Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
quarta-feira, 1 de maio de 2024
O MÉTODO DE MONTESSORI
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Quando minha filha completou
cinco anos de idade, resolvi, na hora de almoço, com letras móveis, ensiná-la a
ler.
Peguei na Joana (sua boneca
preferida,) e comecei a ensiná-la.
A brincadeira despertou a
curiosidade da garota e logo quis participar, como "colega" da
bonequinha.
Na minha ausência, minha filha
entretinha-se a brincar - como professora, - a dar aulas à Joana.
Mais tarde, com cartilha,
iniciei – como antigamente se fazia, – a juntar as vogais às consoantes.
Assim, sempre a brincar,
aprendeu a ler, e quando entrou na escola, já tinha sólidas luzes.
Mal sabia, que Maria Montessori
já havia inventado esse método de ensino
Com cartolina colorida, rugosa,
para as mãos agarrarem bem, recortou alfabetos, que deu às crianças para
brincarem.
Naturalmente quiseram saber o
que era aquilo e ela ensinou., brincando, sem forçar, o nome de cada uma.
Pacientemente repetia – mas só
quando lhe perguntassem o nome de cada letra.
Depois, explicou que cada letra
correspondia a um som, e esses sons, formavam palavras.
Nada mais lhes disse. Passado
tempo um garotinho veio dizer-lhe que sabia escrever. Com efeito conseguiu
formar algumas palavras. Montessori gabou a descoberto, e outros pequenitos
quiseram imitar.
Mais tarde, outro lhe disse: - “Sei
escrever; e provou, indo ao quadro preto e gatafunhar palavras com giz”.
Estava lançado um novo método
para ensinar a escrever, como conta o Capítulo XXVI: " O Inicio da
Aprendizagem", em: " A Criança" - Editora
"Portugália".
Montessori inventou o método a
pedido de duas mães analfabetas, que pretendiam que seus filhos, de pouca idade,
aprendessem a ler e a escrever.
.
O CEGO SICILIANO
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
De vez enquanto é sempre bom
espairecer, lendo anedota ou engraçada historieta.
A que pretendo recontar, por
palavras minhas, é de autoria do Padre Manuel Bernardes.
Havia antigamente na ilha da
Sicília, na cidade de Agrigento, cego astuto e assaz inteligente, que sem se
perder, deambulava pelos caminhos tortuosos da ilha.
Como era poupado, aforrara
bastante, arrecadando preciosa quantia que ciosamente guardava entre a palha do
enxergão.
No correr do tempo, uma dúvida
se levantou:
Era cego e se ladrão a
quadrilha de malfeitores, suspeitando o pecúlio – e sempre há suspeitas, – o
extorquisse.
Após muito matutar, assentou
que melhor seria enterrá-lo em bom recato.
Assim pensou, melhor o fez.
Pela calada da madrugada, dissimulado pela ténue luz lunar, cavou profunda cova
depositando o púcaro com o precioso dinheiro.
Mas, sentindo estranho ruído,
pressentiu que o arteiro do vizinho o vigiava...
Na dúvida, manhã alta, procurou
o "amigo", para lhe pedir Conselho:
- Ó vizinho! Faça-me o favor de
me aconselhar! Enterrei em sítio azado, determinada quantia, que arrecadara, ainda
tenho o restante, que escondi no judeu. Como sou cego, não lhe parece que
melhor seria enterrá-lo junto do outro?
O "amigo" alegrou-se
e aconselhou-o:
- Faz bem... muito bem. Sempre
é mais garantido, do que tê-lo em casa.
Mas receoso, de ser descoberto,
apressou-se a restituir o que retirara do panelo.
No dia seguinte, o cego, foi
pelo despertar do dia, desenterrar, o púcaro, e com satisfação, verificou que o
dinheiro estava lá.
Com forçado sorriso, virou-se
para o lado onde supunha que o "amigo" estava observá-lo, e
sustentando o panelo, disse-lhe levantando a voz:
- " Amigo: vejo mais eu,
sendo cego. do que você com os dois olhos!... "
BIGODES DE GATO
Por
Humberto Pinho da Silva(Porto, Portugal)
Em " Falas Sem Fio",
Agostinho de Campos. Inclui belo conselho, que os países, ou melhor – os
Ministros da Guerra, deviam ponderar, antes de invadirem a nação vizinha.
Decerto, o leitor, que me lê
pachorrentamente, desconhece quem foi Agostinho de Campos. É natural, em
Portugal, esquecemo-nos facilmente as lustres figuras após seu desaparecimento;
e notáveis intelectuais, mesmo antes de falecerem, conheceram o desprezo, o
abandono dos contemporâneos. Escuso de os mencionar, porque são tantos, e
sobejamente conhecidos.
Agostinho de Campos foi notável
Professor Catedrático da Universidade de Coimbra e de Lisboa. Jornalista,
conferencista e articulista de: " O Comercio do Porto" e " O
Primeiro de Janeiro", com artigos que versavam pedagogia, linguista e
critica literária. Tem numerosos livros publicados pela Bertrand. Faleceu, em
Lisboa, no ano de 1944.
Ao reler " "Falas Sem
Fio", deparei com texto curioso, que pretendo dar a conhecer ao leitor:
" Segundo me afirmou
um naturalista, os bigodes de gato crescem na proposição que eles engordam, e a
sabia natureza não se engana a respeito das razões porque assim legislou:
Quando algum gato, por
motivos estratégicos, puramente defensivo, tem de enfiar-se por algum buraco, e
não lhe conhece as características e seguintes, entesa os bigodes, e enquanto o
couberem na largura do buraco, vai o gato seguindo sem medo, porque onde os
bigodes passarem sem dobrar, passará corpo do animal, e não há perigo de que
ele fique entalado, sem poder andar para trás ou para diante.
