quarta-feira, 1 de março de 2023

SER FELIZ AOS SETENTA

Por Paulo Cezar S. Ventura (Nova Lima, MG)

Como ser feliz, agora que estou ficando velho? Existe ainda, a esta altura da vida, a possibilidade de ser feliz? Aquela felicidade que não consegui quando jovem, chegaria agora, quando passei dos sessenta? Então deixa eu lhe responder diretamente, letra no olho. O que felicidade e idade têm em comum é que a palavra “felicidade” engloba, incorpora, contém a palavra “idade”. E só. Isso pode significar que a felicidade pode acontecer em qualquer idade.

Mas, o que é a felicidade? Sou adepto das definições operacionais porque elas nos ajudam a entender o conceito em si, objeto da definição, e nos fornecem meios de mensurar aquilo que se define. Psicólogos das Universidades de Oxford e de Harvard criaram questionários para medir, por vários métodos e instrumentos, o nível de felicidade das pessoas. Eles acreditam que, para medir a felicidade, é necessário avaliar fatores físicos e psicológicos, renda, idade, preferências religiosas, políticas, estado civil, etc. Existiria, então, um padrão humano de pessoa feliz? É preciso investigar, claro.

Pode-se dizer, entre várias outras afirmações possíveis, que a felicidade é um momento durável de satisfação, onde o indivíduo se sente plenamente realizado, um momento onde não haja nenhum tipo de sofrimento.

Há duas afirmações interessantes nesse conceito. A felicidade é um momento durável, não sendo infinito, momento este sem nenhum registro de sofrimento. Há como medir este momento onde há ausência de sofrimento? O Dalai Lama, líder espiritual do budismo, coloca a busca da felicidade como nosso projeto de vida essencial. Segundo ele,

“O propósito de nossa existência é buscar a felicidade” (Dalai Lama).

Vejam só: a felicidade está presente naqueles momentos de ausência de sofrimentos, e que buscá-los deve ser nosso propósito de vida, nossa busca incessante. E como nos livrarmos do sofrimento? Recorremos novamente às palavras do Dalai Lama:

“O primeiro passo para nos livrarmos do sofrimento é investigar uma de suas causas principais: a resistência à mudança” (Dalai Lama).

Segundo essa afirmação, o primeiro passo para se livrar do sofrimento é aceitar as mudanças. Porque elas sempre vêm. E se as mudanças trazem sofrimento, então a saída é aceitar o sofrimento. Aceitar que ele existe. O que não significa se entregar ao sofrimento. A aceitação não é um ato masoquista. É entender o que acontece, é viver o presente. Não é fácil, lógico. O sofrimento existe com várias caras diferentes: a não compreensão e aceitação do passado é uma delas; a colocação dos desejos em patamares muito altos é outra; a inveja, a ansiedade, a raiva, são ainda outras caras do sofrimento. E as dores físicas, claro, proveniente de doenças.

Para bem viver o presente e eliminação das dores não físicas o autoconhecimento é peça fundamental. E ele vai além do conhecimento de onde venho e para onde vou. Mais importante que os pontos de partida e de chegada está a trajetória, os caminhos por onde seguimos e pelo total entendimento dos nossos passos. E os caminhos por onde podemos seguir nos levam a um outro conceito anterior ao de felicidade, mais facilmente mensurável, que é o conceito de bem-estar.

O bem-estar é um construto e possui cinco elementos mensuráveis importantes:

1.           Ter e procurar ter emoções positivas é o primeiro elemento mensurável do bem-estar;

2.            Engajar-se nos projetos e atividades em curso faz com que não se veja o tempo passar, tão importante é o projeto;

3.       Procurar sempre por relacionamentos positivos, começa em eliminar relacionamentos tóxicos com pessoas que apenas retiram sua energia, ao mesmo tempo em que sinta empatia pelas pessoas;

4.          Colocar sentido, significado e propósito nas coisas nas quais se empenha e se engaja;

5.         Realizar, terminar aquilo que se começou e alegrar-se com o resultado e com o sucesso do empreendimento.

Resumindo, é possível ser feliz em qualquer idade, inclusive na maturidade. A felicidade aparece em momentos em que se consegue aceitar o sofrimento e eliminá-los por meio de mudanças significativas na vida, mudanças buscadas através de projetos com propósitos bem definidos. Mesmo a felicidade não sendo facilmente mensurável, pode-se chegar ao bem-estar com projetos onde se coloca pleno de emoções positivas, engajamento no processo, relacionamentos com pessoas agregadoras, projetos que têm sentido em sua vida e que você os realize até o ponto final.

Ou seja, não há um passo a passo, mas é possível fazer escolhas que nos conduzam a uma vida saudável, com pouco sofrimento e onde os desejos não sejam colocados em patamares inatingíveis. Para os budistas a felicidade está na supressão do desejo e no viver o presente como proposta. Não é fácil, mas é possível.

Felicidade: ficção do futuro escrita hoje. (Paulo Cezar S. Ventura)

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