Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Ao anoitecer, um silêncio
pairava no ar no velho casarão, uma inquietação me fez despertar, era tarde da
noite. Acordada sai da cama, então sonolenta desci as escadas, liguei o alerta
total, alcancei o primeiro andar, fui beber um copo de água. Uma vez na
cozinha, não abri a geladeira e decidi ir direto para pia, peguei um copo de
cristal no armário. O barulho da torneira, ainda enchia os meus ouvidos, a água
quase transbordava no copo, quando uma voz glacial, inundou o ambiente. Olhei
para trás era um homem mal-vestido.
— Podes me arrumar um
copo de água, por favor! — Disse o estranho.
— O que? — Perguntei, estava desconcertada.
Em meio aos turbilhões de
sentimentos e pensamentos confusos, só uma pergunta, ficou martelando na minha
cabeça: ‘’— Como um completo estranho entrou na minha casa!’’
Como, se asas brotassem
nos meus pés, voei pelas escadas e voltei para a segurança do meu quarto. No
meu quarto, repassei a cena, tinha um completo estranho na minha cozinha, tinha
os fortes olores de jasmim misturados com o odor putrefato de alguém que vive
nas ruas. Tinha os olhos azuis ejetados e um sorriso com dentes e hálitos
perfeitos. Tinha o som estridente, do copo cheio de água gelada, que a
gravidade lançou ao chão. Tinha a minha necessidade de deitar-se na minha cama,
me cobrir o meu corpo, dormir e acordar em um mundo que fazia
sentido.
Ao acordar, no meu quarto e na
minha cama, me levantei e olhei no espelho, eu lentamente desci as
escadas. Os fortes odores tinham desaparecido e na cozinha lá estava ele, o
homem misterioso, sentado na mesa da cozinha. Olhei para o relógio, postado na
parede era madrugada e nada dele querer partir. Naquela hora tive um pensamento
esquecido que talvez ele estivesse morto. Mas, a respiração dele ficou cada vez
mais ofegante, parecia irado, eu fingi não estar preocupada, mas o meu corpo
estava gelado. Perguntei para o estranho quando iria embora, e ele em um
rompante me pegou pelo braço, jogou-me na parede, me beijou. O forte odor, me
invadiu de novo, e como adivinhando o que eu sentia, o estranho me largou e me
disse que precisava tomar um banho. Pegou na minha mão, com uma delicadeza
máscula, me conduziu para fora da cozinha e rumamos ao desconhecido.
O estranho, agia como se fosse
o dono da casa, como se conhecesse a casa pois subiu as escadas, invadiu o meu
quarto, acendeu a luz, foi até o guarda-roupas, pegou uma toalha e partiu rumo
ao meu banheiro. Mandou-me ficar bem quieta. Tirou as roupas encardidas, notei
o carpo atlético do estranho, ele entrou no box de acrílico e fechou, abriu o
chuveiro,
Profanação! Estou desejando um
estranho, uma pessoa que conheço. Não resisti, entrei no box e subitamente me
entreguei aquele estranho! Sedento, parecia devorar cada parte do meu corpo,
com força colocou a mão na minha boca e mandou eu ficar quieta! Mandou-me não
gritar e somente sentir.
Lá fora a vida ocorria
naturalmente e começou a chover forte, e na minha realidade a madrugada parecia
assustadora, nada dele ir embora. Depois do banho ele me amarrou na cama,
desceu as escadas, escutei o barulho, abriu a torneira. Voltou com um copo de
água nas mãos, ele segurava com as duas mãos firmes. Molhou meu corpo e
delicadamente secou com sua boca, me fez sentir os prazeres requintados, ele
era um cavaleiro!
Deliciou-me de profundos
prazeres libidinosos, entre muitos beijos ardentes e orgasmos, nossos corpos se
encaixaram no pecado! Profanação!? Não sei? Me sentia completa, e ali, nosso
estranho amor foi consumado, selado. Diante das minhas perguntas! Calou-me
apenas com um beijo...! Ele partiu!
Fragmento do livro: Duas
lágrimas, duas vidas e dois sorrisos. Texto e argumento de
Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.
Texto e revisão de Samuel da
Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa
Catarina.
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