise do original se torna mais ágil de forma que o autor pode
dar uma amostra do seu trabalho.
Passeando pela origem da palavra, a antologia tem
como interpretação "estudo das flores". A sua etimologia originou-se
do grego anthologias que quer falar "coleção de flores".
Eu como atuante em muitas antologias, chegando ao número
de 20 antologias no ano de 2022, posso muito bem falar da sua importância,
inclusive para nós mulheres e o nosso papel na literatura brasileira. A mulher
na literatura é um grande avanço nos dias atuais. Para a sociedade cabia à
mulher o seu papel de esposa, mãe e dona de casa. Uma mulher com conhecimento e
estudo não era vista com bons olhos por muitas famílias.
O seu início na literatura não foi nada fácil,
ocupar um espaço antes ocupado por homens é quebrar as barreiras de uma
sociedade extremamente machista e opressora. Pois séculos antes da sua chegada
na literatura a mulher não podia ter acesso ao conhecimento e com a sua chegada
ela veio desconstruindo a literatura brasileira.
Quando a mulher branca ocupou esse espaço ela deu
voz para tantas questões silenciadas dando início às transformações na
literatura. Com a chegada da mulher negra na literatura essas mudanças foram
além, a mulher negra trouxe questões como a sexualização da mulher, a
desigualdade, as questões raciais e sociais. Essas questões trouxeram uma nova
literatura brasileira, a literatura afro-brasileira.
E usar a poesia como ato de expressão e luta contra
a opressão racial traz para nós mulheres negras visibilidade no mundo. Muito
tem se falado da "Escrevivência". Escrever pode sim ser uma vivência
de vida, onde nós mulheres damos voz para outras mulheres silenciadas pelo
medo, pela violência, pela desigualdade, pelo machismo e pela opressão.
As antologias são um caminho que nos dão muitas
oportunidades. Recentemente passei pelo processo de organizar uma
antologia, o que me deu a chance de estar mais próxima de outras mulheres,
conhecer histórias e lidar com o coletivo. Como bem sabemos não é nada fácil
trabalhar no coletivo, existem muitas divergências, conflitos de ideias, enfim,
inúmeras coisas. Mas posso dizer que é uma experiência gratificante, com isso
vamos amadurecendo e adquirindo experiências. Eu costumo dizer que o céu é o
limite com as antologias, encontramos em cada página muitas histórias, seja em
versos ou prosas.
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