quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A DOR INTERIOR

Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)

 

Ninguém gosta de conversar sobre a dor. As pessoas evitam falar sobre sofrimento e mostram uma faceta sempre animada e para o alto. Nunca esqueço uma amiga muito especial que me disse um dia depois de uma perda irreparável:

-Temos que mostrar sempre que estamos bem. Ninguém gosta de encarar o sofrimento e preferem conversas divertidas.

Hoje falando sobre a dor interior lembrei-me dessa moça que sofria muito mais porque não conseguia se libertar da certeza que deveria estar sempre alegre. E isso lhe custou alguns danos porque de tanto se controlar teve que ser internada para um sério tratamento. A dor não diminui simplesmente porque queremos esquecê-la.

Ao apreciar a natureza e me extasiar com todo esse encanto misterioso, onde os pássaros voam tranquilos, em extrema mansidão, as árvores sustentam suas raízes com segurança e o harmonioso conjunto nos leva à tranquilidade momentânea, percorro com os olhos o ambiente desejado nas horas conturbadas. E sinto uma sensação de paz. Isso talvez me leve aos momentos de dor interior. Sobrepujadas pela certeza da transitoriedade. Superadas pela convicção que nada é definitivo e irreversível.

Inúmeras vezes pergunto-me se Deus está muito longe de mim. Ou eu dele. E imagino que devo me aproximar quando entro em meu interior e sinto a marca de seu trabalho em sentimentos tão profundos. Entendo que ele está por perto com a doçura do bom pai e a compreensão que só os que muito amam sentem.

Isso acontece quando enxergo a profusão de coisas lindas que meus olhos alcançam e sinto a pureza do ar gratificante em cada elemento presente. Compreendo afinal que isso tudo é uma dádiva misteriosa e magnificamente onipotente. Mas que talvez no momento não esteja preparada para apreciar. Sinto-me ingrata e proponho-me a retroceder mesmo que isso me custe nessas horas difíceis, de sofrimentos recentes e convicções abaladas.

Vou andando com firmeza enquanto todo o meu interior se reintegra na esperança que surge alvissareira iluminando de leve um caminho paralelo e, contudo, promissor. Um dia senti que o mundo era maravilhosamente fascinante e prometi que nada faria com que eu deixasse de vibrar intensamente. Pretendo cumprir a promessa integralmente.

Olhando admirativamente e com fé as montanhas elevadas querendo sempre permanecer erguidas e majestosas prometo-lhes entender a encantada filosofia que inspiram e segui-las fazendo com que meus sonhos persistentes tenham a mesma consistência que nada demove nem mesmo os temporais devastadores ou as tempestades implacáveis.

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