domingo, 1 de maio de 2022

LUPI

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)


Dizem que cachorro é como uma criança e eu me arrisco a dizer que é sim. É de uma pureza e sensibilidade enorme! Eu vou lhe chamar de Lupi. Lupi apareceu numa tarde de verão em frente à casa de Dona Mariana. Debaixo de sua janela arregalou os olhos em sua direção.

Os olhos de Lupi eram grandes e brilhantes, seu pelo era um amarelo cremoso, coisa mais linda! Ele tinha um jeito meigo de encantar qualquer pessoa.

Mariana tentou mandar ele embora, mas não conseguiu. Dona de casa nunca pensou ter um cachorro, mas isso não quer dizer que não gostasse de bicho.

Já noite, deu-lhe água e um pouco de comida. Ao amanhecer Dona Mariana encontrou Lupi em frente a sua janela latindo e chorando pedindo comida. Os olhos pareciam os olhos de uma criança molhados de lágrimas.

Chegando na janela vem a sua filha, toda encantada com o bichinho: — Olha mãe, ele tá chorando. Tadinho, parece uma criança. —Disse a menina.  Lupi estava em boa companhia se sentindo bem naquele quintal.

Mas nem toda história termina bem, no final de semana o marido de Dona Mariana pediu para a esposa e a filha não darem comida ao cachorro, assim ele iria embora. No fim de tarde, vendo que o Lupi não tinha ido embora, o homem pegou um pau e deu pauladas no cachorro sem piedade.

A filha deste homem berrou aos prantos pedindo para o pai parar. Infelizmente, seu Juscelino, assim vou chamar, parecia estar com o demônio no corpo. A sua alma era tomada de muita covardia e ruindade.  Lupi desapareceu. A menina crê até hoje que seu pai matou aquele cachorro que mais parecia uma criança indefesa querendo um pingo de amor.

E coisas assim marcam a vida de uma pessoa. Aparentemente a pessoa segue em frente a sua vida, escreve novas histórias, mas fica aquele sentimento de pesar dentro dela.

Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com


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