terça-feira, 1 de abril de 2025

A MINHA ARTE, A MINHA TERAPIA

 Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

Eu tenho que escolher

Entre sobreviver e o existir

A minha vida as minhas escolhas

Eu escolho sobreviver e existir

***

A única maneira

De eu vencer é o teu nunca desistir

Podes estar na escuridão agora

E se sentindo perdida

Eu gosto disso

Pois tu podes confrontar

 Os vossos atos falhos

***

Tomei a decisão mais que consciente

Quero eu compor os melhores textos

Sem drama ou algo especialmente interessante  

Por mais difícil que se possa pensar

 Quase sempre eu escrevo por escrever

Então tenho eu a imensurável

 Sensação de ter experimentado

As sobreposições de luzes

Frias, quentes e vagas  

***

Pensei em comprar um novo disco rígido

Foi ontem ao final da tarde

 Para fazer os backups

Das minhas imagens refletidas

Do espelho convexo  

E os meus antiquíssimos arquivos

Que insisto em não deletar  

***

Quando eu arquivava as minhas imagens

Eu me deparei

Com algumas sobreposições

De tons sobre tons

Entre luzes frias, luzes quentes  

E nevoentas luzes vagas

***

Eram para ser uma celebração

Mais que deslumbrante

Ser eu a imperatriz soberana  

Das minhas próprias criações

Ver os meus versos e as minhas prosas

Publicadas para me cobrir de orgulhos  

Com efusivo amor

De pessoas que eu não conheço

E que nunca irei conhecer

***

O orvalho pode até ter

 Lavado os meus negros e sedosos cabelos

Ter borrado a minha maquiagem

Mas nada poderia me impediria

De estar onde eu quero estar  

***

Muito obrigada minha querida

Por confiar em mim

E ter chegar até aqui

Pois um olhar mais atento às coisas descabidas

Uma visão especialmente aguçada de mulher  

Viras as minhas partes intercambiáveis

E retráteis e cheia de fogo

A necessidade de que eu tenho lutar

Para eu me reencontrar comigo mesma  

***

Aqui termino o meu breve relato

Foi algo que fiz ontem

A tardinha

Uma sessão de fotografias textuais

Sem maquiagem alguma


Fragmento do livro, Sustentada no ar por negras asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, cronista, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

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