terça-feira, 1 de abril de 2025

OPERA MUNDI: MESTRES DA REALIDADE (SÉRIE: OS CEIFADORES)

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

‘’Sem palavras sou o silêncio e apenas leitor...

Com todo o sentimento da minha alma.

Toda a inspiração é um mistério, que nos rodeia   

No presente me transbordo de felicidade

        Há tempos desfiz do meu orgulho,

       Despi-me dos meus medos e dúvidas’’

           Fabiane Braga Lima

 

          Wagner Altermann, simplesmente olhava para frente, era um olhar perdido no vazio, no infinito e fleches e lembranças recente iam e vinham. Era ele com os amigos, todos em bares, bebendo e rindo! O pequeno grupo, estava entrando em um carro, os nomes dos amigos, Wagner Altermann não lembrava, para onde se encaminhavam ele não sabia. As fortes dores no corpo, trouxeram Wagner Altermann para a realidade em que estava e uma olhada no entorno não foi no suficiente para ele identificar onde estava.

          O som de uma bateria ritmada, acompanhada por um baixo bem tocado, depois um solo de saxofone irmanado por uma guitarra, a voz melodiosa de uma cantora, sentenciou que Wagner Altermann, estavam em um clube de jazz. A lembrança da mal afamada noite de Jazz, no Hell-fire Club, chegou de forma avassaladora. A pior noite, no pior clube noturno da região, a noite dos negros e negras, onde brancas e brancos simpáticos de negros e negras se encontravam e se confraternizavam. E naquela noite em particular, homens negros, com os seus bigodes finos, barbas bem aparatados, cabelos bem cortados e brilhantes, usando ternos bem alinhados, sobretudos e capas de chuvas, chapéus, fumavam charutos e cigarros, tomavam gins tônicas e uísques. Usando pesadas maquiagens noturnas, Mulheres negras, elegantemente bem vestidas, usavam vestes vintage, calçavam saltos altos agulhas, brincos reluzentes e uma gama variada de chapéus, alegremente bebiam acompanhando os seus pares. Eram de idades variadas, jovens, jovens adultos e idosos e idosas, estavam rindo, conversando animadamente, estavam sentas e circulavam pelo clube. Falavam uma linguagem desconhecida para Wagner. Era um bailado sincronizado, que ele nunca tinha visto antes.

          Wagner Altermann, não se lembrava como foi para naquela zona de exclusão, só lembrou das aventuras nas estradas com os amigos, filhos da elite local. As crazy tours, como ficou conhecida, pois a pequena trupe, depois percorrer a zona boêmia aos redores da cais do porto e inferninhos locais, começaram a incomodar os moradores do lugarejo. Então depois de pequenos escândalos, promovidas pelo pequeno grupo, a solução natural para o embrolho, a trupe passou a percorrer a cercanias. O grupo, passou então a frequentar os bares e os clubes as margens e próximos as rodovias, que cortavam as cidades da localidade em uma eterna festa itinerante.

          Wagner Altermann, sentado na frente do palco, ele sentindo dores atrozes pelo corpo, ele tentando decifrar o que o conjunto musical, estava executando no palco. Eram músicos negros, vestidos roupas extravagantes, usavam óculos escuros e a cantora era um espetáculo à parte. Ela usando um vestido tubo branco decote em V, salto alto agulha, usava um sofisticado diadema amarelo na cabeça, adornada com joias de marfim e uma portentosa gargantinha no pescoço. Os longos cabelos ebúrneos, na boca um provocante batom carmesim, os olhos negros rasgados e a pele amendoado. O impressionado Wagner Altermann, teve a impressão vaga, de ter vista a cantora antes, andando pelas ruas provavelmente. A música de repente aumentou e Warner percebeu que a canção era um idioma desconhecido.

          — Posso me sentar? Meu bom amigo! — Disse um homem de idade avançada e elegantemente vestido, usava um sobretudo negro, fazendo par com um chapéu, no pescoço um longo cachecol marrom e nas mãos luvas brancas, estava ao lado de Wagner.

          — Estamos em um país livre! — Disse Wagner, sentido fortes dores nas pernas. Altermann, ao ver o homem sentar, notou uma bengala em madeira de luxo cavalo alazão, nas mãos enluvadas do desconhecido.  

          — País livre? Mas quem é de fato livre na vida? — Disse o estranho, com uma ronquidão na voz.

          — Quem é o senhor? Tenho a impressão que ter visto o senhor antes! — Disse Wagner quase surrando, as dores do corpo aumentaram.

          — Não creio que eu tenha me esbarrado com a vossa pessoa antes — Disse o senhor, levantou a mão esquerda estalou os dedos enluvado, um garçom surgiu com uma bandeja. Trouxe uma bandeja, com dois copos de uísque sem gelo e uma caixa de charutos, o garçom colocou os dois copos e a caixa de charutos na mesa. O senhor colocou a mão no bolso, tirou uma certa quantidade de dinheiro e pagou o garçom.

          — Deixa eu adivinhar, a vossa excelência é o empresário do conjunto musical? — Perguntou Wagner Altermann, acostumado a viver entre com homens e mulheres que emanam poder econômico e político.

           — Pode-se dizer que sim meu amigo! E me disseram que eras um qualquer! — Respondeu o homem idoso e empurrou o copo de uísque para Wagner. Este não conseguiu levantar a mão, para pegar o copo à frente dele, um formigamento tomou conta dos braços de Wagner.

          — Quem disse o que? — Pergunto Wagner Altermann, assustado.

          — Isto não impor meu bom amigo! Deixe me apresentar, o meu nome é Adamastor! Eu sou um simples mensageiro, o meu nome é Arinos, mas antes de tudo, em primeiro lugar lhe digo meu jovem, o pior de todos os pesadelos é a realidade! — Disse Arinos, com eloquência.

          — Pois de um pesado a gente acorda e da realidade não pode fugir! Já ouvi está mesmo retórica de formas diferentes! — Disse Wagner Altermann, fazendo um esforço para pegar o copo e levar até a boca, o gosto de uísque se misturou com algo viçoso. Demorou um pouco até Wagner Altermann descobrir que era gosto de sangue.  

          Arinos levou o copo de uísque até a boca, desgostou a bebida, depois levou o charuto a boca acendeu e expeliu uma fumaça no ar.

          — Primeiro os escolhidos, eram puros e castos, não demorou muito os piores tomaram o lugar. Eram levados ao altar e oferecidos aos deuses antigos, depois houveram os que se voluntariam...

          — Arinos? Que nome estranho, mas que marmota é esta? Eu não estou entendendo nada meu senhor! — Disse Wagner Altermann se retorcendo de dores.

          — Eu vim lhe buscar! Simples assim! — Disse Arinos, dando um sorriso aterrador.

          — Me buscar? — Perguntou Wagner Altermann e desespero.

          — A realidade senhor Wagner Altermann. A realidade!!! — Disse uma voz gutural, que rompeu o tecido espaço e tempo e chegou aos ouvidos e mente de Wagner Altermann de forma avassaladora.

          Wagner Altermann, sentiu o mundo girar, uma chuva de vidros partidos a lhe cobrir e a dilacerar o corpo. Fortes estrondos e gritos de pavor ganharam o ar. 

Fragmento do livro: Em perpétuos ciclos, por Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.

Argumento de Clarisse Cristal, bibliotecária, contista, novelista e poetisa em Balneário Camboriú, Santa Catarina. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário