quinta-feira, 1 de setembro de 2022

PRECISAMOS DE UM PAÍS MAIS SÉRIO

 Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

 

Assim que saí do meu trabalho ao final do dia, peguei o ônibus, como de costume. De repente, subiu um garoto vendendo balas. Pele queimada pelo sol ardente, nos pés sandálias gastas, roupas rasgadas e puídas pela ação do tempo e um caderno de anotações na mão esquerda.

Sem cerimônias, o garoto maltrapilho, se sentou ao meu lado. Entusiasmado, começou a  escrever em seu pequeno caderno de notas. Percebi a extrema dificuldade do menino, ele tentando formar palavras, parecia ser tão esforçado.

Assim os dias foram se repetindo e se repetindo, em uma nova rotina que me foi imposta, foram dias e semanas.

— O que tanto você escreve aí?— Certo dia perguntei para o garoto

— Estou tentando encontrar as palavras certas. — Sem me olhar nos olhos, tímido ele me respondeu.

  Mas por que não estás na escola?

— Preciso trabalhar, meus pais estão desempregados. — Com a fala arrastada me disse.

Senti uma dor aguda na fala dele, um alerta dispara dentro de mim ao escutar a resposta do garoto. E decidi especular o que havia por detrás daquela escuridão aparente.

Segui mais adiante, ao invés de descer onde sempre parava, e o ônibus se foi até um ponto muito distante da cidade, uma periferia desconhecida para mim. Caminhei atrás dele, na distância segura, e por fim ele me apresentou de forma involuntária a uma casa bem simples em uma vizinhança paupérrima. E a mãe do garoto estava sentada em uma cadeira de vime, na frente da casa, a senhora estava esperando pelo filho. Então, os meninos chegavam, dando-lhe todo o dinheiro arrecadado das balas. Sim havia mais garotos, eram três crianças no total, na minha visão eram explorados pelos pais.

Sai dali com um quadro bem definido na cabeça e eu fiquei apavorada pelo eu vi ao longe. Fui procurar uma assistente social, uma amiga minha de infância. E fiquei sabendo pela minha amiga o que acontecia ali: Os garotos saíram da escola e postos a trabalhar, ficando o dinheiro arrecadado com a mãe. E a outra metade ficava com o pai que se embriagava no bar.

Mais um caso, esquecido na burocracia do conselho tutelar e da vara da infância e da juventude da justiça. Assim, aquelas crianças passam o dia, torturadas e escravizadas pelo trabalho infantil, como muitas outras no país! Quanto a mídia? Difícil um jornalismo sério que investigue, que se  aprofunde no assunto.

Precisamos de algo ou alguém que se empenhe em ajudar às crianças, o futuro do país, porque o sistema se cala. O sistema é podre! Toda criança tem o direito de estudar e ter uma vida digna.

 

Fabiane Braga Lima é poetisa e contista em Rio Claro, SP.

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário