Por Paulo Cezar S Ventura (Nova Lima, MG)
Cuidar de você, hoje, é uma
boa forma de pensar o futuro, sem ansiedade.
A partir de que idade
precisamos começar a pensar em nossas vidas? Depois dos sessenta, setenta ou
mais?
Não sei até onde é verdade
a afirmação de que os jovens não pensam na velhice, mesmo tendo parentes velhos
por perto.
Ouso afirmar que o futuro é
sim, importante, embora vivemos em uma época em que se valoriza o momento
presente para evitar ansiedades desnecessárias.
No entanto, pensar no
futuro não é apenas curtir ansiedades.
Sei disso pelo preço que
pago em não ter pensado no tal de futuro, tempos atrás, o que me leva a um
presente cheio de dúvidas sobre o hoje à tarde e sobre o amanhã.
Perde-se, ao envelhecer, certas valentias.
Tenho medos à luz do dia:
qualquer inverno ouropretano me amolece;
qualquer curva da estrada me arrefece;
qualquer anoitecer anuviado me entristece.
Perdemos muito mais que as
valentias ao envelhecer. Perdemos muito tempo na vida fazendo coisas que
não queremos e não gostamos, para agradar a terceiros. Agradar as pessoas é
bom, mas dizer não de vez em quando é ainda melhor para nossa autoestima.
Dádiva de envelhecer
É perder a noção do tempo.
Perde-se a medida do tempo
Ganha-se o tempo: inteiro.
E nesse tempo a não ser
perdido precisamos colocar uma grande atenção às questões de saúde. Esse
cuidado não deve ter início quando chegamos àquela idade em que somos
denominados pessoa idosa. O começo de nosso envelhecimento está no momento do
parto. Acredite, a negligência de hoje será cobrada amanhã. Nesse ponto, cuidar
de você, hoje, é uma boa forma de pensar o futuro, sem ansiedade.
Todo cuidado com a saúde
ainda é pouco. Valho-me de minha própria história para exemplificar. Até em
torno de meus quarenta e cinquenta anos, eu ia ao médico em duas situações:
fazer exames médicos para a prática de esportes e cuidar de algumas lesões adquiridas
nessas atividades. Ou seja, fraturas ósseas, tornozelos inchados e luxações nos
ombros. Com o tempo comecei a visitar o doutor para o famoso exame de próstata
e aproveitava para fazer aqueles exames de sangue “sopa de letrinhas” que nunca
acusavam nada de anormal.
— Você é um patrimônio
clínico, dizia a médica a quem visitava uma vez por ano, sempre no mês de meu
aniversário. Ouvir a frase era meu presente. Por isso a surpresa, minha e dela,
quando tive meu primeiro episódio de taquicardia supra
ventricular (TSV), algo que se repetiu esse ano.
Silêncios plásticos, eloquência dos vazios,
vocação para o deserto:
aprendizagens com o envelhecer.
No caminho dos silêncios
plásticos veio a dengue. Não fiquei imune. Ela me pegou de jeito. Um domingo à
tarde senti um cansaço enorme, deitei-me no sofá da sala. Meia hora depois
tentei me levantar: o corpo recusou. Insisti, foi necessário um enorme esforço
para isso. Com o esforço veio as dores no corpo, da cabeça aos pés. Dia
seguinte, direto ao hospital. Exame de sangue: cadê o sangue que não veio à
seringa? Desidratação. O tal vírus bebe todo nosso líquido, foram mais de dez
dias de hidratação exaustiva e hemogramas diários para medir as variações do
número de plaquetas.
Em 2024 a dengue já levou a
óbito muita gente. Os números são inconclusivos, mas além das mortes
confirmadas existem outras 2000 que estão em investigação. Entre os mortos, em
dados divulgados em 12 de março de 2024 pelo Ministério da Saúde, o número de mortes
de pessoas com mais de 60 anos representava 57% do total de mortes
pela doença no país até aquele período. E o período mais crítico veio depois
dessa data, com dados totais ainda não divulgados. Embutidos nesse número estão
as mortes de pessoas com mais de 70 anos, que representava 74% das mortes de
pessoas idosas, causadas pela dengue.
Assim como nos tempos
bravos de covid-19, somos nós os mais vulneráveis. Óbvio que a velhice já é, em
si, uma vulnerabilidade lógica. Mas essa vulnerabilidade é aumentada pelo
descaso das pessoas que detém o poder: o poder público que não controla e o poder
privado que não se preocupa com nossas questões ambientais. Até quando o medo
será nossa companhia?
Lembrem-se, caros jovens.
Vocês também envelhecerão (ou morrerão jovens?) e serão maioria populacional
nos anos que se aproximam rapidamente. Se nós, pessoas idosas de hoje, já não
temos os cuidados necessários, o que será de vocês? Quem cuidará dos mais de
40% de pessoas idosas, número a ser atingido muito breve?
Em vez de envelhecer escrevo poemas.
Rejuvenesço em versos.
Não há tempo para as duas coisas, são incompatíveis.
Quem escreve não vê o tempo passar.
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