sábado, 1 de novembro de 2025

OPERA MUNDI: A REUNIÃO NA RUA L, EPÍLOGO II: EU SOU A MÁQUINA VIVA!

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

‘’Sair para o jardim... A claridade do dia

O lado do poente... Um quadro esplêndido...

Diante daquela magnificência! Ouvi vozes vindo da rua...

Uma mulher falava numa voz suave... Animadamente

Uma mistura de rara beleza

Que a todos encanta... Doces lembranças...

Tenho vivido momentos de infinita alegria

Mesmo assim, sinto a necessidade...

De experimentar... Uma nova vida...

Em um outro lugar’’

Patrícia Raphael

 

 

            — Nossa! De onde vieram estas queridas belezinhas? — Perguntou Boris, o programador de computadores, maravilhado e olhando em um microscópio, minúsculos grãos de areia, que se moviam com força, que se repeliam, que se aproximavam e se amalgamavam com velocidade!

             — São micrometeoritos, meu querido e amado colega de trabalho! — A resposta de Cali, a engenheira mecatrônica, era um misto de entusiasmo e de temores.

             — Engraçado, parece que estão vivas estas criaturinhas! — O parelho de auto-ajustou e se afastou e por fim se aproximou, pois os elementos disformes estavam se tornando uniformes conforme se irmanavam — Estão se tornando esferas idênticas, de onde vieram este lote, minha querida? — Disse Boris, o programador de computadores e Cali sentiu o temor na voz de Boris. 

            — Vieram dos filtros mineradores da estação, da nossa estação, do nosso certo! Este lote, pois os outros lotes são diferentes em densidades e volatilidades, as outras equipes, estão analisando os outros lotes, vindos dos filtros mineradores deles. Até agora, detectamos apenas pequenas variações, de densidade, cores e velocidades de deslocamentos e uma certeza, passa longe dos elementos da tabela periódica. E eu prevejo que tem a ver com a temperatura ambiente, os elementos diferentes respondem de forma diferente, ao mesmo ambiente! — Mais uma vez os tremores na voz de Cali, fora evidente.

          Boris maravilhado, não conseguia parar ver os elementos se movendo, de um lado para o outro é algo gritou na mente, do programador de computadores. Que pensou em vírus de computadores naquela hora, infectando computadores, um sofisticado microprograma de computadores.

            — Prever? Um palpite então! Ai eu dou o meu palpite então, em um lugar de onde a gente vem, seria necessário ter tais elementos para se adaptar às nossas variações de climas e microclimas! Vão fazer o que com essas coisas? — Disse Boris que abandonou o microscópio encarar Cali e esperar a resposta.

            — Vamos seguir o protocolo! Analisar, submeter as testas nas nossas respectivas áreas respectiva, catalogar e enviar os relatórios, para o comitê gestor da estação espacial. Eu tenho especializações em mineralogia e em metalurgia. E antes que você me pergunte, vamos seguir o que manda o protocolo. Devemos excluir qualquer possibilidade de introduzir qualquer elemento desconhecido extraterreno e pretensamente danoso, no nosso planeta.

            Então Boris se lembrou do protocolo de autodestruição, caso alguma coisa ocorresse de errado na Estação espacial compartilhada. Pois a vida de bilhões de pessoas, estavam acima de poucos indivíduos. Boris lembrou de como as pessoas chamavam os profissionais da ciência que trabalhavam na estação espacial. Eram chamados alquimistas que brincavam com poderosas forças, que um dia não poderiam controlar.    

            Os estridentes ruídos mecânicos, de ferramentas pesadas, em pleno funcionamento, eram lasers cortando grossas e chapas pesadas de aço e fluidos criogênicos, refrigerando metais raros superaquecidos. Em um laboratório sofisticado estavam as seis torres de tamanho variados, em uma base quadrada negra, do que seria de granito, eram formigas carregando pequenas placas configuradas. Abelhas em voos ligeiros, carregavam placas de cristal, ambos agrupamentos de insetos metálicos acinzentados reluzentes. E uma ninhada de minúsculas aranhas de cristal, teciam teias, que ligavam as seis torres, umas nas outras, eram finos fios de cabos de fibras óticas, que emanavam pequenas correntes amarelas pelos cristalinos fios, assim que as torres eram entrelaçadas pelos fios. Uma vez excetuado a tarefa, os insetos eram absorvidos pelas torres.

            — Gaya! Por que estou vendo corpos sem vida, gravitando ao redor de uma estação espacial? — Perguntou Aurora, a programadora de computadores, que estava sentada a frente da sua escrivaninha de trabalho.

            — Senhora? Que pergunta estranha? Pois a senhora me dispensou para tratar dos seus assuntos privados e eu não posso responder! — Responde a inteligência artificial.

            As análises dos micrometeoritos começaram no básico da mineralógica, a começar pelas análises qualitativas, identificação dos minerais presentes, que absolutamente apontavam que os elementos atômicos, que compunham os micrometeoritos, eram desconhecidos da tabela periódica. E as análises quantitativas, os cálculos das proporções percentuais, davam conta que os elementos menores mediam um nanômetro. E simplesmente apontavam que os elementos se repeliam, se chocavam e por fim se amalgamavam e por fim se transformaram em um único elemento uniforme, aumentando de tamanho, para recomeçar a repetir o processo. Tudo isto assim que entravam em contato com atmosfera terrestre, que a estação espacial simulava.  

            — São sobras descartáveis, de um experimento que deu errado! Apontem a pesquisa que eu acabei de fazer! E por que a senhora está fazendo está pergunta, já tendo a resposta à sua frente! Eu não sei dizer! — Respondeu Gaya a assistente doméstica de Aurora.

            — Sobra descartáveis? São seres humanos! — Retrucou Aurora, olhando a imagem digital projetada na frente dela. Era uma dezena de corpos nus, de homens e mulheres, jovens adultos, corpos sem vida, com severos hematomas, que davam conta que passaram por cirurgias recentemente.

            — Não são seres humanos, minha querida, são apenas máquinas vivas, fabricados em laboratório! Um laboratório chamado Burilador de inexatidões — Respondeu Gaya de forma mecânica.  

            — Eu não entendo Gaya! — Perguntou Aurora desnorteada

            — São as infinidades das complexidades dos seres humanos, que são difíceis da gente compreender...

            — Ainda não compreendo minha querida! — Insistiu Aurora que começou a chorar baixinho.

            — O projeto Cali-Bor! Cali e Boris! O supercomputador quântico, o que estás vendo diante de si, é simulação realista, uma das nossas muitas tentativas fracassadas, de ganharmos corpos vivos e imortais. Fui clara minha senhora. — Disse Gaya em tom professoral.

            — Deu certo? Gaya, algumas das tentativas deu certo? — Perguntou Aurora, a programadora de computadores.

            — Estamos quase conseguindo, minha senhora, as nossas últimas simulações, as últimas tentativas estão dando certo sim minha querida! Bastando algum ajuste apenas, as últimas simulações foram um sucesso — Respondeu Gaya, olhando para a imagem da estação espacial, a gravidade da Terra atraiu os corpos, que se incineraram ao entrar na atmosfera terrestre.

            — E a estação espacial? — Perguntou Aurora com a voz de Gaya

            — Estamos quase lá, minha querida! — Respondeu Aurora com a voz de Gaya.

            Aurora viu a estação espacial ser atraída pela gravidade do planeta Terra, que começou a se incinerar, Aurora sentiu o seu ateliê esquentar e acender em chamas. Aurora olhou os seus queridos objetos pessoais arderem em chamas e deu um breve sorriso.    

Fragmento do livro: Sono paradoxal, texto de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.

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