"Os países bem
governados, antes de declararem guerra aos outros, devem arranjar ministros da
guerra, com uns bigodes, assim sensíveis e previdentes, para saberem bem no que
se metem."
Acrescentaria ainda: devem,
igualmente, os que se dedicam à política, para se acautelarem das ciladas dos
antagonistas e, até... dos "amigos", terem bigodes gatorros.
O TRABALHO TRABALHA-TE
Por Valéria A Gurgel (Nova Lima, MG)
Trabalhar dá
trabalho, porque o trabalho trabalha-te!
Trabalha o ego, as
suas ilusões, a autoestima, a preguiça, o mau humor, trabalha o labor!
Trabalha o
pensamento, o caráter e a vaidade.
Trabalha a
paciência, a vontade, a coragem.
Trabalha a
capacidade, o medo, o sonho e a realidade.
O trabalho nos
edifica, nos constrói e nos aperfeiçoa como pessoa!
Trabalha-se a
pontualidade, a responsabilidade e a maturidade.
Trabalha-se a
própria dignidade!
“Sem o trabalho um
homem não tem honra e sem a sua honra, se morre, se mata”
Assim escreveu o
saudoso compositor e cantor brasileiro, Gonzaguinha!
O trabalho
trabalha a nossa personalidade.
Sabemos que
trabalho não é lazer, mas dignifica o ser!
Feliz é aquele que
vê no seu trabalho também sua forma de lazer!
Que trabalha
cantando, assoviando, dançando.
Que trabalha
alegre, sorrindo, agradecendo, ...
Seja pintando e
bordando, tricotando e costurando a vida.
Seja vendendo
escrevendo, ensinando, aprendendo.
Construindo a sua
vida e a de sua família.
Há trabalho que
evangeliza, que acolhe, edifica, orienta, exemplifica, cura, planta, colhe,
conserta os desconsertos do mundo.
Há trabalho que
defende que acusa, que julga, que absolve as mazelas, humanas.
Há quem limpa,
quem decora e embeleza os nossos olhos...
O trabalho que
informa, a informatização que globaliza. Há trabalho que humaniza.
E há ainda o
trabalho informal. Mas há infelizmente o trabalho que escraviza!
Há trabalhos que
nos adormecem, que nos ouvem, que nos traz paz e relaxa as tensões do dia a
dia. Proporcionando a calmaria.
Há o trabalho dos
artistas tão plenos de euforia. Contracenam, encenam, brincam, cantam, dançam,
contam histórias, tocam as almas tocando e encantando os corações... Muitos
desses, seguem no anonimato, sem nenhum valor. E mal sabe a humanidade que são
eles que salvam o mundo do próprio mundo!
Não importa o que
se faça! Se é honesto, o melhor trabalho é sempre aquele que nos dá prazer de
viver!
Trabalhador feliz
é aquele que gosta do que faz!
Foi-se o tempo em
que as pessoas trabalhavam, por amor! Hoje em dia isso anda cada vez mais raro!
Trabalha-se mais, exclusivamente pelo dinheiro, por vaidade, por status social.
O fazer por fazer.
Tantos são os trabalhos conquistados por propinas, que nem sempre são dados
para aquele que realmente é um profissional e merece seu reconhecimento de
fato.
Por isso
assistimos cada vez mais uma humanidade bastante emburrada, sem educação e
revoltada com o que faz. E tende a descontar a suas revoltas e insatisfações
pessoais em quem precisa de seus serviços.
O contrário
acontece quando temos um profissional feliz com o que faz! Ele exala carisma e
satisfação, educação e brilho no olhar! Seja ele um lixeiro ou um médico, um
coveiro, um pedreiro ou um palhaço, um milionário ou um assalariado!
Hoje, com a
evolução das indústrias, da tecnologia e da inteligência artificial, muitas
profissões dignificantes foram e estão sendo excluídas de nossa sociedade!
Como as empregadas
domésticas que não encontram mais seu valor e respeito e por isso a mão de obra
cada vez mais escassa. Os alfaiates, os barbeiros, os tipógrafos, os
jornaleiros, os ferreiros, as datilógrafas as costureiras de bolas e tantos são
os substituídos pelas máquinas!
Mas por mais que a
tecnologia chegue para desvalorizar o trabalho humano, jamais o homem será
inteligente o suficiente para substituir definitivamente a si mesmo!
Pois o dia em que
isso porventura, vier a acontecer, pode-se dizer que o homem será processado
pelo seu processo involutivo da santa ignorância!
AMORES E DORES AO ENVELHECER
Por Paulo Cezar S Ventura (Nova Lima, MG)
Cuidar de você, hoje, é uma
boa forma de pensar o futuro, sem ansiedade.
A partir de que idade
precisamos começar a pensar em nossas vidas? Depois dos sessenta, setenta ou
mais?
Não sei até onde é verdade
a afirmação de que os jovens não pensam na velhice, mesmo tendo parentes velhos
por perto.
Ouso afirmar que o futuro é
sim, importante, embora vivemos em uma época em que se valoriza o momento
presente para evitar ansiedades desnecessárias.
No entanto, pensar no
futuro não é apenas curtir ansiedades.
Sei disso pelo preço que
pago em não ter pensado no tal de futuro, tempos atrás, o que me leva a um
presente cheio de dúvidas sobre o hoje à tarde e sobre o amanhã.
Perde-se, ao envelhecer, certas valentias.
Tenho medos à luz do dia:
qualquer inverno ouropretano me amolece;
qualquer curva da estrada me arrefece;
qualquer anoitecer anuviado me entristece.
Perdemos muito mais que as
valentias ao envelhecer. Perdemos muito tempo na vida fazendo coisas que
não queremos e não gostamos, para agradar a terceiros. Agradar as pessoas é
bom, mas dizer não de vez em quando é ainda melhor para nossa autoestima.
