Por Paulo Cezar S. Ventura (Nova Lima, MG)
Como ser feliz, agora que estou ficando velho? Existe ainda,
a esta altura da vida, a possibilidade de ser feliz? Aquela felicidade que não
consegui quando jovem, chegaria agora, quando passei dos sessenta? Então deixa
eu lhe responder diretamente, letra no olho. O que felicidade e idade têm em
comum é que a palavra “felicidade” engloba, incorpora, contém a palavra
“idade”. E só. Isso pode significar que a felicidade pode acontecer em
qualquer idade.
Mas, o que é a felicidade? Sou adepto das definições
operacionais porque elas nos ajudam a entender o conceito em si, objeto da
definição, e nos fornecem meios de mensurar aquilo que se define. Psicólogos das Universidades de Oxford e de
Harvard criaram questionários para medir, por vários métodos e instrumentos, o
nível de felicidade das pessoas. Eles acreditam que, para medir a felicidade, é
necessário avaliar fatores físicos e psicológicos, renda, idade, preferências
religiosas, políticas, estado civil, etc. Existiria, então, um padrão humano de
pessoa feliz? É preciso investigar, claro.
Pode-se dizer, entre várias outras afirmações possíveis, que
a felicidade
é um momento durável de satisfação, onde o indivíduo se sente plenamente
realizado, um momento onde não haja nenhum tipo de sofrimento.
Há duas afirmações interessantes nesse conceito. A felicidade
é um momento durável, não sendo infinito, momento este sem nenhum registro de
sofrimento. Há como medir este momento onde há ausência de sofrimento? O Dalai
Lama, líder espiritual do budismo, coloca a busca da felicidade como nosso
projeto de vida essencial. Segundo ele,
“O propósito de nossa existência é buscar a felicidade”
(Dalai Lama).
Vejam só: a felicidade está presente naqueles momentos de
ausência de sofrimentos, e que buscá-los deve ser nosso propósito de vida,
nossa busca incessante. E como nos livrarmos do sofrimento? Recorremos
novamente às palavras do Dalai Lama:
“O primeiro passo para nos livrarmos do
sofrimento é investigar uma de suas causas principais: a resistência à mudança”
(Dalai Lama).
Segundo essa afirmação, o primeiro passo para
se livrar do sofrimento é aceitar as mudanças. Porque elas sempre vêm. E se as
mudanças trazem sofrimento, então a saída é aceitar o sofrimento. Aceitar que
ele existe. O que não significa se entregar ao sofrimento. A aceitação não é um
ato masoquista. É entender o que acontece, é viver o presente. Não é fácil,
lógico. O sofrimento existe com várias caras diferentes: a não compreensão e
aceitação do passado é uma delas; a colocação dos desejos em patamares muito
altos é outra; a inveja, a ansiedade, a raiva, são ainda outras caras do
sofrimento. E as dores físicas, claro, proveniente de doenças.
Para bem viver o presente e eliminação das
dores não físicas o autoconhecimento é peça fundamental. E ele vai além do
conhecimento de onde venho e para onde vou. Mais importante que os pontos de
partida e de chegada está a trajetória, os caminhos por onde seguimos e pelo
total entendimento dos nossos passos. E os caminhos por onde podemos seguir nos
levam a um outro conceito anterior ao de felicidade, mais facilmente
mensurável, que é o conceito de bem-estar.
O bem-estar é um construto e possui cinco elementos
mensuráveis importantes:
1. Ter e procurar ter emoções positivas é o
primeiro elemento mensurável do bem-estar;
2. Engajar-se nos projetos e atividades em curso
faz com que não se veja o tempo passar, tão importante é o projeto;
3. Procurar sempre por relacionamentos positivos,
começa em eliminar relacionamentos tóxicos com pessoas que apenas retiram sua
energia, ao mesmo tempo em que sinta empatia pelas pessoas;
4. Colocar sentido, significado e propósito nas
coisas nas quais se empenha e se engaja;
5.
Realizar,
terminar aquilo que se começou e alegrar-se com o resultado e com o sucesso do
empreendimento.
Resumindo, é possível ser feliz em qualquer idade, inclusive
na maturidade. A felicidade aparece em momentos em que se consegue aceitar o
sofrimento e eliminá-los por meio de mudanças significativas na vida, mudanças
buscadas através de projetos com propósitos bem definidos. Mesmo a felicidade
não sendo facilmente mensurável, pode-se chegar ao bem-estar com projetos onde
se coloca pleno de emoções positivas, engajamento no processo, relacionamentos
com pessoas agregadoras, projetos que têm sentido em sua vida e que você os
realize até o ponto final.
Ou seja, não há um passo a passo, mas é possível fazer
escolhas que nos conduzam a uma vida saudável, com pouco sofrimento e onde os
desejos não sejam colocados em patamares inatingíveis. Para os budistas a
felicidade está na supressão do desejo e no viver o presente como proposta. Não
é fácil, mas é possível.
Felicidade: ficção do futuro escrita hoje. (Paulo Cezar S. Ventura)
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