terça-feira, 1 de julho de 2025

EDITORIAL

 O Valor da Sabedoria

Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)

 

Nós, da Revista Cerrado Cultural, sempre nos lembramos das raízes que nos conectam. E não há raízes mais profundas e valiosas do que os nossos idosos. Eles são a memória viva de nossa história, a experiência acumulada e a sabedoria que pavimenta nosso futuro.

Em um mundo que preza pela velocidade, é fácil esquecer o verdadeiro valor que, muitas vezes, reside na paciência e no conhecimento que o tempo traz. Nossos idosos não representam apenas o passado. Eles são fontes inesgotáveis de ensinamentos, de histórias e de afeto que enriquecem as nossas vidas.

O respeito por eles vai além de gestos formais. É preciso reconhecer a dignidade de quem construiu o caminho que hoje trilhamos; valorizar cada conselho, cada sorriso, cada presença. E, além disso, dedicar tempo, oferecer ouvidos e afeto, combatendo a solidão que muitas vezes os cerca.

Assim como as árvores centenárias que continuam a dar frutos e a abrigar a vida, os nossos idosos continuam a ser os pilares de nossas famílias e de nossas comunidades. Valorizá-los é investir em um futuro mais humano e empático!

Que possamos sempre honrar e aprender com a inestimável sabedoria de quem já viveu tanto. O respeito aos nossos idosos é o alicerce de uma sociedade mais justa e mais plena.

Vidas Idosas Importam

O PROPÓSITO DE AMAR

Por Valéria Cristina Gurgel (Nova Lima, MG)


 

A LUA REFLETE O AMOR NO CÉU

 Por Valéria Gurgel (Nova Lima, MG)





SÓ OS AMIGOS VERDADEIROS FICAM

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Graça o tempo levou.

Os amigos falsos

fantasiados de amor.

Na vida fica só os

verdadeiros.

 

Amigos falsos o

universo está cheio.

Não quero muitos amigos.

Quero só os verdadeiros.

Sentir paz e leveza no ar.

 

Sair, curtir e zoar.

Graça o senhor

levou.

Amigos maravilhosos

me deu.

 

Na vida só os

amigos verdadeiros.

Só os verdadeiros

fica na minha vida.

Verdadeiros amigos.

 

MOMENTOS COM MEUS AMIGOS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Roda de amigos.

Comidas, bebidas e franguinho.

Um papo singelo e fresquinho.

Contemplando o luar.

 

Amizade é tudo que

temos para regar.

Amigos de verdade

é difícil encontrar.

 

Praia e compras

compartilhando risadas.

Trilha que ilumina a

nossa jornada.

 

Amigos é bom demais.

Crescer eu quero mais.

Momentos eu quero

sempre mais.

 

PARA MEUS EX-MELHORES AMIGOS

 Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Meus queridos Ex amigos.

Obrigada(o) por cada

momento partilhado comigo.

Isso de nós foi incrível.

Mais o tempo não quis eternizar.

 

Por isso, nossa amizade

ao fim chegou.

Não sinto raiva.

Apenas sou grata.

Afinal nada é para sempre.

 

É se nossa amizade acabou

foi por quê era o momento.

Não vou me lamentar.

Aconteceu como tinha

que ser.

 

Hoje sou grata a

Deus pelos que estão aqui.

Tudo tem um propósito para

o nosso início e fim.

Abraços da Lili.

QUE O TEMPO TRAGA DE VOLTA

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Oh tempo! Traga-me de volta aquilo

que Deus quer para mim.

Não deixa eu sofrer aqui.

Ensina-me a lidar com o fim.

Pois Deus tem o melhor para mim.

 

Pessoas entra e sai da

minha vida assim.

Não permita que eu sofra.

Nem mesmo que eu morra.

Ensina-me aceitar o fim.

 

É preciso do fim

para as coisas novas chegar.

Ensina-me o fim aceitar.

Colher o novo sem questionar.

Abraçar o agora.

 

Traga de volta aquilo

que Deus quer para mim.

Oh tempo, ensina-me.

