Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Em Nova Orleans, às margens da
plantação, sacos de ráfia estão cheios de algodão, pois já passa das onze horas
da manhã. O sol a pino, castiga aquele exército de corpos negros e reluzentes.
São deuses e deusas de Ébano a cantar uma lamuriosa canção. Uma litania, que
para o povo da casa grande, que está na outra margem de um oceano de
desigualdade, ainda não aprendeu a entoar.
Indo ao sul do Equador, no Rio de
Janeiro, na orla da praia, um bater de palmas encanta quem passa por perto,
corpos elásticos voam ao som de um instrumento rústico musical africano
Em África, em um país cuja língua
oficial veio a muito da velha Europa, um idioma imposta pelos colonizadores. Um
africano retinto, fortemente armado e uniformizado, sonha com um futuro melhor
e vê o seu país livre dos domínios do colonizador. O soldado rebelde, diante de
um regimento, estava impaciente, tentando articular as palavras em um discurso
avassalador.
De volta ao do novo mundo, no sul
do Brasil, um jovem artista negro ao discursar, trocou o dia pela noite, ao
cumprimentar os presentes em glorioso evento. Está lançando o seu primeiro
livro de poesias, ninguém parece notar certas minúcias nano-atômicas, pois
estão todos e todas, chocados e chocadas com a dureza das palavras proferidas
ao microfone.
Um tripulante negro, de um navio
mercante, embarcação que cruza os oceanos, ele recorda da infância e juventude
há muito esquecidas, quando vivia em uma ilha perdida nas Antilhas. E tudo que
teve que deixar para trás, para cruzar as imensidões oceânicas, para conhecer o
mundo, um dos seus sonhos de criança pequena. Sonhava em percorrer o mundo e
conhecer pessoas e lugares desconhecidos. O marinheiro, negro como a noite e de
origem humilde, sabe que jamais comandaria o navio em que trabalha.
Um beduíno negro, em uma caravana,
a peregrinar o ebúrneo deserto árido sem fim, sonhava em ver a neve, pela menos
uma vez na vida. Agora, elegantemente vestido, sentado à mesa de um requintado
café, ao norte no álgido leste europeu. O homem negro, se espanta com a forma
rude e como é tratado a fazer o seu pedido.
Fragmento
do livro: Uma flor chamada margarida, de Samuel da Costa, contista,
cronista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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