Dádiva de envelhecer
É perder a noção do tempo.
Perde-se a medida do tempo
Ganha-se o tempo: inteiro.
E nesse tempo a não ser
perdido precisamos colocar uma grande atenção às questões de saúde. Esse
cuidado não deve ter início quando chegamos àquela idade em que somos
denominados pessoa idosa. O começo de nosso envelhecimento está no momento do
parto. Acredite, a negligência de hoje será cobrada amanhã. Nesse ponto, cuidar
de você, hoje, é uma boa forma de pensar o futuro, sem ansiedade.
Todo cuidado com a saúde
ainda é pouco. Valho-me de minha própria história para exemplificar. Até em
torno de meus quarenta e cinquenta anos, eu ia ao médico em duas situações:
fazer exames médicos para a prática de esportes e cuidar de algumas lesões adquiridas
nessas atividades. Ou seja, fraturas ósseas, tornozelos inchados e luxações nos
ombros. Com o tempo comecei a visitar o doutor para o famoso exame de próstata
e aproveitava para fazer aqueles exames de sangue “sopa de letrinhas” que nunca
acusavam nada de anormal.
— Você é um patrimônio
clínico, dizia a médica a quem visitava uma vez por ano, sempre no mês de meu
aniversário. Ouvir a frase era meu presente. Por isso a surpresa, minha e dela,
quando tive meu primeiro episódio de taquicardia supra
ventricular (TSV), algo que se repetiu esse ano.
Silêncios plásticos, eloquência dos vazios,
vocação para o deserto:
aprendizagens com o envelhecer.
No caminho dos silêncios
plásticos veio a dengue. Não fiquei imune. Ela me pegou de jeito. Um domingo à
tarde senti um cansaço enorme, deitei-me no sofá da sala. Meia hora depois
tentei me levantar: o corpo recusou. Insisti, foi necessário um enorme esforço
para isso. Com o esforço veio as dores no corpo, da cabeça aos pés. Dia
seguinte, direto ao hospital. Exame de sangue: cadê o sangue que não veio à
seringa? Desidratação. O tal vírus bebe todo nosso líquido, foram mais de dez
dias de hidratação exaustiva e hemogramas diários para medir as variações do
número de plaquetas.
Em 2024 a dengue já levou a
óbito muita gente. Os números são inconclusivos, mas além das mortes
confirmadas existem outras 2000 que estão em investigação. Entre os mortos, em
dados divulgados em 12 de março de 2024 pelo Ministério da Saúde, o número de mortes
de pessoas com mais de 60 anos representava 57% do total de mortes
pela doença no país até aquele período. E o período mais crítico veio depois
dessa data, com dados totais ainda não divulgados. Embutidos nesse número estão
as mortes de pessoas com mais de 70 anos, que representava 74% das mortes de
pessoas idosas, causadas pela dengue.
Assim como nos tempos
bravos de covid-19, somos nós os mais vulneráveis. Óbvio que a velhice já é, em
si, uma vulnerabilidade lógica. Mas essa vulnerabilidade é aumentada pelo
descaso das pessoas que detém o poder: o poder público que não controla e o poder
privado que não se preocupa com nossas questões ambientais. Até quando o medo
será nossa companhia?
Lembrem-se, caros jovens.
Vocês também envelhecerão (ou morrerão jovens?) e serão maioria populacional
nos anos que se aproximam rapidamente. Se nós, pessoas idosas de hoje, já não
temos os cuidados necessários, o que será de vocês? Quem cuidará dos mais de
40% de pessoas idosas, número a ser atingido muito breve?
Em vez de envelhecer escrevo poemas.
Rejuvenesço em versos.
Não há tempo para as duas coisas, são incompatíveis.
Quem escreve não vê o tempo passar.
MINHAS DUAS MORTES PROVISÓRIAS
Por Paulo Cezar S Ventura (Nova Lima, MG)
Já morri duas vezes, não pela medicina… chamo esses episódios de mortes provisórias.
O título pode parecer
espalhafatoso, mas é verdade: já morri duas vezes. Mortes provisórias, claro.
Não aquela morte definida pela medicina. Nem morte encefálica, nem morte
cardiopulmonar. Mas o coração parou por alguns segundos, quantos não sei. Por
isso chamo os episódios de mortes provisórias. E aconteceram duas vezes.
Viver não é uma escolha: é
uma chance. Então, aproveite-a.
A primeira vez foi em
janeiro de 2016 e a segunda em fevereiro de 2024. Portanto, com oito anos de
diferença entre os dois. O que aconteceu, de fato? Eu tive, nessas duas datas,
uma taquicardia supraventricular (TSV). Explicarei de que se trata isso, pode
ser de interesse a alguém, principalmente de uma pessoa idosa, por ser um
episódio clínico não muito raro. Aproximadamente um porcento da população teve
ou terá uma TSV pelo menos uma vez na vida. Eu já tive duas.
Coração disparado,
ecodoppler diz – não é nada.
Cateterismo ecoa: artéria
vazia.
Cintilografia, qualquer
coisa à toa: alma apaixonada?
Não, é taquicardia.
Apenas uma arritmia.
Na primeira vez estava eu
em Palmas (TO), para uma visita a filha, genro e netos. Cidade quente, mas
plana e com um belíssimo parque onde moradores e visitantes gostam de se
exercitar, a dois mil e quinhentos metros da casa de minha filha, boa distância
para uma corrida curta e acelerada. Lá fui eu movimentar meus músculos. No
trajeto de volta uma chuva tem início e retomei a corrida, em passos mais
largos.
Em dado momento senti uma
dor no peito, vertigem, pernas bambas. Pensei ter passado por uma queda de
pressão arterial (já acontecera antes, embora sem dor) e voltei caminhando
devagar até a casa. Minha filha, médica, tentou medir, sem sucesso, minha pressão
arterial e batimento cardíaco. Sacou logo o acontecido e telefonou para um cardiologista
seu conhecido (vantagem de ter médicos na família e por perto na hora
necessária).
