Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Não é difícil dizer
Para mim mesma
E para quem quiser ouvir
Confesso que quando
Eu era uma criança bem pequena
Eu fui boazinha
Lá no jardim de infância
Com a minha professora primária
Pois fiz belos desenhos abstratos
E até ganhei estrelinhas
***
Não é crime sorrir para mim mesma
Ao tirar o kit maquiagem
Do estojo que eu comprei
Na Labella
E me redesenhar por inteiro
E me redefinir por completo
***
Não um crime de fato
Eu mulher feita e decidida
Produzir-me dos pés à cabeça
Repaginar-me por dentro
E por fora
E ir até o Beco do beco do Brooklyn
Distrair-me um pouco
E com a possibilidade
De não me abalar
Ao ponto de não precisar
Visitar o psiquiatra de mamãe
Para passar mais uma vez
Pela Gestalt-terapia
***
Não minhas queridas
Amigas e inimigas
Eu não quero sair do game
Quero ficar livre, leve e solteira
E chegar tarde da noite
Em casa levemente entorpecida
De felicidades sintéticas
E abstratas
***
Os espelhos côncavos
E convexos dentro de mim
Não me reconhecem mais
Não! Eu não me apaixonei
Pelo sujeito bem-apanhado
Que do outro lado da rua
Olhou perdidamente para mim
***
Não é nenhum crime
Eu simplesmente vou fazer amor
Perdidamente com ele
Para esquecê-lo depois
Pois hoje presumidamente
É o meu aniversário
E vou me dar o luxo de me presentear
Com algo vago, efêmero e fútil
Fragmento do livro, Sustentada no ar por negras
asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, cronista, contista, novelista e
bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.
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