Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Assim que saí do meu trabalho ao final do dia,
peguei o ônibus, como de costume. De repente, subiu um garoto vendendo balas.
Pele queimada pelo sol ardente, nos pés sandálias gastas, roupas rasgadas e
puídas pela ação do tempo e um caderno de anotações na mão esquerda.
Sem cerimônias, o garoto maltrapilho, se sentou
ao meu lado. Entusiasmado, começou a
escrever em seu pequeno caderno de notas. Percebi a extrema dificuldade
do menino, ele tentando formar palavras, parecia ser tão esforçado.
Assim os dias foram se repetindo e se
repetindo, em uma nova rotina que me foi imposta, foram dias e semanas.
— O que tanto você escreve aí?— Certo dia
perguntei para o garoto
— Estou tentando encontrar as palavras certas.
— Sem me olhar nos olhos, tímido ele me respondeu.
— Mas
por que não estás na escola?
— Preciso trabalhar, meus pais estão
desempregados. — Com a fala arrastada me disse.
Senti uma dor aguda na fala dele, um alerta
dispara dentro de mim ao escutar a resposta do garoto. E decidi especular o que
havia por detrás daquela escuridão aparente.
Segui mais adiante, ao invés de descer onde
sempre parava, e o ônibus se foi até um ponto muito distante da cidade, uma
periferia desconhecida para mim. Caminhei atrás dele, na distância segura, e
por fim ele me apresentou de forma involuntária a uma casa bem simples em uma
vizinhança paupérrima. E a mãe do garoto estava sentada em uma cadeira de vime,
na frente da casa, a senhora estava esperando pelo filho. Então, os meninos chegavam,
dando-lhe todo o dinheiro arrecadado das balas. Sim havia mais garotos, eram
três crianças no total, na minha visão eram explorados pelos pais.
Sai dali com um quadro bem definido na cabeça e
eu fiquei apavorada pelo eu vi ao longe. Fui procurar uma assistente social,
uma amiga minha de infância. E fiquei sabendo pela minha amiga o que acontecia
ali: Os garotos saíram da escola e postos a trabalhar, ficando o dinheiro
arrecadado com a mãe. E a outra metade ficava com o pai que se embriagava no
bar.
Mais um caso, esquecido na burocracia do
conselho tutelar e da vara da infância e da juventude da justiça. Assim,
aquelas crianças passam o dia, torturadas e escravizadas pelo trabalho
infantil, como muitas outras no país! Quanto a mídia? Difícil um jornalismo
sério que investigue, que se aprofunde
no assunto.
Precisamos de algo ou alguém que se empenhe em
ajudar às crianças, o futuro do país, porque o sistema se cala. O sistema é
podre! Toda criança tem o direito de estudar e ter uma vida digna.
Fabiane Braga
Lima é poetisa e contista em Rio Claro, SP.
Contato:
bragalimafabiane@gmail.com
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