Conduzido imediatamente
ao hospital e recebido por um cardiologista e uma equipe de enfermeiro(a)s e
técnico(a)s de enfermagem, censores alocados pelo corpo, vieram as primeiras
medidas: pressão arterial a 220 x150 e batimento cardíaco a 220 bpm. E vivo,
bem vivo, sem dores e acompanhando todos os procedimentos.
— Você tem uma “via
anômala” no coração. Um caminho alternativo que não deveria ter. O comando
eletromagnético que vem do cérebro, e deveria se transformar em comando
hidráulico no ventrículo, passa por esta “via anômala”. O coração entende que
deve bombear o sangue no limite.
— Como surgiu essa “via
anômala”?
— Não surgiu, é
congênita. Você a tem desde que nasceu.
— E por que isso só
acontece agora, aos sessenta e três anos?
— Sorte, saúde, bom
preparo físico.
Uma superdose de adenosina na veia, o coração reseta, ou seja, para literalmente por alguns segundos e começa a funcionar em modo normal de novo. Um verdadeiro Ctrl Del cardíaco. Por incrível que pareça, olhei para os medidores atrás de meu corpo e vi a pressão arterial e os batimentos cardíacos voltarem ao normal imediatamente. Já o tamanho do risco eu medi pelos olhos arregalados de minha filha e de meu genro, ambos médicos.
Taquicardia
supraventricular
As causas da taquicardia
supraventricular (TSV) podem ser divididas em dois grupos principais:
1. Anormalidades
congênitas:
Vias acessórias: São vias
elétricas anormais que podem conectar as câmaras superiores (átrios) às câmaras
inferiores (ventrículos) do coração. Essas vias podem permitir que os impulsos
elétricos circulem em um circuito anormal, causando a TSV.
2. Fatores adquiridos:
Doenças cardíacas,
Hipertensão, Doenças pulmonares, Medicamentos (alguns medicamentos, como
antidepressivos e estimulantes, podem causar TSV), Cafeína em excesso, Consumo
excessivo de Álcool, Estresse e uso de Drogas ilícitas. Em alguns casos, a
causa da TSV pode ser desconhecida (1).
Como não me enquadro em nenhum dos casos dados como “Fatores Adquiridos”, a conclusão do cardiologista foi óbvia: “vias acessórias anômalas”. Ou seja, um cisne negro. Segundo o economista e escritor Nassim Nicholas Taleb, autor do livro “A Lógica do Cisne Negro”, ninguém acredita na existência do cisne negro até que, um belo dia, o avista. E, se ele aparece uma vez, pode aparecer de novo. Foi o que aconteceu.
Segundo Nassim
NicholasTaleb, o cisne negro é um evento imprevisível e impactante cuja
natureza extraordinária está na base de quase tudo que acontece no mundo,
inclusive em nossa vida pessoal.
Você, cara pessoa idosa,
quantos cisnes negros acredita que já viu na vida?
Vi o tal “cisne negro”
pela segunda vez no domingo de carnaval, pouco depois das 12h, quando assistia
ao desfile de um bloco de rua. O calor era enorme, mais de quarenta graus no
chão e em meio a centenas de foliões. Eu apenas observava, bebia muita água,
levada em um cantil de caminhante. De repente veio aquele estremecimento. Levei
as mãos à minha jugular e não consegui sentir minha pulsação. Meu instinto me
avisou a presença do “cisne negro”: uma TSV em curso. Estava só, sem telefone,
nenhuma pessoa conhecida por perto, o jeito era tentar chegar até um policial
ou até uma ambulância que eu vira a uns quinhentos metros de distância.
Felizmente, encontrei um táxi, que me conduziu ao hospital. De novo, 220
batimentos por minuto, mas a pressão arterial estava normal. Mais uma vez o
choque de adenosina na veia resetou meu coração e, durante alguns segundos,
tive minha parada cardíaca, ou seja, minha segunda morte provisória.
A TSV não é um episódio
inerente à idade avançada. Acontece com qualquer um, independente de geração.
No entanto, a questão que fica é: se começo a ter episódios como esse a esta
altura da vida, mais de setenta anos, o que me espera? Como proceder se não há
previsão antecipada dos acontecimentos? Sem mais nem menos, uma pessoa
absolutamente normal em termos de saúde, avista esse “cisne negro”. O que fazer
com a tal “via acessória anômala” se não há medicação adequada para preveni-la?
Um procedimento viável chama-se ablação, ou seja, uma cauterização da tal via,
por meio de um cateterismo. Um procedimento caro, dificilmente financiado pelo
SUS e pelos planos de saúde e com sucesso não garantido.
Quantas mortes
provisórias ainda terei?
Nos dois casos eu me encontrava perto de um hospital e tive atendimento emergencial muito rápido. Mesmo assim, se passaram mais de duas horas entre a percepção do acontecido e o procedimento médico bem-sucedido. Duas horas com o coração batendo mais de duzentas vezes por minuto, uma verdadeira maratona de um corredor despreparado para isso. O cansaço em seguida custou-me uns três dias de repouso até o coração voltar aos meus tradicionais sessenta por minuto. Darei conta de ter uma criação de “cisnes negros”?
A poesia existe para nos
fazer eternos: enfrentar o mistério da mortecompreender o trágico da vida. Registros
de humanidades.
Nota
(1) informações buscadas
através do endereço (Inteligência Artificial):
https://gemini.google.com/app/0b927907dbf337ee
ESTABILIDADE FINANCEIRA
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Eu sonho, como sonho.
Eu sonho com uma
estabilidade financeira.
Aonde eu possa acordar sem pressa.
