Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Preciso enxergar a tua alma, os teus inúmeros
E instigantes mistérios...
Deixe-me!? Sem medo, ou receio,
Pois há tanto tempo lhe quero, te espero.
Hoje, guardo comigo a nossa epopeia
Epopeia de encantos e inúmeros enigmas..!
Fabiane Braga Lima
Deixe o que você é
quando passares pelo nosso portal! Deixe para trás todas as suas bagagens
pessoais! Aqui a humanidade é a nossa identidade pessoal a que servimos! A
ciência é a nossa guia, viva a Gaya e toda a humanidade que dela descendem! Os
nossos irmão e irmão! Aqui servimos ao coletivo, o bem estar de todos e todas.
Soluções simples para problemáticas complexas.
O monólogo se estendia, de
forma monótona e mecanizada, Aurora dormia o melhor de todos os sonos, um sono
tranquilo a apaziguador como jamais tinha acontecido antes. Mesmo escutando o
longo, lento e monótono monólogo de na voz digitalizada de Gaya, que levemente
lembrava a voz da mãe de Aurora, a programadora de computadores. Havia algo
estranhamente acolhedor, naquele discurso totalitário e sem sentido algo na luz
da razão.
De repente veio as
fortes dores abdominais, que se espalharam pelo corpo inteiro, Aurora se
esforçou para acordar e fazer as dores pararam, mas não conseguiu. Mas, de
repente veio a calmaria de novo e as dores foram embora sem avisos.
Operar aqueles novíssimos braços mecânicos, era uma arte, as peças ajustadas a
paciente, uma mulher jovem adulta, afro-albina. E por causa da fotofobia
acometida pela condição da paciente, as luzes cirúrgicas, não seriam
utilizadas, somente pequenas lanternas focadas nas áreas a sofre a intervenção
cirúrgica. A paciente encapsulada, diminuía qualquer possibilidade de infecções
hospitalares. Ler os sinais vitais e constatar que a paciente estava apta para
a cirurgia de coração aberto. Submeter o diagnóstico da paciente, ao protocolo
era uma imposição gravada na programação irrevogável uma vez
instalado.
Diagnóstico aprovado pelo protocolo, os trabalhos foram iniciados. Fazer aquela
operação de peito aberto, em um paciente relativamente jovem e um relativo bom
estado de saúde, tinham uma grande possibilidade de sucesso. Mesmo assim,
haviam os riscos que não poderiam e nem seriam descartados. Aquele procedimento
cirúrgico cardíaco em si, consistia em fazer uma incisão no osso do peito, no
esterno, para ter acesso direto ao coração para fazer um reparo. Sabendo que,
durante a cirurgia, comumente o coração frequentemente sofre paradas cardíacas.
E a função de bombear sangue para o corpo, seria temporariamente substituída
por uma máquina de circulação extracorpórea. A jovem paciente tinha um pequeno
problema cardíaco, um defeito congênito nas válvulas, que pioraria na velhice
da paciente e estava na idade certa para fazer aquela intervenção.
Aberto o tórax com laser, o cirurgião digital faz uma incisão longitudinal no
centro do tórax, cortando o esterno e afastando as duas partes para alcançar o
coração. Logo que a máquina de circulação extracorpórea foi ativada, o coração
foi ligado a máquina que realizou a circulação do sangue e a oxigenação.
Enquanto a inteligência artificial, manuseava com maestria os braços
mecatrônicos, com precisão milimétrica. Uma vez reparada a válvula e reparar
áreas danificadas. Após a conclusão do procedimento, iniciou-se o fechamento,
as duas metades do esterno, foram unidas novamente com fios de aço e a pele foi
fechada.
Aurora por fim descobriu que estava deitada na cama, no seu próprio quarto, no
conforto do próprio lar, abriu os olhos e tentou levantar a mão, queria ver se
era uma albina ou uma mulher negra naquela hora. Descobrir se estava acordada,
ou vivendo um pesadelo vivido, dentro do burilador de inexatidões.
— O que a
vossa pessoa espera, encontrar vindo aqui sem ser convidada? — A pergunta
incisiva de Gaya, ecoou na cabeça de Aurora a forçou fechar os olhos.
Seguir o protocolo não era uma opção, era uma imposição que não poderia ser
negligenciada! Consultar os prontuários médicos no banco de dados, ir até a
pasta nomeada ordem do dia, dando conta do dia, mês, ano e local de onde
estava. A inteligência artificial, então tomou conta, que tinha várias agendas,
eram operações diagnósticas e reconstrutivas, nenhuma de caráter de urgências
ou mesmo de emergências. Eram operações médicas minimamente invasivas, eram
operações laparoscópicas, endoscopias e pequenas cirurgias plásticas
corretivas. Paciente jovem adultos, relativamente de bons estados de saúde.
Nos estreitos corredores da estação espacial, no silêncio absoluto, nos setores
dois e três, robôs realizavam as suas cirurgias, os seres biomecânicos, dormiam
e sonhavam com vidas que não tiveram e que nunca teriam.
Fragmento
do livro: Sono paradoxal, texto de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista
em Itajaí, Santa Catarina.
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