Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
A
escuridão imperava, na estrada vicinal, a viela estava tomada por policiais
militares e policiais civis, ao longe jornalistas, em vão, tentam tirar as suas
fotografias e produzir vídeos, pois as máquinas digitais, não estavam
funcionando na plenitude, poucos aparelhos eletrônicos funcionavam, a bem da
verdade.
Uma
estranha ilha de luz, era aquele trecho da viela, a poucos metros da bem
iluminada avenida movimentada, repleta de lojas de departamentos e escritórios.
A viela, uma rua residencial, bem tranquila, ao final da mesma tinha um pequeno
rio, nas duas margens opostas, haviam pequenos atracadouros, para pequenas
embarcações e lanchas.
—
Tu engoliste, o papinho escabroso, daquela gótica esquisita? — Falou o
investigador Mattos Gama, sem olhar para o tenente Bastos, pois o policial
civil estava com os olhos ocupados.
—
Claro que não, tu viste o tal vídeo da madame bruxa? Alias! Qual o gótico ou
gótica que não é esquisito? — Disse o tenente Bastos.
—
Assisti sim, e está na perícia sendo analisado, fiz uma cópia pra tu, é claro!
— Falou o investigado e perguntou — Adivinha quem é a subcelebridade, que
figura no filmete da madame bruxa?
—
Lucas Ribeiro, vulgo Luquinhas das dunas, vulgo Liquinho, vulgo Rato e por aí
vai! — Respondeu o tenente da polícia militar.
—
Espertinho, ligou os pontos então! Começamos então a reconhecer um padrão aí, o
marginal encontrado morto, com o pescoço quebrado, depois de um pequeno voo
solo no submundo do crime! — Concluiu Mattos Gama, ainda com o olhar perdido,
para a cena do crime.
—
Mas, deixemos isto para depois e me diz olhando este quarteto aí em cima? Amigo
investigador da polícia civil e me diga qual é o teu olhar? — Perguntou o
tenente da polícia militar, olhando para os corpos sem vida.
—
Posso dividir em múltiplos olhares, meu caro Watson. O meu olhar, a princípio,
eu vejo a simetria, a equidistância perfeita, no vocabulário dos poetas
clássicos e engenheiros civis. — Respondeu, o investigador da polícia civil e
continuou — Estão com os braços em posição de Cristo e estão simetricamente
equidistantes entre si, os corpos estão quentes ainda, na verdade em
chamas. E
aposto os fios da minha barba, que estão embranquecendo, que os relógios, que
os nossos presuntos estão usando, pararam há três horas passadas. Mas isso tudo
pode ser medido e analisado, agora mesmo. Mas os corpos, assim vai dizer o
relatório do legista, que eles foram atingidos por uma onda, de deslocamento do
ar, devido à explosão de uma bomba, que os projetaram contra uma parede. É
isto, mas o que não se vê tenente Bastos? O que nem eu, nem o legista e mais
ninguém pode ver agora mesmo?
—
Diante destes palhaços neonazistas mortos, eu posso te dizer algumas coisas,
concordo contigo em gênero, número e grau. Eu só posso dizer, que eles foram
interrompidos, inesperadamente, pois vejo sangue nos coturnos e hematomas nos
nós dos dedos. E foram interrompidos, quando massacraram alguém, digo que é um
pequeno coletivo, aposto. E com muita sorte, é bem possível que estejam em
algum pronto atendimento, não muito distante daqui. E com as roupas cheias de
evidências, dos crimes desses caras aí em cima. Mas, o que nem eu, nem o
legista e mais ninguém pode ver agora mesmo? Simples, meu querido! Para onde
eles estão olhando? E eu te respondo, para o quinto elemento, meu querido
Sherlock Holmes!
O
tenente Bastos, chamou um policial militar, com ambas as mãos, pois os rádios
não estavam funcionando. O agente da lei, se aproximou bem rápido, Bastos falou
ao pé-de-ouvido do homem, o soldado saiu e voltou com uma escada portátil,
retrátil e pequena de metal com quatro degraus. O enorme tenente Basto, armou a
pequena escada, subiu até o último degrau, o militar tomou cuidado, para não
tocar nas grades do muro, ficou na altura dos corpos e os encarou com desprezo,
estavam com os olhos vidrados. Com dificuldade, se virou, tirou do colete uma
caneta laser vermelha e apontou para onde as vítimas estavam olhando. O tenente
teve então a visão dos homens mortos.