Sem pensar em sair
procurando emprego.
Sem preocupar em
não dar certo.
Acordar sem preocupação.
Com os boletos em dia.
Sem medo de avisos e demissão.
Estabilidade financeira é bom.
Acho que assim a minha
insônia e ansiedade acabam.
Assim não sofro mas
com a
ansiedade.
Eu sonho com a
estabilidade.
Ser brasileiro requer
estabilidade.
DIA DO TRABALHADOR
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Maio chegou.
Hoje é primeiro amor.
Feliz dia do trabalhador.
Parabéns trabalhador.
Seu dia é todo dia.
Festeja e ganha o
seu pão a cada dia.
Parabéns trabalhador.
Vamos festejar esse
dia meu amor.
Celebrar o seu
trabalho a todo vapor.
Colorir as rimas.
Com seu suor de amor.
Feliz dia trabalhador.
Parabéns trabalhador.
DOIDEIRA DE SENTIMENTOS
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Aí, eu estou carente.
Quero alguém para preencher,
esse sentimento de carência.
Oi tudo bem?
Vamos sair? Estou afim de você!
Vamos, eu topo tudo encaro tudo.
Com uma semana eu
deixei de gostar de você.
Ei, psiu! Vamos terminar aqui.
Como assim? Não estava tudo bem.
Eu me deixei levar pela carência
da minha alma.
Não sei o que sinto nem o que quero.
Não sei se te desejo ou desprezo.
Minha alma está vazia.
Meu coração confuso fica.
Me desculpa preciso partir.
Só te usei para alivia-me.
Sou um irresponsável e só
causo danos e estragos.
O HUSSARDO E O DIADEMA AMARELO: UM MERGULHO NA ESCURIDÃO
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Na
alvorada de todos
Os
desejos ignotos
Há
o meu adentrar abrupto
No
teu ser mais-que-perfeito
Para
te recompor por inteiro
Entre
intermitentes sonhos
E
sonolentos e leves sonos.
As longas hastes finas das negras
luminárias, pendiam do teto, na ponta do bocal, em formato de meia lua e as
suas luzes amarelas frias, produziam ilhas de luzes, em meio aos breus
absolutos do ambiente álgido. A pista de dança estava vazia e um cósmico
silêncio sepulcral imperava no lugar.
Aflita, Layla caminhou lentamente,
ela ia em direção ao pequeno palco, no final da pista de dança. E Layla admirou
os lounges, eram nichos quadrados de madeira envernizadas. Pequenos cercados,
de um metro de altura, mergulhados na completa escuridão, Layla pode escutar
sussurros e gemidos vindos dos espaços.
Duas
mulheres, de corpos esculturais, abraçadas, que caminhavam em direção a Layla,
davam risadas estridentes e nada discretas. Estavam seminuas, com trajes
sumários, uma muito jovem, corpo escultural, tinha a pele amendoada e com os
olhos negros rasgados, usava um diadema amarelo, ricamente ornado de joias.
Layla tentou em vão absorver o sofisticado design da peça, ela não soube
responder às inúmeras perguntas. A única certeza era que a peça era cara, rara
e exclusiva, pensou ela, pois ela nunca tinha visto nada igual, a peça parecia
alienígena. A outra era uma mulher loura de meia idade, com profundos e
misteriosos olhos verdes, corpo atlético, coberta de tatuagens orientais pelo
corpo, Layla calculou que eram duas modelos fotográficas.
As duas passaram ao largo de Layla,
como se ela simplesmente não existisse, Layla olhou para trás e viu horrorizada
tentáculos negros saírem de um lounge e abduzir as duas mulheres, para dentro
da completa escuridão, em poucos segundos. Esguichos de sangue jorraram,
histéricos e tétricos gritos de terror ecoaram. Layla fechou os olhos, então
ela viu as duas mulheres impávidas, andando felizes e a poça de sangue havia
desaparecido.
Layla retomou a marcha, pensando
que tipo de encrenca Grege Sanders a tinha enfiado.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
MARGARETE (DE TUDO QUE SERÁ MEU)
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
No dia seguinte, retornei
à casa de Jane, tinha em mente seduzir Raul. Mas, agora definitivamente, como
uma leoa voraz. Ao bater na porta da
casa de Jane, uma empregada me avisou que ela, se encontrava dormindo, afinal
ela tinha depressão. Insisti chorosa que queria ver a minha melhor amiga, ela
ligou para Raul, depois de um breve diálogo entre os dois eu fui liberada para
ver a minha amiga.
Subi as escadas, junto
com a emprega doméstica pensando, que não passava de frescura a depressão de
Jane. Disse para a serviçal da casa que queria ficar sozinha com a minha amiga
e ela a contragosto me deixou sozinha com a minha amiga. Sozinha com Jane a
observei deitada na cama, ela tola ao extremo, ao invés de aproveitar a vida.
Ela vivia trancada no quarto, com um cheiro de mofo e como se não bastasse,
havia restos de comida no chão. Pena, uma burguesinha deprimida, ocupando um
luxuoso e belo dormitório como aquele.
Foi em direção a escada,
mas ouvi um barulho de um secado de cabelos, eu andei um pouco para trás, era
um quarto um pouco distante dos aposentos de Jane. Olhei pela porta, que estava
aberta e vi a minha a mamãe de Jane, Sula, estava arrumando os cabelos, com a
cabeleira de confiança dela, as duas cochichavam e riam baixo. A cabelereira
com um secado reluzente, que não fazia ruído algum e Sula sentada em uma
pomposa cadeira de salão de beleza. A madame montou um salão de beleza em sua
mansão. A linda Sula e a sua etérea beleza artificial. Depois de olhar a
deprimente cena que se desenrolava sem ser notada retomei o meu caminho.
