Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Naquela
macia manhã de domingo, fui com meu pai, à missa, na igreja de Santíssima
Trindade. Era meio-dia, quando descíamos a ampla escada de granito, que dá
acesso à ádito do templo.
Avizinhou-se
de nós, homem, alto, elegante, bem trajado, de óculos reluzentes, de cor
doirada, cabelo grisalho e rosto risonho, de braços abertos, que euforicamente,
cumprimentou meu pai. Sem mais delonga, disse-lhe em afetuosa jovialidade:
- “ Ainda
ontem falamos de si! …”
- “Sim?!”
– Respondeu meu pai, segurando, com firmeza, os longos e finos dedos
morenos do álacre cavalheiro.
Soube,
mais tarde, que se tratava de insigne causídico da nossa cidade.
- “
Pois é verdade! Você é um jornalista genial! Escreve com estatura dos grandes
prosadores; tem cultura invulgar; e é notável perito da História da cidade.
Minha mulher - que é formada em Letras, - até me perguntou: -” Que curso terá
esse Pinho da Silva, para ter tanto talento, e possuir admirável estilo?!”
Meu
pai, surpreso, agradeceu o inesperado elogio e após breve pausa, declarou
galhofeiramente:
- “
Não tenho curso algum…”
Disse
a verdade, omitindo, porém, que cursara as Belas-Artes, e fora discípulo de
ilustres e conhecidos Mestres.
O
famoso jurisconsulto, mirou-o num relance, estupefacto, de cima a baixo, de
olhos esbugalhados de espanto. Depois… tartamudeando palavras ininteligíveis,
acabou asseverando, com sorriso compulsivo, nos descorados lábios:
- “ “
Pois não parece! …. Para quem não tem diploma superior, escreve bem. Muito
bem… Continue…continue…que irá longe…mesmo sem curso! …
“E eu a pensar, que tinha cursado Letras! …”
O
conhecido causídico, estampou expressão de espanto, e certamente pensou com
seus bonitos botões doirados: “ Como é que consegue, sem ter frequentado os
bancos universitários?! …” – As Belas-Artes, no tempo da juventude de meu pai,
não pertenciam ao ensino superior.
O bom
jurisconsulto, pensava, que para se ser bom escritor e bom jornalista, era
preciso frequentar a Faculdade de Letras! …
Como se as Letras tivessem lá! …
Compreendo,
assim, perfeitamente, porque pretendentes a deputado, inventem cursos e
diplomas, que não possuem, para serem respeitados.
Quando
realizei, numa publicação local, dezenas de entrevistas (quase duas centenas,)
a figuras públicas; jovem deputado, confidenciou-me: que ia cursar Faculdade,
para poder impor-se, no parlamento…
Vivemos
num mundo de “canudos”. Marden, asseverou: que se dava mais valor ao diploma,
que ao verdadeiro conhecimento.
E
continua a ser verdade…
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