segunda-feira, 1 de julho de 2019

O ESTUPRO CONTRA MULHERES INDÍGENAS E A CULTURA DO SILÊNCIO


Por Édima Rodrigues e Carolina Rodrigues

            O estupro foi um crime que sempre foi silenciado pelo machismo, pela vergonha da vítima ou pela falta de estrutura organizacional para acolher as vítimas desse crime hediondo e cruel. Em algumas sociedades, a exemplo da Índia, o estupro se tornou um instrumento institucionalizado. Nas culturas orientais, os estupros são consumados de forma coletiva como punição por uma suposta transgressão da mulher ou de um membro da família.
            A discussão aqui será o estupro praticado contra as nativas, a vergonha e a falta de política que minimizem o índice cada vez maior dessa barbaridade. A sociedade indígena de maneira geral em seu local de origem étnica costuma viver despida ou semidespida sem que isso represente nenhum atentado a convenções ou a violência.
Índias e índios ficam assim para terem maior liberdade, não tem a intenção de suscitar sentimentos libidinosos (de maneira geral, lógico que como em qualquer lugar existem as exceções). É algo natural como os não índios andar vestidos. Durante o Brasil colonial o corpo feminino servia ao português sem o consentimento da mulher, pois os estupros eram comuns naquele tempo. Ribeiro em sua obra (2008) narra o estupro ocorrido com milhares de mulheres indígenas, constituindo assim:
            "As indígenas foram “utilizadas” pelos portugueses tanto para a sua satisfação sexual como para a expansão do “cunhadismo”. Ou seja, quando o português engravidava uma indígena, ele tornava-se parente dos outros indígenas da tribo. Com isso, tinha sempre muitos braços para carregar o pau-brasil para suas naus, aumentando rapidamente seu enriquecimento."
O corpo da mulher nativa era usado, sem afetividade ou preocupação de estarem-nas machucando. A História do Brasil não tem manifestação clara sobre essa situação de degradação feminina, tampouco sobre os sentimentos dessas mulheres, sua indignação pela violência praticada contra o seu corpo e a sua cultura. Durante esses longos anos de apropriação da terra pelo nabé português, é possível dizer que essas mazelas provocaram grandes perdas no aspecto étnico e cultural das nativas.
            Imagine o choro silencioso dessas mulheres que não entendia porque eram vítimas da brutalidade de homens barbudos e fétidos, os quais saiam dos navios distribuindo objetos interessantes e logo após as usando de forma desprezível. A literatura contribui em parte para esse processo de alienação do sofrimento das mulheres indígenas, quando na verdade a realidade era bem diferente. A situação ficou cada vez mais caótica, descrita por Ribeiro (2008) da seguinte maneira:
            "No entanto, a violência contra o corpo da mulher indígena e o nascimento de crianças que não eram portuguesas e muito menos indígenas continuava e com o tempo, ficou incontrolável. Em pouco tempo os padres que não sucumbiram a esses desvarios sexuais solicitaram à Coroa Portuguesa um estancamento dessa volúpia do nabé, altamente desenfreada. Talvez por razões religiosas, pudicas, talvez por razões do aumento de uma população que não era portuguesa nem muito menos indígena."
            Conforme relatório das Organizações das Nações Unidas - ONU, divulgado em 2010, 01 (uma) em cada 03 (três) índias é estuprada durante a vida. Imagine essa situação no tempo atual, o que confirma que as mulheres indígenas são mais vulneráveis a violência. Não se pode olvidar-se, historicamente, que mulheres indígenas foram violentadas e massacradas pelos invasores de outros países no Brasil Colonial.
            São as mulheres indígenas que sofrem de forma mais contundente os impactos provocados sobre o meio ambiente. Quando os indígenas perdem acesso aos recursos ambientais são as mulheres as mais penalizadas, posto que geralmente elas são as responsáveis por cuidar da subsistência familiar. É assim em qualquer canteiro de obra existente na Amazônia ou no Nordeste, onde se se constata o aumento dos casos de exploração sexual de crianças e jovens indígenas. Elas que são estupradas no embate entre posseiros e povo indígena, pois eles estupram as nativas com o objetivo de vilipendiar a dignidade do povo indígena de modo geral.
            Ademais, a violência sofrida pelas mulheres indígenas está no seio de suas próprias comunidades. As indígenas reconhecem e denunciam inúmeras práticas discriminatórias que sofrem: casamentos forçados, violência doméstica, estupros, limitações de acesso a terra, limitações para organização e participação política e outras formas de dificuldade enfrentadas em consequência do patriarcalismo presente em suas comunidades. Lamentavelmente, a intervenção do Estado brasileiro é moribunda, não há interesse em desenvolver estratégias específicas para o enfrentamento da violência contra mulheres indígenas, as ações são pulverizadas e não há nenhum programa oficial especificamente destinado a esse público.
            Diante de toda essa discussão, o que se clama é uma medidas sérias, efetivas e eficazes para combater o estupro contra as indígenas, pois esse é um crime hediondo, mas para as nativas ainda se torna mais assombroso, pois elas nem sempre são educadas para se defender de um ataque desses. Vale lembrar que o estupro não se configura somente com a conjunção carnal e sim ato libidinoso diverso da conjunção carnal, como exemplo, citamos sexo oral, anal, beijos sobre ameaça, etc. O Código Penal também prevê uma modalidade de crime denominado estupro de vulnerável, nesse caso, por exemplo, quem faz sexo com uma mulher sobre efeito do álcool ou não tem discernimento do fato.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RIBEIRO, Arilda Inês Miranda. Mulheres e Educação no Brasil-Colônia: Histórias Entrecruzadas. 2008. Disponível em:
o/artigos_pdf/Arilda_Ines_Miranda_Ribeiro2_artigo.pdf> Acesso em: 09 jun. de 2015.

VIEIRA, Amanda. Mulheres indígenas sofrem ameaça de estupro na Bahia. 2012. Disponível em: < http://blogueirasfeministas.com/2012/03/mulheres-indigenas-
sofrem-ameaca-de-estupro-na-bahia/> Acesso em: 10 jun. de 2015.


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