Dei meia volta e vi Raul,
que me olhava de longe, ele me fazia sinais. Articulei as minhas ideias, nas
quais poderia, ou não, chamar a atenção de Raul, como lidaria com ele?
Repugnante pensei, ela passava o dia me cobiçando com uma mera conquista, mais
um troféu eu pensei. Pensei que para os meus projetos, poderiam realmente se
concretizar e só eu jogar o jogo, com cautela e cama. Foi me aproximando do
dono casa, como se estivesse com medo e cheia de dúvidas.
— Raul meu bem,
poderíamos entrar na piscina de hidromassagem de novo? — Perguntei entredentes.
— Claro, me espere logo
estarei lá. Esperei a infeliz da sua ex-mulher sair, daqui a pouco ela irá
fazer compras! Vá para o quarto de Jane e espere! —Falou o dono da casa com
propriedade e me despi diante de Raul.
Eu fui para o quarto da
minha melhor amiga, ela ainda dormindo profundamente. Passaram uns poucos
minutos e vi Sula entrar no luxuoso carro de Raul, depois vi os entregados da
casa saíram um por um, logo pensei que Raul deu folga para os empregados e empregadas
da casa. Dei adeus a minha amiga e fui desci as escadas e fui para os fundos da
casa, fui até a área da piscina, onde ficava a banheira de hidromassagem. A
banheira já estava preparada, tirei as minhas roupas, as joguei no chão e
esperei por Raul, que não demorou a aparecer, ele usa um roupão. Ele colocou
roupão e colocou no cabideiro ao lado da banheira de hidromassagem.
— Margarete, quero
dar-lhe um cartão para fazer compras, além de ser amiga de Jane, tem me feito
um homem feliz, novamente. —Disse Raul me massageando a minha nuca. Fizemos
amor ali mesmo, Raul como homem maduro me conduziu sem presa alguma, com certa
voracidade contida.
Se ele soubesse, que meu
intuito era bem outro, eu não sou uma completo idiota. Eu não aceito meras
migalhas. Fadigada, daquela situação, que aconteceu novamente, mal sabe ele, o
cansaço excessivo que eu sinto, ser mais uma conquista, uma de muitas. Enfim,
consegui dar um grande passo à frente e ele, Raul deslumbrado com a minha
juventude, que até ali apetece parte das minhas vontades, fazer parte da vida
de Raul. Resignava, porque ele atendeu todos os meus pedidos, que eram poucos.
Mas, logo, logo, tudo aquilo seria meu.
Contato: debragafabiane1@gmail.com
CLARA: A PEQUENA ORQUESTRA
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Do embate matinal com Manoel, o
burgomestre local, até o cair da noite, muitas coisas tinham mudado. Das
entregas dos frutos do mar, que Clara tinha encomendado com o burgomestre, a
casa de casa notou que os frutos do mar eram frescos e que Manoel não
superfaturou os preços. Os jornais semanais, revistas e as correspondências,
que eram estregues atrasados, foram entregues. Trabalhadores locais foram se
oferecer para trabalhar e pessoas que passavam apressados na frente da
residência de Clara, pararam e davam bons dias e boas tardes. Clara Witmarsum,
não soube e não tinha como saber, que o seu marido, Rodolfo Bianchi Hoffmann,
um jovem advogado, recebeu telefonemas e breves visitas em seu escritório, eram
assuntos amenos e boas-vindas. Agora no cair da noite, depois de jantar, os
poucos convidados estavam na ampla sala de estar.
No moderno aparelho de bom, um
chorinho tocava baixo e contrariando a vontade de Rodolfo, os empregados
domésticos a muito foram dispensados por Clara. Estavam todos tomando licores e
fumando os seus cigarros e o silêncio imperava, em um misto de curiosidades e
apreensões.
— Então dona Clara! Soube que a
senhora tem um tio controverso na velha Europa! É verdade? — Perguntou o
comerciante aduaneiro Genaro Manfredini.
— Na verdade, um tio-avô materno! —
Corrigiu Rodolfo.
E Clara passou a contar parte da
história da própria família tanto materna. Eram, segundo Clara, a família
Witmarsum que estava envolvida na longa
disputa entre as regiões da Alsácia e Lorena, que remonta há uma milenar
disputas sangrentas e como a família Witmarsum, percorreu as regiões de fala
germânicas, na velha Europa. Então o núcleo familiar de Clara, foi se
estabelecer entre a Áustria e a Suíça. A pátria dos Witmarsum por fim se
resumia à fala alemã.
Tudo ia bem, até que o bisavô
materno de Clara, Wagner Witmarsum, resolveu juntar os poucos bens em uma mala
e partir para o sul e partir daí percorrer toda a Europa latina. Foi ser ator
de teatro mambembe, ser músico de rua, cozinheiro, artesão, marujo de várias
embarcações e percorreu todo o mediterrâneo, participar de revoltas, rebeliões
e guerras civis no sul do continente europeu e por fim desaparecer por completo
de vista.
— Nossa! Que vida dona Clara, que
vida teve o seu parente! — Disse Antônio Dias, depois que ouvir a história e
continuou! — Como a senhora soube tudo isto?
Clara levou um cálice e licor de
goiaba até os lábios, manchado de a peça de cristal com de batom.
— Parte da história soube por
familiares, outra parte tive acesso às correspondências em da minha bisavó com
Wagner e as lacunas fiz uma pesquisa das aventuras e desventuras de Wagner. O
meu parente parece em diários, notas de jornais, memórias, cartazes das peças
teatrais que ele participou, partituras de músicas que ele compôs. Exposição de
quadros que participou, opúsculos e alfarrábios que editou — Disse Clara
omitindo os escândalos e aventuras amorosas que Wagner Witmarsum teve ao longo
dos anos, até o aventureiro morrer em algum país na costa africana do
Mediterrâneo.
— Daria um bom livro, dona Clara! —
Ponderou o guarda livros Guilherme Conrad.
