quarta-feira, 1 de março de 2023

LINA E AS CICATRIZES

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

 

— Não fique parado, mostre-me seus encantos! — Falou Lina ao ouvido de Ezequiel. Ezequiel, deitado ao lado de Lina, então se despiu e fizeram amor insaciavelmente a noite toda.

Um pouco antes de amanhecer, antes que a universidade acordasse, Lina foi até ao refeitório. Ela sentia-se bem lá. Como de hábito, com um caderno de anotações. Lina ouviu os estalidos de saltos altos batendo no chão, a estudante sabia quem era e o perfume confirmou quem era.  

— És uma garota que estuda muito! Será mesmo, que vale a pena todos estes sacrifícios? — Perguntou a inspetora para Lina, como se soubesse de algo que a aluna vinha escondendo.

— Não me faça perguntas, preciso de sua confiança! — Respondeu Lina com a cabeça baixa e ainda preenchendo o caderno de anotações. A inspetora deu meia volta e os estalidos do salto alto aos ouvidos de Lina eram estrondos fortíssimos. Lina resolveu voltar para o alojamento antes que o refeitório se apanhasse de estudantes e funcionários e assim ela fez.    

Lina, agora maquiada, soltou os cabelos, passando pelos corredores lotados da Universidade, os garotos assobiavam e gritavam: — Linda! Gostosa! Quero ser seu objeto de prazer. E como de costume as garotas cochichavam, não disfarçando a ira.

Ezequiel ouvia e via tudo calado, olhava cabisbaixo, morrendo de ciúmes da amada. Lina fingia não ver Ezequiel, no decorrer do dia, ela o esnobava completamente. No término das aulas, Lina pegou seu boletim de notas, determinada como era, praticamente a melhor aluna do curso. Lina, cursava medicina.  Cansada, chegou ao dormitório, no qual dividia com Ezequiel.

— Finge não me ver? Perguntou Ezequiel não escondendo a tristeza.  

— Estou exausta, realmente não te vi! — Respondeu Lina friamente e tomou rumo ao banheiro, foi tomar seu demorado banho. Depois tomou rumo do quarto e foi dormir.                      

Ezequiel insone, estava parado de pé na porta do quarto de Lina. Passou e repassou a estranha relação que desenvolveu com a estudante, suas idas e vindas, altos e baixos. Ele resolveu se deitar ao lado de Lina.

— Criamos um vínculo e faz de conta que não existe? — Falou Ezequiel para a adormecida estudante. Ezequiel passou horas sentado, ao lado dela. De fato ela parecia estar exausta!

No dia seguinte Lina, não estranhou sentir e depois ver Ezequiel deitado e dormindo profundamente ao lado dela. A estudante se levantou com o cuidado de não acordar Ezequiel. Lina foi até o banheiro, lavou seu rosto e não se preocupou em pentear o cabelo.

Ao voltar para o quarto, Lina olhou fixo em Ezequiel, que ainda estava deitado na cama.

— O que aconteceu com seu rosto? — Perguntou Lina horrorizada.

Ezequiel não respondeu, simplesmente se calou. Haviam cicatrizes ainda abertas e sangravam no resto do estudante.  — Precisa procurar um médico.

— Cale-se! Gosto das cicatrizes, me fazem lembrar, o que devo evitar. — Falou enfurecido Ezequiel e abaixou a cabeça. Lina deu meia volta e voltou para o banheiro e por lá passou um tempo para digerir a citação que estava.

Lina decidiu voltar à vida normal, como se nada estivesse fora do lugar, tomou banho e voltou para seu quarto para se aprontar para mais um dia. Lina se aprontou, passou pela porta do quarto e pouco se importou como estava e onde estava Ezequiel.

 Chegando ao refeitório, a inspetora olhou bem para ela de cima a baixo.

— Espera que saibas o que está fazendo, qualquer coisa, estarei aqui! — Disse a inspetora de forma mecânica.

   Em um dos corredores da Universidade, um garoto muito agitado, bruscamente parou Lina, era um dos amigos muito próximo de Ezequiel

— Como tem coragem de dividir o quarto...

 — Não entendi, termine a frase, ou sente medo? — Perguntou Lina, não demonstrando medo.

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