Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)
O livro
acima nomeado, de Pedro Penteado, além de um choque foi uma gratíssima surpresa
por descobrir que, um século depois dos acontecimentos, os escritores de Santa
Catarina estão a trazer a lume os reais motivos daquela que, até agora, ainda
por muita gente, é chamada de Guerra dos Fanáticos.
Já muitas
coisas lera a respeito pela vida afora mas nada sabia muito bem, até que tive a
oportunidade e a honra de ser orientanda de doutorado do Professor Doutor
Nilson Cesar Fraga. Nilson, além de nos ministrar uma disciplina chamada
Contestado, também nos levou ao território do mesmo onde, por três dias e duas
noites, estivemos a visitar sítios históricos e a conhecer personagens da
guerra ou que de alguma forma dela descendem. Foi um momento único, que
organizou os diversos saberes dispersos pelo meu cérebro e minha emoção, e que
me deixou apta a discutir a respeito quando se fez necessário.
Recém
voltara da maratona que foi a disciplina do Nilson, quando dei o primeiro
tropicão na ignorância que existe sobre o assunto. Conversando com um amigo de
muitos saberes, perguntei a ele sobre se sabia o que era o Contestado, e ele me
respondeu alguma coisa assim: “Não é aquela guerra que houve contra uns malucos
meio fanáticos, uma bandidagem que existiu em Santa Catarina?”.
Respondi que
não, não era, e passei a lhe falar do realmente acontecido. Como esse meu amigo
é alguém inteligente e que me respeita intelectualmente, prestou a maior
atenção ao que eu dizia, e penso que foi a minha primeira conquista para a
causa do Contestado. Sei, no entanto, da grande quantidade da população que
continua pensando num levante de bandidos e outras coisas assim, além dos
tantos que sequer ouviram falar no assunto.
E então leio
esse livro de Pedro Penteado que, de uma forma tão brutal quanto foi a
realidade, tenta nos mostrar as causas que levaram todo um povo à revolta mais
que necessária, um povo que há quatro séculos se formava na região contestada,
amálgama de povos originários com brancos aventureiros e negros fugitivos da
escravidão, e que de um momento para o outro se via escorraçado da sua terra da
forma mais vil possível pelos verdadeiros bandidos representantes do Capital.
Pedro não
economizou em palavras nem em desenhos de próprio punho que permeiam a obra,
para nos colocar frente a frente com a dura realidade das causas de uma guerra
fratricida que iria assolar Santa Catarina durante quatro longos anos, deixando
marcas indeléveis na nossa história que tantos creem que se fez de alemãezinhos
comendo chucrute e bailando em oktoberfests.
Parabéns,
Pedro, pelo livro e pela forma dura como você conseguiu, com certeza, mexer com
as emoções dos seus leitores e criar pessoas mais conscientes. Que venham
outros livros e outros escritores com a mesma garra.
Sertão
da Enseada de Brito, 31 de maio de 2019.
Urda
Alice Klueger
Escritora,
historiadora e doutora em Geografia.
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