Oh tempo cura-me.

Oh tempo guia-me.

Instagram: @liecifranborgesmartins

 

E AS ÁGUAS ESTÃO VOLTANDO..

Por  Manoel Ianzer (São Paulo, SP)



 

O problema não são

          as chuvas

são as areias

e os pedregulhos

dos embaçados órgãos

              públicos

que assistem pelas janelas

         de seus palácios

na segurança da parte alta        

         da cidade alegre

que tenta se recuperar

desde dois mil e vinte e quatro             

o sorriso sumiu

com a chegada das águas

a qualquer momento de

               surpresa

as lágrimas escorrem

pelo rosto da Rua da Praia

pelo corpo da Cidade Baixa

pela dor do coração

           do Menino Deus

e os vizinhos da Grande Porto

                      Alegre?

Canoas e São Leopoldo

normalmente são alagados

de ponta a ponta

 

MEU PAI CRIADOR

          do Universo

 

não basta nosso esforço

nossa luta tem sido em vão

perante os seres desumanos

do nosso Planeta em decomposição

onde palavras e atitudes

apenas enrolam

e a mentira vence na marra

 

esperamos...

      acreditamos...

                 confiamos...

                      cremos!

 

o momento é do nosso

MESTRE SALVADOR

é DELE a resposta para nos salvar

porque tem o poder

a verdade

         e a vida

de suas brilhantes ideias

de suas preciosas mãos

de seu generoso coração

de sua poderosa força

 

ELE voltará? Não

 

JÁ VOLTOU... está entre nós

 

e está em nosso entorno

envolvido e assistindo a tudo

em pensamento

em sentimento

em espiritualidade

carinhosamente numa dimensão

                       universal

amorosamente em harmonia cósmica

simplesmente fascinante

refletindo no nosso “EU” interior!

 

A FLORISTA DA RUA 57 (O ANCESTRAL E O MODERNO)

 Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

Sinto-me tão agraciada

Por saber que as minhas verves

São aladas aves raras  

São usadas como ferramentas

De ensino e inspiração!

***

Sento-me honrada por saber

 Que a minha divinal

E sacrossanta arte abstrata

 Desempenhar um papel

Tão significativo no deserto do real

 Enche-me de alento e gratidão

***

E de deparar na rua

Com alguém que eu não conheço

Dizendo-me que eu sou é responsável

Por filigranas de felicidades fugazes

Nestes dias de pós-modernidade fluidas

***

Pensei que as minhas belas-letras

Desvaneceriam para todo o sempre

Nas imensidades dos nadas absolutos

Que fluem nas redes sociais digitais

***

Feliz Dia da Terra disse para mim

Uma belíssima florista vaporosa

 Que estava na calçada da rua 57

Pedi à arcangélica dama do lago  

Sintécticas flores negras do tédio

E orgânicas flores vagas

***

Penso eu que ás vezes

A única forma de expor

A minha maturidade inexorável

É encomendar místicas flores

De uma pessoa desconhecida

No meio de uma rua

Convulsivamente movimentada  

 Fazendo que os passantes ao lado

Entendam que sou realmente

Uma mulher madura

***

Um outro fato da vida muito engraçado

É que acabei de receber um cartão de papai

Sai para comprar bebidas e cigarros

Na Doca 21  

Esqueci-me da minha carteira de identidade  

Mas disse à atendente

Que era maior de idade

Ela não acreditou na minha pessoa  

Chamou o chefe e ele também

Não acreditou na minha infanta pessoa

Escuso dizer que saí dali

Sem a minha dignidade, sem os meus cigarros

E sem as minhas bebidas  


Fragmento do livro, Sustentada no ar por negras asas fracas, texto de Clarisse Cristal, poetisa, cronista, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

NÓS DOIS A CAMINHAR ENTRE OS ASTROS MORTOS

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)


Pudera eu viver de fantasias,

Acalentar falsas alegrias!?

Pudera eu viver sem receios,

Acobertada! Sem tantos medos!?

