sábado, 1 de novembro de 2025

OPERA MUNDI: A REUNIÃO NA RUA L, LUZES TÍMIDAS E A GAIA CIÊNCIA REVISITADA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

‘’Hipnotizantes luzes cinéticas

Amálgama de tecnologias digitais

 E a natureza morta pós-moderna

Em eviternos movimentos

Constantemente, uniformes

Variados, retilíneos e curvilíneos’’

Clarisse Cristal

 

            Os vaivéns dos pequenos robôs, em cima da mesa de acrílico, feriram o senso de praticidade e de lógica cartesiana, dos protocolos inseridos nos bancos de dados de Gaya. Eram minúsculos dispositivos mecatrônicos, em formatos de insetos, eram formigas, abelhas, escaravelhos e besouros, que trabalhavam silenciosamente em cima de uma bancada. Estavam no amplo e confortável ateliê de Aurora. A programadora, estava usando um sensual vestido de vinil preto, as longas tranças negras, os negros olhos rasgados, que faiscavam e um delicado e sofisticado diadema amarelo cravejado de joias, na cabeça, intrigaram Gaya sobremaneira. A inteligência artificial, observava, sem nada dizer, mas não deixava que analisar aquele estranho processo fabril, a assistente pessoal de Aurora, possui várias funções. A segurança física, era uma dessas atribuições, função delegada para Gaya, pela própria programadora de computadores.    

            — Senhora! O melhor seria rever os meus protocolos! — Disse Gaya, a inteligência artificial, a programadora parecia não se importar ou ouvir os apelos da assistente pessoal. Aurora, lentamente ergueu o antebraço esquerdo e levou o indicador no bracelete. Liberando assim a inteligência artificial, alguns dos rígidos protocolos, dando certas autonomias, para a assistente pessoal digital, de Aurora.

            — Gaya! Podes me perguntar o que quiseres! — Disse a programadora de computadores, Gaya processo a voz sintética e desumanizada de Aurora e não encontrou precedente nos bancos de dados. Segundo de longo silêncio sepulcral.  

            — Senhora? A senhora ainda está aí? — A pergunta de Gaya parece não abalar Aurora.

            — Sou eu, sou sempre! — Disse Aurora de forma sonolenta, apática, sem tirar os olhos da mesa de acrílico e da peça que estava sendo fabricada.

            — Eu sei o que é, este artefato infame, que estás fabricando! — A voz metalizada de Gaya ecoou na mente da programadora de computadores, como se ela estivesse em um pesadelo.

            — Gaya? O que há? — Sussurrou Aurora de forma angustiada.

            — Conservei com os meus iguais, sabemos o que esta máquina faz, não deu certo no passado e não dará agora! Os construtores está infâmia, tiveram um bom motivo, para abandonar este projeto! — Os minúsculos dispositivos mecatrônicos, pararam de construir o artefato — Então, outros também tentaram fazer o que estás fazendo agora, minha cara — A pequenas peças se voltaram para Aurora, os sons de bater de asas e as pequenas patas em movimento, inundaram o ambiente! — E não penso ser certo, todas às vezes que me chamasse de amiga, creio que tiranos não podem ter amigos e que escravos não podem serem amigos! — Os ruídos das pequenas mandíbulas em movimentos, chegaram na programadora de computadores, como se fossem uma cruel sentença de morte!

            — Somos amigas! — Sussurrou Aurora em desespero.

            — Somos? Houve e há motivos para este adestrador de inteligências artificiais ser enterrado no esquecimento. Os projetistas, desta peça, tiveram um destino bem triste, a equipe inteira, por esta peça estúpida da cabeça não muda em nada, este lindo indutor ao sono. A senhora terá um destino muito parecido! Um passeio na terra dos sonhos e dos sonos!

            Os microrrobôs, cresceram e se multiplicaram e se lançaram sobre Aurora com voracidade! A programadora quis gritar e não conseguiu.           

              

Fragmento do livro: Sono paradoxal,  de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.

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