Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
A minha ida ao
cemitério mudou muitas coisas. Eu encontrei uma pessoa. Parecia ser uma pessoa
na verdade. Ele surgiu do mundo dos mortos, algo bem estranho, um lugar
considerado cemitério maldito. Para mim foram alguns minutos de ‘’amor à
primeira vista’’. Naquele momento, passando pela dor da perda eu me despedia do
seu melhor amigo. Num simples gesto de acolhimento ele lhe entregou uma flor, o
estranho que sem me conhecer disse para mim que iria ficar tudo bem. Ele tinha
no olhar um brilho fascinante, a cor dos seus olhos era impossível de esquecer,
de longe chamava a atenção.
Quando estava
saindo do local ele estava em frente ao cemitério como se estivesse à minha
espera. No dia seguinte eu fui novamente ao cemitério, algo dentro de mim dizia
que eu tinha que estar ali e novamente em frente à entrada do cemitério ele
estava lá. Como se me esperasse faz horas perguntou: - Por que demorou tanto?
Sinceramente,
fiquei sem entender, foi então que perguntei: - Como sabia que eu estaria aqui?
E aliás, qual o seu nome?
Olhando fundo nos
meus olhos ele me respondeu:
̶ Meu nome é Ravi. Eu sabia que você viria.
Então ele me disse
algo que de início me deixou um tanto assustada: - Você tem uma ligação com os
mortos. Algo que temos em comum.
Assustada com tudo
que me disse, pensei em ir embora, mas algo dizia para que eu ficasse. Entrei
no cemitério e ouvi uma voz dizendo que a minha vida iria mudar.
E a minha vida
mudou drasticamente. Com tantas coisas acontecendo acabei descobrindo o lado
perverso e cruel do meu tio Felipe. Contudo descobri que ele foi capaz de me
induzir num sentimento que só existia para ele. Eu me vi aprisionada naquela
casa, dentro dele tinha um espírito demoníaco. Levou-se tempo, mas eu consegui
me livrar dele. Eu não podia desistir, eu tinha a missão, almas perdidas
estavam aprisionadas no quarto daquela casa.
Eu tive a ajuda do
“espírito da libertação” e o gato Fred. Muitas pessoas naquela época achavam
que eu era uma bruxa e quando eu tentava ajudar não conseguia. No dia que me
livrei do meu tio eu consegui a ajuda de policiais. Foi estranho, mesmo com o clarão que fazia na
rua e as janelas do quarto abertas, tudo estava escuro na nossa casa.
Foi preciso
acender as luzes, parecia que as trevas ainda tomavam conta dali. Havia uma
nuvem de fumaça densa no ar. Até me senti mal. Os policiais e especialistas
começaram a quebrar as paredes daquele quarto, era nítido que os corpos estavam
ali e que eram de jovens moças. Elas aparentavam ter a minha idade. A nossa
percepção dava-se aos cabelos longos e vestimentas femininas.
Todos estavam
intactos, duas jovens que há anos eram procuradas.
Chorei muito ao
ver os corpos serem imediatamente retirados. Nesse momento eu pude ouvir e ver
o espírito das jovens agradecendo a ajuda. Vendo tudo isso da janela, mesmo que
imóvel, meu tio Felipe começou a suar frio, acho que o medo lhe tomou conta ao
ponto de desmaiar no chão, não sendo mais visto pela janela. Então fomos todos
para a rua à sua procura, até que estivemos diante de um surpreendente
acontecimento. Aquela fumaça densa saiu de dentro da casa e encobriu Felipe
levando-o para o mundo das trevas.
Nesse mundo, almas
infelizes vivem ali numa eterna escuridão. O que aconteceu comigo depois? Eu
ganhei asas e saí daquele lugar sem destino. A minha história poderia acabar
por aí, mas não foi assim que aconteceu. Entrou no meu destino Daemon, um
espírito maligno, resquícios da mente cruel do meu tio Felipe.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
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