***

Dos meus lúdicos versos convulsos

São algaravias sem poesias

Sem métricas, sem artes

Sem ritmos e sem rimas

Que histéricos gritam

Eu não posso mais

Viver sem você

***

Ah...Como dúvida o meu coração.

Se ao menos! Tivesse ele alguma razão...

Minh’alma surge e me consola,

Leva-me calma, não me isola.

***

Do que os olhos não podem ver

Do que as mentes não podem crer

O que os outros não podem sentir

Trago-te abstrata,

Completa, excelsa e lânguida

Para dentro dos cósmicos

Estros meus

***

Mas! Levanto-me, me sinto tão fria.

Nenhuma luz me envolve, me deixa vazia.

Não, tudo isso é pura melancolia!

Vivo plena! Em constante alegria.

Pois vivo d’versar, e rimar magia,

Poesia, me refaço, com maestria...!

***

Pudera então somente

Nós dois! Quedos literatos eviternos

De mãos dadas e caminhar

Entre os astros-mortos

 

Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisos. Texto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.

Texto e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.

 

NÃO CORRA, MARIA (AS CONSEQUÊNCIAS DA PANDEMIA DE COVID-19)

 Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

             No momento que ocorre este drama, o estado do Maranhão tem mais de mil e seiscentos registros no interior em vinte e quatro horas e passa e dos mil centos e um mil, casos confirmados de Covid-19!

         Maria segurava firme nos braços seus dois filhos, ainda pequenos e ela estava amedrontada, caminhavam pela mata afora, na completa escuridão. A família, estava não muito longe da favela, onde viviam e pareciam fugir de alguém ou de alguma coisa apavorante. Muito cansada, Maria se sentou perto de um minúsculo córrego, de águas cristalinas, estavam famintos e sedentos. Beberam água e comeram o pouco do que tinham levado.

        Logo depois, recomeçaram a caminhar e chegaram em pouco tempo à beira de uma estrada deserta. Um carro parou, a poucos centímetros da família em fuga e o vidro do carro baixou.

         — O que estão fazendo aqui? Este é um lugar perigoso! — Disse a motorista, assustada e muito preocupada com a cena, que via. Uma mulher jovem, vestida com roupas simples e com dois meninos pequenos. Estavam maltrapilhos, vagando no meio do nada caminhando tarde da noite em uma rodovia deserta.

         — Por favor, minha senhora! Sai daqui agora! Ele vai me ver, vai embora! — Sussurrou Maria aflita para a motorista. 

          A motorista olhou com mais atenção e viu os hematomas no rosto magro e sofrido de Maria, os olhos vermelhos e roxos.

         — Mas ele quem, minha senhora? A senhora não quer mesmo uma carona? — Disse a motorista em um tom confortador.

         De repente, chegou um homem alto e forte e puxou Maria pelos cabelos com força, a levando novamente em direção a mata fechada. Maria tropeçou e foi ao chão, levando as duas crianças junto, a pequena bolsa que ela carregava se rasgou espalhando, os poucos pertences da família. O homem com tufos de cabelo de Maria na mão, olhava ameaçador ergueu o punho e jogou os tufos de cabelo em cima da mulher.    

          — O que pensa que está fazendo mulher, tu vais voltar pra casa agora! — Grito o homem com muita raiva.

            Maria se levantou, ela não chorava e nem se lamentava. As crianças choravam e corriam, tentando acompanhar o casal. Família entrou mata a dentro e foram tragados pela escuridão.

          — Larga minha mãe, larga ou chamamos a polícia! — Gritou o filho mais velho e começou a chorar alto.

          A motorista, atônita com a cena que presenciou e o que escutou de longe, pois as vociferações chegaram até ela, então percebeu que era o esposo e estava a violentando. Ela pensou em agir, mas não saiu do carro, pois o homem poderia estar armado. Mas não podia ver tamanha covardia e ficar quieta. Peguei o celular, mas não havia sinal no lugar ermo, ela saiu dali às pressas e foi encontrar ajuda no posto policial, não muito longe dali. Ali ela descobriu que o homem era velho conhecido da polícia, cheios de denúncias de pequenos delitos, agressões e violência doméstica.  

