Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Há o despertar
impermanente
Somente para te
desnudar
Entre sedentas
lágrimas de ébano
Trágicas carícias
cósmicas
E abissais algozes
desejos sonolentos
Arthur estava
mudado, o que era de se esperar, depois de uma longa viagem, pois o jovem
literato queria conhecer o mundo. Não os grandes centros urbanos do Novo mundo
e da velha Europa. Arthur, o pretenso escritor, queria andar pelas escaldantes
areias do deserto africano. Navegar e vislumbrar no azul do mar mediterrâneo,
contemplar as milenares ruínas do oriente e do oriente médio e indo parar em
cidades e ilhas perdidas no sudeste asiático. Depois conhecer a América
Central, navegar pelo caribe e se perder no México.
Arthur conhecia
bem, os grandes e médios centros urbanos de seu próprio país, as grandes
paisagens interioranas, dos grandes estados e as agitadas cidades turísticas do
litoral. Sempre em viagens de férias com a família, ou em excursões escolares e
com amigos, idas a espéculos variados. Mas a sede da solitude, era grande,
enorme a bem da verdade.
E, depois que
perambular perdidamente, por terras distantes, aprender novos hábitos, aprender
novos falares, outros idiomas, provar novos sabores, se embriagar com
diferentes bebidas e se entorpecer, com diferentes alucinógenos. Se apaixonou,
perdidamente, por diferentes mulheres de diferentes etnias e viveu rápidas
aventuras.
Agora, Arthur
estava de volta, tinha voltado para a bucólica cidade interiorana que o viu
nascer e crescer. E como a volta para casa lhe doía no seu âmago, mais que
profundo, ali não era mais a casa dele, ali era um outro lugar, um lugar
desconhecido.
E Arthur em seu
estúdio, o seu outrora amado local de trabalho, diante de um espelho. Ele teve
um vislumbre de um tempo perdido, de uma vida que não era a dele. Um conclave,
em um suntuoso e enorme salão de festas. Arthur, estranhamente reconheceu o
lugar e reconheceu todos e todas ali presentes. Eram pessoas de suas relações
íntimas e profissionais, homens vestidos de fraques e mulheres usando vestidos
de gala. Em meio a conversas amenas proferidas altas, pelo efeito do álcool,
Arthur escutou os nomes, assim como os nomes de Condessa Fá Rodrigues Butler e
da imperatriz Sibelly Lopez. Arthur sentiu o medo e a admiração de todos e
todas ao mencionarem os nomes das duas poderosas mulheres, ele mesmo sem saber
o motivo experimentou as mesmas sensações.
— Então! Meu
jovem? Como está indo, o vosso novo opúsculo? — Disse um homem gordo e
aparência próspera, ele tinha na mão um charuto cubano em uma mão e uma
delicada taça de cristal na outra. O homem levou a taça à boca e degustou
lentamente a champagne rosé gelado.
— Está vendendo
muito bem o meu último romance, meu senhor! — Respondeu casualmente Arthur,
como se conhecesse o homem estranho na frente dele e como soubesse do que
estava falando!
— Que marmota é
esse mancebo? Te perguntei da nova peça de teatro O rei... O rei... de alguma
coisa! Me disseram que é supimpa! Se precisar, conte comigo para montar o
espetáculo! — Falou alto o homem, parecia que ele queria ser notado por todos e
todas.
Um silêncio
sepulcral tomou conta do salão de festas, a temperatura caiu e o olor de
gardênia tomou conta do lugar. E uma elegante mulher, de meia idade adentrou de
forma teatral, no salão de festas, ela estava usando um elegante negro vestido
espanhol. Era a Condessa Fá Rodrigues Butler a razão da festa, Arthur se
emocionou ao ver mulher de ares nobres. Ele quis chorar tamanha a felicidade ao
vê-la, taças foram erguidas em uma saudação silenciosa e contida para a dona da
festa.
Arthur se voltou
para o homem, que estava ao lado dele, mas este já tinha sumido e o jovem
escritor o viu dirigir por uma porta lateral. Pareciam que fugia de algo ou de
alguém, era patético a cena que se desenrolava. E a cabeça de Arthur começou a
doer, de forma leve, bem leve à foi aumentando, até o jovem escritor levar a
mão à cabeça e voltar para o seu aposento. O espelho se partiu e um nome
explode na cabeça do jovem escritor: Calibor!
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