Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
―Vamos na praia, mulher? ― A pergunta retórica, de
Felisberto Caetano, em tom de puro desespero, não abalou Giovanna Espósito a
italiana, ela sentada complacentemente em um sofisticado sofá, na sala de
estar, ela bordando uma delicada toalha branca.
― Tás tolo homem, ir pra praia, com um tempo
desses, vê se não me amola! Vê se cria juízo homem de Deus! Foi só comprar essa
lata velha, pra tu ficar todo assanhadinho. ― Respondeu Giovanna Espósito, sem
sequer levantar os olhos, para encarar o marido, ao proferir essas palavras. A
italiana, bem sabia que os novos rompantes do marido, não iriam parar por ali.
E de fato, os rompantes de Felisberto Caetano não parou por ali.
Após se aposentar, Felisberto Caetano, reuniu do
pouco dinheiro que tinha, tirou a carteira de motorista e comprou um Fusca 68
usado. O carro era um sonho há muito sonhado e somente agora realizado. E o
universo de Felisberto Caetano, outrora tão pequeno em relação ao tempo e ao
espaço, agora ganhará limites nunca antes imaginados. E esse novo mundo, agora
tão vasto em infinitas possibilidades, já não cabia mais no pequeno mundo,
compartilhado pelo casal Caetano Espósito.
E Felisberto Caetano, de repente passou a repensar
nas coisas, que Giovanna Espósito, teve que abdicar para poder casar com ele,
um simples operário, pobre e negro. E uma profunda análise, na sofisticada
decoração europeia da casa, obra da esposa filha de italianos emigrados.
Felisberto Caetano, sentiu que alguma coisa não estava certa, com a vida que
levava junto com a esposa. Somente agora, os excessos decorativos à moda do
velho mundo, o atingiram em cheio, onde era tudo milimetricamente disposto a perfeição.
Então Felisberto Caetano disse para si: ― Que droga de casa, por mim, botava tudo isto
abaixo!
― To indo pra
praia mulher, se que ficares, então fica! Não estou nem aí pra tua mulher! ― A
aspereza na voz cansada de Felisberto Caetano, foi encontrar Giovanna Espósito,
incólume sentada no confortável sofá, agora tricotando um cachecol em pleno
verão.
E assim se deram as coisas dali por diante, um conforto nada silencioso entre o
casal de idade avançada. Eram os pequenos prazeres da vida e na vida, que
Giovanna Espósito, renunciara há décadas. Eram os pequenos prazeres, que
Felisberto Caetano, o marido de Giovanna Espósito, origem proletária, só
descobrira na velhice. E após muitas idas e vindas, sempre sozinho, percorrendo
a região com o seu Fusca 68, Felisberto Caetano, então por fim pediu o
divórcio.
Fragmento do livro: Uma flor chamada margarida. Texto de Samuel da
Costa, contista, cronista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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