          Não demorou logo em seguida, chegaram autoridades na comunidade onde Maria vivia! Algemaram o agressor, ou seja, aquele monstro, e o levaram para delegacia, onde foi preso pois tinha um mandado de prisão em aberto. Enfim, Maria descansou, sentou-se em frente à casa e abraçou os filhos, vendo o marido aos berros ser levado pela polícia. Além de ser violentada, sofreu durante anos pressões psicológicas.

          A denunciante, ao em chegar em casa, ela que por anos trabalhou como escrivã, em uma delegacia de polícia civil, incomodado que estava foi pesquisar alguns dados sobre violências domésticas e foi isto que ela descobriu: Os índices de mulheres violentadas na pandemia da Covid-19 aumentaram, em torno de cinquenta por cento. Mais de quinhentas mulheres, são agredidas a cada hora no Brasil. A perda ou diminuição da renda familiar, pode ser um dos motivos. Como se não bastasse o aumento de bebidas alcoólicas leva jovens fora da escola a consumir bebidas em exagero.

             A escrivã aposentada após a leitura da pesquisa deixou esta mensagem na rede social dela: ‘’vamos refletir! Se acaso não formos vítimas, mais vizinho, ou parente, não devemos nos calar! Ligue 180 ou 190’. Nenhuma mulher merece sofrer violência doméstica, sexual, ou até mesmo psicológica, causando danos morais e diminuição do autoestima.''

          Enfim, não corra Maria, dê um basta na violência física, psicológica, sexual e moral. Não corra Maria

Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisosTexto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.

Texto e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina. 

MAIS UMA VEZ ELIZA (EM RECAÍDA)

 Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

Verão a pino e, o calor estava insuportável e eu decidi pegar a velha bicicleta e sair para tomar um pouco de ar, decidi tomar a tranquila alameda ao fim da alameda. Inconscientemente, eu mudei de rumo e enfrentei na agitada avenida, a três quarteirões além, um pouco mais adiante, estava o prédio onde Bruno, um amor antigo, morava com a família.

Parei, e da rua pude vê-lo bem, ainda estava jovem, estava feliz brincando com os filhos pequenos, no parquinho do condomínio fechado. Curiosa que estava, eu queria saber mais, sem que ele notasse, passava sempre ao final da tarde para espiá-lo, ele ainda chamava minha atenção.

Lembrei da época, quando éramos crianças e estudávamos juntos em um rígido colégio particular. Havia a secção, para os meninos e a secção, para as meninas, a gente só se encontrava na hora do recreio, para brincar juntos, sobre olhares atentos de inspetores. Crescemos separados, mas um pouco mais crescidos em baile ou festa, sempre nos encontrávamos e trocamos olhares e breves palavras. Então, na festa de formatura, entre sorrisos e abraços, entre as comemorações da realização pessoal e familiar. Onde os olhares rigorosos, por fim, deram descansos para todas e todos, em um rompante juvenil, depois de troca de olhares, fisguemos da festa. E nos amávamos em segredo em um ato de rebeldia!

E a vida dá muitas voltas, nos separamos e cada um seguiu o seu próprio caminho. Hoje, vendo-o novamente, o meu coração disparou, voltei novamente ao nosso passado remoto. Passado, distante no tempo e no espaço, no qual nunca foi bom para mim, cheio de mentiras, meias verdades, traições. E de tudo que poderia ter sido e não foi, tudo mexeu com o nosso lado psicológico.

— Elizabety, sou eu o Bruno! Entre, vamos beber algo. — De repente escuto a voz dele, me chamando para o tempo presente, para a realidade dura e cruel! Ele notou a minha presença, por fim e, eu perdida em mim, não havia notado ele se aproximando.  

— Como estás Bruno?! — Disse eu constrangida, pois não sabia quando Bruno tinha sentido a minha presença. Ele, se aproximou do portão do prédio, parecia que tinha esquecido por completo a prole atrás dele. E os filhos nem se deram conta que o pai deles estava conversando com uma completa estranha parada no meio da rua.

