Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
‘’Sem
palavras sou o silêncio e apenas leitor...
Com
todo o sentimento da minha alma.
Toda a
inspiração é um mistério, que nos rodeia
No
presente me transbordo de felicidade
Há tempos desfiz do meu orgulho,
Despi-me dos meus medos e dúvidas’’
Fabiane Braga Lima
Wagner
Altermann, simplesmente olhava para frente, era um olhar perdido no vazio, no
infinito e fleches e lembranças recente iam e vinham. Era ele com os amigos,
todos em bares, bebendo e rindo! O pequeno grupo, estava entrando em um carro,
os nomes dos amigos, Wagner Altermann não lembrava, para onde se encaminhavam
ele não sabia. As fortes dores no corpo, trouxeram Wagner Altermann para a
realidade em que estava e uma olhada no entorno não foi no suficiente para ele
identificar onde estava.
O som
de uma bateria ritmada, acompanhada por um baixo bem tocado, depois um solo de
saxofone irmanado por uma guitarra, a voz melodiosa de uma cantora, sentenciou
que Wagner Altermann, estavam em um clube de jazz. A lembrança da mal afamada
noite de Jazz, no Hell-fire Club, chegou de forma
avassaladora. A pior noite, no pior clube noturno da região, a noite dos negros
e negras, onde brancas e brancos simpáticos de negros e negras se encontravam e
se confraternizavam. E naquela noite em
particular, homens negros, com os seus bigodes finos, barbas bem aparatados,
cabelos bem cortados e brilhantes, usando ternos bem alinhados, sobretudos e
capas de chuvas, chapéus, fumavam charutos e cigarros, tomavam gins tônicas e
uísques. Usando pesadas maquiagens noturnas, Mulheres negras, elegantemente bem
vestidas, usavam vestes vintage, calçavam saltos altos agulhas, brincos
reluzentes e uma gama variada de chapéus, alegremente bebiam acompanhando os
seus pares. Eram de idades variadas, jovens, jovens adultos e idosos e idosas,
estavam rindo, conversando animadamente, estavam sentas e circulavam pelo
clube. Falavam uma linguagem desconhecida para Wagner. Era um bailado
sincronizado, que ele nunca tinha visto antes.
Wagner
Altermann, não se lembrava como foi para naquela zona de exclusão, só lembrou
das aventuras nas estradas com os amigos, filhos da elite local. As crazy tours,
como ficou conhecida, pois a pequena trupe, depois percorrer a zona boêmia aos
redores da cais do porto e inferninhos locais, começaram a incomodar os
moradores do lugarejo. Então depois de pequenos escândalos, promovidas pelo
pequeno grupo, a solução natural para o embrolho, a trupe passou a percorrer a
cercanias. O grupo, passou então a frequentar os bares e os clubes as margens e
próximos as rodovias, que cortavam as cidades da localidade em uma eterna festa
itinerante.
Wagner
Altermann, sentado na frente do palco, ele sentindo dores atrozes pelo corpo,
ele tentando decifrar o que o conjunto musical, estava executando no palco.
Eram músicos negros, vestidos roupas extravagantes, usavam óculos escuros e a
cantora era um espetáculo à parte. Ela usando um vestido tubo branco decote em
V, salto alto agulha, usava um sofisticado diadema amarelo na cabeça, adornada
com joias de marfim e uma portentosa gargantinha no pescoço. Os longos cabelos
ebúrneos, na boca um provocante batom carmesim, os olhos negros rasgados e a
pele amendoado. O impressionado Wagner Altermann, teve a impressão vaga, de ter
vista a cantora antes, andando pelas ruas provavelmente. A música de repente
aumentou e Warner percebeu que a canção era um idioma desconhecido.
— Posso me sentar? Meu bom amigo! — Disse um homem de idade
avançada e elegantemente vestido, usava um sobretudo negro, fazendo par com um
chapéu, no pescoço um longo cachecol marrom e nas mãos luvas brancas, estava ao
lado de Wagner.
— Estamos em um país livre! — Disse Wagner, sentido fortes dores nas
pernas. Altermann, ao ver o homem sentar, notou uma bengala
em madeira de luxo cavalo alazão, nas mãos enluvadas do desconhecido.
— País livre? Mas quem é
de fato livre na vida? — Disse o estranho, com uma ronquidão na voz.
— Quem é o senhor? Tenho
a impressão que ter visto o senhor antes! — Disse Wagner quase surrando, as
dores do corpo aumentaram.
— Não creio que eu tenha
me esbarrado com a vossa pessoa antes — Disse o senhor, levantou a mão esquerda
estalou os dedos enluvado, um garçom surgiu com uma bandeja. Trouxe uma
bandeja, com dois copos de uísque sem gelo e uma caixa de charutos, o garçom
colocou os dois copos e a caixa de charutos na mesa. O senhor colocou a mão no
bolso, tirou uma certa quantidade de dinheiro e pagou o garçom.
— Deixa eu adivinhar, a
vossa excelência é o empresário do conjunto musical? — Perguntou Wagner Altermann, acostumado a viver entre com homens e
mulheres que emanam poder econômico e político.
— Pode-se dizer que sim meu amigo! E me
disseram que eras um qualquer! — Respondeu o homem idoso e empurrou o copo de
uísque para Wagner. Este não conseguiu levantar a mão, para pegar o copo à
frente dele, um formigamento tomou conta dos braços de Wagner.
— Quem disse o que? —
Pergunto Wagner Altermann, assustado.
— Isto não impor meu bom amigo! Deixe me apresentar, o meu nome é
Adamastor! Eu sou um simples mensageiro, o meu nome é Arinos, mas antes de
tudo, em primeiro lugar lhe digo meu jovem, o pior de todos os pesadelos é a
realidade! — Disse Arinos, com eloquência.
— Pois de um pesado a
gente acorda e da realidade não pode fugir! Já ouvi está mesmo retórica de
formas diferentes! — Disse Wagner Altermann, fazendo um
esforço para pegar o copo e levar até a boca, o gosto de uísque se misturou com
algo viçoso. Demorou um pouco até Wagner Altermann
descobrir que era gosto de sangue.
Arinos
levou o copo de uísque até a boca, desgostou a bebida, depois levou o charuto a
boca acendeu e expeliu uma fumaça no ar.
— Primeiro os escolhidos, eram puros e castos, não demorou muito os
piores tomaram o lugar. Eram levados ao altar e oferecidos aos deuses antigos,
depois houveram os que se voluntariam...
— Arinos? Que nome
estranho, mas que marmota é esta? Eu não estou entendendo nada meu senhor! —
Disse Wagner Altermann se retorcendo de dores.
— Eu vim lhe buscar! Simples assim! — Disse Arinos, dando um sorriso
aterrador.
— Me buscar? — Perguntou
Wagner Altermann e desespero.
— A realidade senhor Wagner Altermann. A realidade!!!
— Disse uma voz gutural, que rompeu o tecido espaço e tempo e chegou aos
ouvidos e mente de Wagner Altermann de forma
avassaladora.
Wagner Altermann, sentiu o mundo girar, uma chuva de vidros
partidos a lhe cobrir e a dilacerar o corpo. Fortes estrondos e gritos de pavor
ganharam o ar.
Fragmento do livro: Em perpétuos ciclos, por Samuel da Costa, novelista,
poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.
Argumento de Clarisse Cristal, bibliotecária, contista, novelista e
poetisa em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
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