Todos os olhos se voltaram para a
dona da casa naquela hora, Clara caminhou até a janela, estavam no terceiro
andar, a dona da casa abriu a janela, sentiu a brisa outonal marítima e escutou
as ondas quebrando na orla e se virou para os convidados e o marido.
— Temos assuntos mais urgentes,
senhores! — Sentenciou a dona da casa e continuou — Vamos fundar uma cidade!
Um silêncio supra real tomou conta
da sala de estar, depois sorrisos nervosos, pigarros de indignação, olhos
arregalados e bocas abertas. Pois homens de meia idade, com certo poder em
pequenas cidades vizinhas, estavam em um pequeno balneário de veraneio. Todos
ali sabiam que Clara Witmarsum não era uma mulher qualquer e que ela estava
além deles mesmo e do tempo em que vivia.
— Na verdade, vamos desmembrar esta
praia da cidade! E cada um terá um papel fundamental, seremos como uma pequena
orquestra tocando uma sinfonia inaudita tocando nas sombras.
COMPREENDE...!?
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Não deixe o mal vencer o amor! O amor é sincero, não nos destrói, completa. Devemos ser nossa melhor metade, sorriso, esperança, e o resto, o tempo nos encaminha. Hoje, vejo-me lúcida, distinta de tudo que me fez sofrer e rastejar, sem saber o porquê.
Palavras já não me machucam. Não existem mais argumentos e nem
fragmentos de um coração destruído. Amor próprio, sempre! Não queira ser apenas
uma fração, amor não se divide, completa um ao outro. E tudo ou nada. Ame- se
...! Há caminhos sem volta. Cair no abismo!? Jamais!
Contato: debragafabiane1@gmail.com
A MAIS BELA POESIA
Por
Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
A
minha escrita sem nexo,
Hoje
grita
Há
uma certa repetição de palavras
Poemas
incoerentes
E
sem lucidez…
Palavras
aglomeradas,
Infindas
rimas...
***
Leio
um livro,
Talvez
eu tenha inspiração
Mas,
a saudade me faz companhia
Sempre
presente, me faz melancólica
Onde
se escondes...!?
Não
te vejo!
***
Leal
e afável...
De
repente, deixou-me sozinha
Palavras
belas
E
sinto a tua essência incógnita
Formoso,
não sei! Vasto de encantos és...
***
Tento
te decifrar e não consigo,
Não
lhe ouço
Mas
eu preciso recomeçar,
E
viver a minha vida
E
largo tua mão!
Cativou-me,
seremos a mais bela poesia...
Contato:
debragafabiane1@gmail.com
É OUTONO!
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Vou
caminhar
Para
onde eu me sentir confortável pisar,
Sentir
a brisa do vento,
A
intensidade do sentimento
E
resguardar o meu coração.
Não
me pergunte para onde eu vou,
Às
vezes é bom não planejar as coisas.
Nada
na vida é tão perfeito
Como
as canções do ‘’Djavan’’.
E
se eu ‘’djavanear’’ vai ser
Um
grande devaneio meu
Entre
flores, sorrisos soltos e poesias no fim de tarde.
É
outono, tudo nos permite viver.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
A EPÍSTOLA DE CASSILDA (CALIBOR, O DOUTOR SONO!)
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Camilla, minha
querida irmã!
Digo que fiquei
alarmada, mas não surpresa, com a tua última carta, eu bem queria te responder
de outra forma, tamanha a minha aflição. Mas por fim uma carta é a melhor forma
para nós duas, pelo menos no momento atual.
Infelizmente, a
praga que você mencionou, também chegou até aqui! Tu bem sabes, que por aqui a
vida e o tempo se arrastam de forma lenta e com poucas mudanças. E hoje tenho
saudades, do bom tempo em que as nossas únicas preocupações sobre violências,
eram com os poucos roubos de bicicletas e de passarinhos furtados.
Li e reli a última
carta, que tu me enviaste e não pude fazer certas ligações com casos isolados,
que ocorreram por aqui, as nossas pequenas tragédias. Lembras do Sebastião? O
nosso velho Tião, da nossa meninice, sempre bêbado e sempre andando e caindo pelas
ruas da cidade. Inofensivo, pedindo dinheiro para mais um trago, pois bem
depois de muitos tragos o velho Tião, um dia a ao final da tarde, na tardinha,
ele cai no meio da rua. Pois bem pensamos que por fim tinha morrido, mas não
morreu e a história é um pouco estranha. Um policial que fazia a ronda na praça
da cidade, que o viu caindo no chão, verificou os sinais vitais e percebeu que
o Sebastião, ainda estava vivo e o policial chamou uma ambulância. E assim foi
o maltrapilho e barbudo Tião parar no hospital, na cidade vizinha. Camila,
minha irmã, foi um fato trágico, embora mais que esperado. E poucos deram mais
atenção ao fato em si. E outra tragédia veio para abalar a nossa calmaria,
longe dos grandes centros.
Camilla você sem
lembrar do Luide? O nosso bom amigo de meninices faceiras! Pois bem, você bem
sabe dos problemas mentais que ele teve quando era mais moço, andando sem rumo
pelas ruas da cidade e indo e voltando pelas cidades vizinhas, até ser
reconhecido por alguém e o levarem de volta para casa. Ele sempre falava
sozinho, interagindo com gente e coisas que não existem. Pois um dia ele ficou
mais agitado, gritava, chorava, ria, esbraveja, se encolhia em desespero e por
fim era um pouco agressivo. Até que por fim, ele também caiu no meio da rua, no
mesmo lugar e na mesma hora que Tião caiu. Também foi socorrido, os socorristas
notaram que estava desacordado, e mais uma vez, mais um dos nossos foi
socorrido ao hospital.