— Estou bem! Sinto muito a tua falta — Respondeu Bruno, com a voz embargada.   

— Como assim? Sentiu a minha falta!? — Devolvi furiosa e pensei comigo mesma, Bruno sempre viveu de mentiras, a vida dele era uma farsa! — Não, não, e não preciso ir embora. — Esbravejei olhando na cara de Bruno. Corri, nunca mais voltei a passar na frente do prédio onde Bruno vivia e nunca mais o reencontrei.

Recomecei a minha vida, longe daquele homem fraco, que vivia me enganado com juras falsas de amor eterno, foi apenas uma recaída e nada mais. Decide viver a minha vida, sem olhar para trás!

Para recomeçar é necessário evoluir, é preciso ter amor próprio para dar a largada. Que haja em nossos corações vontade de recomeçar, não apenas vontade, mas também muita coragem! Quanta a Bruno!? Já não sentia mais nada por ele....! Apenas uma certa curiosidade.

 

Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisosTexto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.

Texto e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina. 

DERRAMADA EM CAMADAS DE QUEM EU DEVERIA SER...

 Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

São dias escuros e noite convulsas

O tempo em que vivo

Eu não me importo com as anêmicas

Particularidades cotidianas

Que gravitam ao meu redor

***

Talvez! Digo eu então somente

Talvez e os meus ligeiros estros

Fossem mais sinuosos e curvilíneos

Tu me olharias com amenos olhares serenos

Eu não seria tão sorumbática assim

***

Se é verdade que o dito amor verdadeiro

Não conhece barreiras

O amar e o ser amada

Então é uma doidivanas desafinada

A cantar uma longa e triste canção

Nas ondas do rádio

***

E pensar que papai

Nunca levou mamãe para dançar

Nunca tiveram a sensação

De chegar em casa ao amanhecer

De um novo dia no pós-turbilhões

De espontâneos movimentos graciosos

Com a sensação ímpar

De tirar os sapatos dos pés

E cansados se atirarem na cama

***

Percebo fundamente

Que não vivo em um lar funcional

Somos nós contra o mundo

Disseram-me no almoço de domingo!

Translado-me então! Para um lugar comum

Certifique-me que vou escolher

Sabiamente os caminhos

Que devo trilhar

 

Fragmento do livro, Sustentada no ar por negras asas fracas, texto de Clarisse Cristal, poetisa, cronista, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

 

UM ESTRANHO CASO

 Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)


Ao anoitecer, um silêncio pairava no ar no velho casarão, uma inquietação me fez despertar, era tarde da noite. Acordada sai da cama, então sonolenta desci as escadas, liguei o alerta total, alcancei o primeiro andar, fui beber um copo de água. Uma vez na cozinha, não abri a geladeira e decidi ir direto para pia, peguei um copo de cristal no armário. O barulho da torneira, ainda enchia os meus ouvidos, a água quase transbordava no copo, quando uma voz glacial, inundou o ambiente. Olhei para trás era um homem mal-vestido.

 — Podes me arrumar um copo de água, por favor! — Disse o estranho.

           — O que? — Perguntei, estava desconcertada.

Em meio aos turbilhões de sentimentos e pensamentos confusos, só uma pergunta, ficou martelando na minha cabeça: ‘’— Como um completo estranho entrou na minha casa!’’

Como, se asas brotassem nos meus pés, voei pelas escadas e voltei para a segurança do meu quarto. No meu quarto, repassei a cena, tinha um completo estranho na minha cozinha, tinha os fortes olores de jasmim misturados com o odor putrefato de alguém que vive nas ruas. Tinha os olhos azuis ejetados e um sorriso com dentes e hálitos perfeitos. Tinha o som estridente, do copo cheio de água gelada, que a gravidade lançou ao chão. Tinha a minha necessidade de deitar-se na minha cama, me cobrir o meu corpo, dormir e acordar em um mundo que fazia sentido.   

