domingo, 1 de maio de 2022

FRONTEIRAS: A GUERRA SEM FIM

  Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

                  Quisera eu experimentar...

Novos sabores

Em novos lugares...

Novos amores

Novos sabores...

Com novos temperos

Com novos amores...

Em outros lugares

Com novos atores...

Acordar em teus braços...

Para perder-me em teus braços

Em memória de Miguel Maria da Costa

          

             Diante do Monte Roraima, um desespero incomum tomou de assalto à figura ajoelhada de pele alvíssima e de olhos azuis. Ele olha para cima e não acreditava nas na realidade em que vivia. Aquele monte era a prova que o continente Africano e o Americano um dia foram uma coisa só. Foi em uma aula ministrada no velho mundo, no continente negro, pelo professor António Assis Júnior que ficou sabendo desse fato. O velho professor, que o iniciara na luta pela libertação do seu país. Com os olhos rasos d’água, a postura de soldado em guerra desaparecera por completo, dando lugar a um ser humano como outro qualquer, perdido por muito tempo que acabara de se reencontrar na vida.

            — O Amazonas enfim... o Brasil afinal... — Foi o que ele conseguiu balbuciar em voz baixa, mesmo sem ninguém para ouvir. Mas, tinha que voltar para a postura de soldado, pois a guerra tinha que continuar. O perímetro em que se encontrava, era justamente como os mapas que ele havia estudado e mentalizado na Europa. Mata rasteira e um céu acinzentado, destoava e muito, da visão romântica de uma selva Amazônica cortado por grandes rios e uma imensidão verde a perder de vista. Era preciso pôr-se em marcha, mas os nomes de João Amazonas, Apolônio de Carvalho, Luiz Carlos Preste, Jorge Amado, Oscar Niemayer e Agildo Barata lhe a mente com toda a força. Assim como a missão dada, a ele no velho mundo. Ao erguer em pôr-se em marcha deixando o Jeep Willys MB para trás, chegou a pensar dos riscos de deixá-lo parado ali, mas atirar fogo do automóvel seria muito pior poderia chamar a atenção, pois a fumaça seria vista por quilometro de distância tanto por terra quanto pelo ar.                       Jogar com a sorte, era um fator a ser considerado naquela altura. Foi só andar poucos metros, com sol abrasador sobre a cabeça e a boca seca, e os olhos do soldado despontam no horizonte um acampamento. Um acampamento cigano no meio do nada, em plena selva amazônica, parecia um sonho surreal. As cores vivar e fortes das roupas, a dança e a música vivida, dançavam em meio uma fogueira, parecia que celebravam alguma coisa: — Inferno, não consta nada disto nos mapas que me mandaram memorizar, e agora? O que faço? — Ao se aproximar uma figura, do que poderia ser o chefe da tribo, se precipitou dos demais. De longos cabelos, pistola Luger P08 na cintura, se limita a sorrir ao viajante que passava. O viajante, por instinto decide erguer as chaves Jeep bem alto e pôr no chão lentamente, fez isso sem tirar os olhos do romani a poucos metros dele.

            — Faça bom proveito Barô Kalon, um presente meu, para Santa Sara Kali! — O viajante segue em frente e não se arrisca a olhar para trás, teria muito que caminhar, na verdade um continente a desbravar.

Samuel da Costa é poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br   

Nenhum comentário:

Postar um comentário