—
Bastos meu caro, creio que tu acabaste de enxergar, o que nem eu, o médico
legista e mais ninguém poderíamos ver com precisão, para onde estes bastardos
estão olhando. Passe, por favor, o binóculo visão noturna, para o tenente
Bastos. — Falou Mattos Gama, para um policial militar que estava atrás dele.
O
policial militar, de baixa patente, sem se mexer, jogou o objeto para o
superior, que ainda estava nas escadas. Bastos se curvou, pegou o binóculo,
levou até os olhos e ajustou o aparelho, que funcionava precariamente.
—
Mattos Gama, meu caro, eu acabo de encontrar o quinto elemento, por assim
dizer. — O policial não tirou os binóculos dos olhos enquanto proferiu essas
palavras. Ajustou o foco e aproximou ao máximo, o que o aparelho pode suportar.
No
alto da Torre Xoclengue, o álgido vento soprava, um pequeno bando de aves
negras e vagas, circundavam um corpo sem vida. Mais tarde, soubesse que era o
corpo de Oskar Boere, vulgo polaco, o líder local do grupo neonazista
Misanthropic Division, da secção local do Batalhão Azov. Preso, em posição de
cruz, por tiras feitas das próprias roupas, jazia com o pescoço quebrado, o
rosto estava voltado para o chão, com os olhos abertos, como quem apreciava a
cena, que se desenrolava lá embaixo.
O
policial militar, desceu da escada retrátil, salvou uma das imagens no cartão
de memória auxiliar, do binóculo militar de visão noturna, tirou o cartão,
colocou no compartimento no lado esquerdo do uniforme, quebrando o protocolo
militar. Chamou Mattos Gama, que estava a poucos metros dele, o policial civil
que notou a coisa, nem se importou com a quebra do protocolo. Os dois agentes
da lei, foram até uma viatura da polícia civil, longe dos olhares atentos dos
outros agentes da lei.
—
Vamos ver o que temos para hoje, meu amigo Sherlock Holmes! — Falou o tenente
Bastos, o oficial militar pegou um tablete no porta luvas da viatura e conectou
um cabo USB ao binóculo.
—
O campo magnético, está passando, se dissipando lentamente, como sempre
acontece, soube disse assim que ajustei a Betty para ver a fuça do cretino, lá
em cima.
—
Betty! Ora, tenente! O que há? Se apegando a estas novas tecnologias digitais,
por fim? — Brincou o investigado Mattos Gama.
—
Não enche Mattos, tu sabes que sou um homem carente de amor e carinho! —
Respondeu o tenente Bastos.
O
policial militar, demorou para ajustar os filtros do aparelho, os chuviscos da
tela de cristal líquido, pareciam uma velha TV preto e branco de tubo. Para pôr
a imagem com total nitidez, o policial militar levou a mão na tela para
aumentar o foco, Mattos Gama, se antecipou e levou a mão ao aparelho e
focalizou o rosto do cadáver. Eram uma batalha, de mãos e dedos para ver quem
melhor mexia no pequeno aparelho digital postado, no capô da viatura.
—
Quase isto soldado...Ops tenente! — Disse de forma irônica o policial civil.
—
Pensei que queria ver o rosto do elemento, não me atrapalhe! — Devolveu o
tenente da polícia militar.
—
Quase lá, quero ver o pescoço somente. Quero ver as lesões, de esganadura no
pescoço do meliante. Veja tenente Bastos, as mãos leves e dedos finos e
delicados de uma mulher. — Falou Mattos Gama apontado para o pescoço de Oskar.
O
aparelho mediu e tirou um molde de uma mão de mulher, que deixou gravíssimas
lesões no pescoço do homem, postado no alto da torre. Das muitas
inconsistências, tabeladas pelo aparelho, o que mais chamou a atenção, dos dois
experientes policiais, foram os formatos da mão versus a pressão feita no
pescoço da vítima. E outras inconsistências, mais precisas sugerem depois, das
necropsias dos corpos, com os laudos do legista, mas era o esperado pela dupla
de policiais.
—
De uma certa florista eu suponho! — Disse o tenente Bastos da polícia militar.
—
Não suponha nada, caro amigo e irmão de combate ao crime! Vamos nos ater aos
fatos e deixar as suposições de lado, pelo menos no momento presente. Nada de
supor e imaginar, e vamos aos fatos para depois supor, tal como esse cara
seminu foi parar lá em cima? E depois como ele ganhou as marcas no pescoço. E
por aí fora meu irmão de luta. — Disse Mattos Gama com pesar.
Fragmento do livro: Em dias
de sol e calor, em noite de tempestades e frio, Texto de Clarisse Cristal,
poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa
Catarina.
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