Ao acordar, no meu quarto e na minha cama, me levantei e olhei no espelho, eu lentamente desci as escadas. Os fortes odores tinham desaparecido e na cozinha lá estava ele, o homem misterioso, sentado na mesa da cozinha. Olhei para o relógio, postado na parede era madrugada e nada dele querer partir. Naquela hora tive um pensamento esquecido que talvez ele estivesse morto. Mas, a respiração dele ficou cada vez mais ofegante, parecia irado, eu fingi não estar preocupada, mas o meu corpo estava gelado. Perguntei para o estranho quando iria embora, e ele em um rompante me pegou pelo braço, jogou-me na parede, me beijou. O forte odor, me invadiu de novo, e como adivinhando o que eu sentia, o estranho me largou e me disse que precisava tomar um banho. Pegou na minha mão, com uma delicadeza máscula, me conduziu para fora da cozinha e rumamos ao desconhecido. 

O estranho, agia como se fosse o dono da casa, como se conhecesse a casa pois subiu as escadas, invadiu o meu quarto, acendeu a luz, foi até o guarda-roupas, pegou uma toalha e partiu rumo ao meu banheiro. Mandou-me ficar bem quieta. Tirou as roupas encardidas, notei o carpo atlético do estranho, ele entrou no box de acrílico e fechou, abriu o chuveiro, 

Profanação! Estou desejando um estranho, uma pessoa que conheço. Não resisti, entrei no box e subitamente me entreguei aquele estranho! Sedento, parecia devorar cada parte do meu corpo, com força colocou a mão na minha boca e mandou eu ficar quieta! Mandou-me não gritar e somente sentir.

Lá fora a vida ocorria naturalmente e começou a chover forte, e na minha realidade a madrugada parecia assustadora, nada dele ir embora. Depois do banho ele me amarrou na cama, desceu as escadas, escutei o barulho, abriu a torneira. Voltou com um copo de água nas mãos, ele segurava com as duas mãos firmes.  Molhou meu corpo e delicadamente secou com sua boca, me fez sentir os prazeres requintados, ele era um cavaleiro!

Deliciou-me de profundos prazeres libidinosos, entre muitos beijos ardentes e orgasmos, nossos corpos se encaixaram no pecado! Profanação!? Não sei? Me sentia completa, e ali, nosso estranho amor foi consumado, selado. Diante das minhas perguntas! Calou-me apenas com um beijo...! Ele partiu!

Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisosTexto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.

Texto e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina. 

 

VEM SUPRIR OS TEUS IMPUDICOS DESEJOS

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

’Das brancas noivas, tira-se o véu,

O mais fino linho de que se veste

Graça! Belíssima!

Mas o que tenho a lhe ofertar?

Só meu apreço por ti! Meu amor...’’

Patrícia Raphael

 

Paixão que me faz delirar e lamentar.

Dias de calmaria e outros de tormento.

Mas como viver, sem amar, não posso,

***

Entrego-me por inteiro a ti

Meu amor etéreo

Minha purpura paixão supra-real

Neste tempo de realidade fluída

Onde nada fica no seu devido lugar

***

Como te venero, tu despiu a minh’alma.

Escuta! Quero suprir todos os teus desejos.

Poder ser toda tua, este meu corpo trêmulo.

Com minha boca quero sentir a tua,

***

Quero sentir em total êxtase

O teu cálido corpo incorpóreo

 No alvar! Ao final da tarde

Na alvorada rubra

No dulcíssimo místico vergel

Das almas perdidas

***

Cá estou, domina, quero ser a tua musa.

Ah! Meu amor, como estou a te buscar.

Viver assim, suplicio, desatino basta!

***

Alva és tu a minha musa magnificente

Que tranquila

 Dormita pudica e tranquilamente

E um rio de límpidas águas

***

Toma-me em teus braços,

Meu venerando negro poeta.

No teu corpo febril quero me aconchegar….

Ao teu lado adormecer, acordar e me entregar,

Prometo saciar os teus fetiches.

Em venial pecado!...

Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisosTexto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.

Texto e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.