Essas duas
tragédias em três dias de diferença, não chamaram a atenção de ninguém com
muita profundidade, e Camilla nem o jornal e rádio da nossa cidade mencionaram
os dois casos. O padre, da nossa paróquia, na missa de domingo pediu para que
rezarmos pelos nossos irmãos convalescidos. E também, nas pequenas igrejas
neopentecostais e protestantes, os pastores pediram orações pelas duas pobres
almas.
Camilla, o mais
trágico vem depois, Arthur, que tu não conheceste bem, era filho da Glória a
nossa amiga de escola, você bem sabe que ela era minha amiga, éramos
inseparáveis. Se lembra dela estudando? A Glorinha, sempre na nossa casa e às
vezes ela dormia na nossa casa! E do papai nunca me deixava dormir na casa
dela, era sempre uma briga com papai e mamãe e eu a Glorinha sempre chorávamos,
quando ouvíamos o não de papai.
Pois bem irmã, tu
bem sabes que eu dou aulas de inglês, português e literatura na escola que
Glorinha era diretora. A mesma escola, que a gente estudou e nós formamos. Pois
minha querida Camilla, por Deus Camilla, fui eu que escolhi o nome do primeiro
e único filho dela Arthur, sempre adorei as lendas do rei Arthur como bem sabes
Camila. Por Deus Camilla, não se sabe como e nem por quais circunstâncias, o
nosso jovem Arthur, o nosso doce Arthur professor de literatura, muito querido
por todos e todas. Ele sempre calmo, estudioso e bem-comportado, ele estava
andando pelas ruas da cidade. Estava encharcado de sangue, balbuciando palavras
ininteligíveis, era um idioma estranho que ninguém entendia. E ele cai
inconsciente, no mesmo lugar, por Deus Camilla, foi no mesmo lugar, na mesma
hora, no final da tarde. Em espaços de três dias.
Assim como os
outros casos, ele caiu desacordado e mais uma vez foi socorrido por uma
ambulância e levado ao hospital. E te confesso que não tive coragem de avisar a
minha amiga querida, a minha irmã de coração. Por Deus Camilla, me contaram
depois que a nossa Glorinha não estava mais viva, Arthur a tinha matado. Pensei
em uma briga entre os dois, pois era sempre assim quando Arthur perguntava pelo
pai dele, quem eram, se estava vivo e onde vivia. Eu mesmo nunca soube e nem
perguntei, quem era o pai de Arthur. Mas os vizinhos não ouviram nada, pois
eles dois sempre que brigavam faziam muito barulho. Mas naquele sábado ninguém
percebeu nada e somente um estranho silêncio reinava na casa.
Pois bem Camilla,
soube mais tarde que Arthur estava desacordado no hospital. Os três casos, em
um intervalo de três dias. E nesta hora, que tu passas os olhos nesta carta,
você deve estar se perguntando por que tu, de nada ficou sabendo. Pois bem,
você tinha acabado de sair daqui, para dar as tuas aulas de música e em meu
amor infinito por ti, não imaginava tu voltando para casa e não era justo para
contigo. Aqui se repetiu o mesmo silêncio que acontece por aqui, um hiato
inexplicável.
O que aconteceu
depois, minha querida Camilla, algo muito estranho, para além das estranhas
tragédias, que abalaram a nossa calmaria interiorana. Uma equipe médica, veio
ver os três pacientes. Você sabe que poucas coisas escapam de um universo tão
pequeno como o daqui. Uma aeronave descendo em uma fazenda por aqui não passou
despercebida. E quando sai de dentro da aeronave uma equipe médica, na luz do
dia, fica muito difícil de se esconder. Desembarcaram aqui e depois foram para
o hospital na cidade vizinha.
E um nome começou
a circular pela cidade, Calibor, o doutor sono, só depois fiquei sabendo que
ele era um neurologista estrangeiro, reconhecido pelo mundo da medicina. Eu
gostaria de não o ter conhecido, mas tive o desprazer de o conhecer, pois este
homem era tudo, menos o que se espera de um médico mundialmente renomado.
Soubemos de muitas coisas porque muitos médicos, médicas, enfermeiras e
enfermeiras, que trabalham no hospital, vieram viver por aqui na zona rural.
Gente de fora que veio trabalhar no hospital.
Pois bem Camilla,
este sujeito passou por aqui, na nossa cidade, deste fim de mundo, vi este
homem de pele escura, sem um fio de cabelo na cabeça, rosto fino, um
cavanhaque, parecia um egípcio. Não usava um janelo branco como os médicos e o
povo da saúde usam, ele estava usando um jaleco amarelo pálido.
E lá estava ele,
analisando o local onde os três tinham caído, ele o seu séquito, homens e
mulheres bem alinhados, e mais o diretor do hospital onde estavam os internados
os infelizes cidadão da nossa cidade.
Camilla, eu não
queria ter visto, mas vi, pois o alvoroço da cena que tinha mobilizado a
cidade, eu não escapei do canto da sereia. Eu vi quando o doutor tirou os
óculos escuros e redondos, de aro de tartaruga, as lentes eram espelhadas, vi
os olhos dele Camilla, os olhos não eram frios, e nem exalavam maldade, eram
olhos blasfemos. Eram profundos, abissais e álgidos! Depois eles foram embora,
como se nada fossemos, pois nem mesmo os políticos locais conseguiram convencer
aquele homem estranho ficar mais tempo na nossa cidade. Foram embora em uma
limusine, levantando poeira.
Camilla que cena,
horrível ver aquele homem ali, eu senti na minha alma, eu bem sabia que algo de
ruim estava por vir e veio. E o que passo a pensar que começou aqui, na nossa
cidade, Camilla vi nascer aqui a tempestade que te assola aí no litoral. É um sentimento
meu, que guardo para mim e agora divido contigo.
Da tua irmã
Cassilda.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br