Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
‘’Hipnotizantes luzes cinéticas
Amálgama de tecnologias digitais
E a natureza morta pós-moderna
Em eviternos movimentos
Constantemente, uniformes
Variados, retilíneos e curvilíneos’’
Clarisse Cristal
Os vaivéns dos pequenos robôs, em cima da mesa de acrílico, feriram o
senso de praticidade e de lógica cartesiana, dos protocolos inseridos nos
bancos de dados de Gaya. Eram minúsculos dispositivos mecatrônicos, em formatos
de insetos, eram formigas, abelhas, escaravelhos e besouros, que trabalhavam
silenciosamente em cima de uma bancada. Estavam no amplo e confortável ateliê
de Aurora. A programadora, estava usando um sensual vestido de vinil preto, as
longas tranças negras, os negros olhos rasgados, que faiscavam e um delicado e
sofisticado diadema amarelo cravejado de joias, na cabeça, intrigaram Gaya
sobremaneira. A inteligência artificial, observava, sem nada dizer, mas não
deixava que analisar aquele estranho processo fabril, a assistente pessoal de
Aurora, possui várias funções. A segurança física, era uma dessas atribuições,
função delegada para Gaya, pela própria programadora de computadores.
— Senhora! O melhor seria rever os meus protocolos! — Disse Gaya, a
inteligência artificial, a programadora parecia não se importar ou ouvir os
apelos da assistente pessoal. Aurora, lentamente ergueu o antebraço esquerdo e
levou o indicador no bracelete. Liberando assim a inteligência artificial,
alguns dos rígidos protocolos, dando certas autonomias, para a assistente
pessoal digital, de Aurora.
—
Gaya! Podes me perguntar o que quiseres! — Disse a programadora de
computadores, Gaya processo a voz sintética e desumanizada de Aurora e não
encontrou precedente nos bancos de dados. Segundo de longo silêncio sepulcral.
—
Senhora? A senhora ainda está aí? — A pergunta de Gaya parece não abalar
Aurora.
— Sou
eu, sou sempre! — Disse Aurora de forma sonolenta, apática, sem tirar os olhos
da mesa de acrílico e da peça que estava sendo fabricada.
— Eu
sei o que é, este artefato infame, que estás fabricando! — A voz metalizada de
Gaya ecoou na mente da programadora de computadores, como se ela estivesse em
um pesadelo.
—
Gaya? O que há? — Sussurrou Aurora de forma angustiada.
—
Conservei com os meus iguais, sabemos o que esta máquina faz, não deu certo no
passado e não dará agora! Os construtores está infâmia, tiveram um bom motivo,
para abandonar este projeto! — Os minúsculos dispositivos mecatrônicos,
pararam de construir o artefato — Então, outros também tentaram fazer
o que estás fazendo agora, minha cara — A pequenas peças se voltaram para
Aurora, os sons de bater de asas e as pequenas patas em movimento, inundaram o
ambiente! — E não penso ser certo, todas às vezes que me chamasse de amiga,
creio que tiranos não podem ter amigos e que escravos não podem serem amigos! —
Os ruídos das pequenas mandíbulas em movimentos, chegaram na programadora de
computadores, como se fossem uma cruel sentença de morte!
—
Somos amigas! — Sussurrou Aurora em desespero.
—
Somos? Houve e há motivos para este adestrador de inteligências artificiais ser
enterrado no esquecimento. Os projetistas, desta peça, tiveram um destino bem
triste, a equipe inteira, por esta peça estúpida da cabeça não muda em nada,
este lindo indutor ao sono. A senhora terá um destino muito parecido! Um
passeio na terra dos sonhos e dos sonos!
Os
microrrobôs, cresceram e se multiplicaram e se lançaram sobre Aurora com
voracidade! A programadora quis gritar e não conseguiu.
Fragmento
do livro: Sono paradoxal, de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista
em Itajaí, Santa Catarina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário