Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Sinto-me tão agraciada
Por saber que as minhas verves
São aladas aves raras
São usadas como ferramentas
De ensino e inspiração!
***
Sento-me honrada por saber
Que a minha divinal
E sacrossanta arte abstrata
Desempenhar um papel
Tão significativo no deserto do real
Enche-me de alento e gratidão
***
E de deparar na rua
Com alguém que eu não conheço
Dizendo-me que eu sou é responsável
Por filigranas de felicidades fugazes
Nestes dias de pós-modernidade fluidas
***
Pensei que as minhas belas-letras
Desvaneceriam para todo o sempre
Nas imensidades dos nadas absolutos
Que fluem nas redes sociais digitais
***
Feliz Dia da Terra disse para mim
Uma belíssima florista vaporosa
Que estava na calçada da rua 57
Pedi à arcangélica dama do lago
Sintécticas flores negras do tédio
E orgânicas flores vagas
***
Penso eu que ás vezes
A única forma de expor
A minha maturidade inexorável
É encomendar místicas flores
De uma pessoa desconhecida
No meio de uma rua
Convulsivamente movimentada
Fazendo que os passantes ao lado
Entendam que sou realmente
Uma mulher madura
***
Um outro fato da vida muito engraçado
É que acabei de receber um cartão de papai
Sai para comprar bebidas e cigarros
Na Doca 21
Esqueci-me da minha carteira de identidade
Mas disse à atendente
Que era maior de idade
Ela não acreditou na minha pessoa
Chamou o chefe e ele também
Não acreditou na minha infanta pessoa
Escuso dizer que saí dali
Sem a minha dignidade, sem os meus cigarros
E sem as minhas bebidas
Fragmento do livro, Sustentada no ar por negras asas fracas, texto de
Clarisse Cristal, poetisa, cronista, contista, novelista e bibliotecária de
Balneário Camboriú, Santa Catarina.
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