Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Na nossa terra, neste bonito
jardinzinho plantado junto ao Atlântico, varanda florida sobre o mar azul, o
povo é hospitaleiro e subserviente, acocorando-se diante de quem vem de fora,
mormente de carteira recheada.
Quando faleceu Rebelo da Silva,
Ramalho, referindo-se ao seu Portugal, escreveu:
" (...) " Sabes
agora ò pátria qual é a diferença característica que te distingue de todos os
países do mundo, e que vivamente te retrata na tua inépcia? É que se um homem
que deixasse em Madrid, em Paris, em Londres, em Florença, em Berlim ou em
Bruxelas, lá vinte mil homens a pé, levando no coração o luto nacional, o
teriam acompanhado à derradeira morada. Tu mandaste um coche da Casa
Real!" – " As
Farpas”
Era assim como a nação
respeitava os ilustres. E agora?
Em 2 de Abril de 2003, "O
Público", publicou longa entrevista a António José Saraiva, onde este
analisou o âmago do sentimento nacional:
"Os portugueses são
acomodativos. Perdem facilmente o sentimento...Por exemplo, os filhos de
portugueses, em Paris, quase todos decidem ser franceses. Uma coisa que a me
entristece.... Um português acha sempre que o estrangeiro é melhor. Tem razão
para achar, quando olha para um pais desenvolvido. Mas a gente vê um país, como
o basco, a lutar pela sua personalidade e percebe o que é nacionalismo, o que é
o patriotismo."
Na mesma entrevista acrescenta:
" Um castelhano só
fala castelhano em qualquer parte do mundo. A gente ouve, mesmo em Paris, e
apercebe logo que ele é castelhano. Não fala francês direito. O português,
coitadinho, adapta-se, fala português pretendendo falar francês, e quando chega,
vem cheio de "pirres", " à gouche"..."
Assim continua na década vinte,
no nosso século, a mentalidade de muitos. Nos últimos anos, inesperadamente
surgiu onda saudosista dos descendentes de portugueses, que mal conhecem a
língua de Camões, desconhecem a História e muitos, os usos e costumes,
garantindo, todavia, a sua verdadeira nacionalidade... obtendo assim as
regalias – não os deveres, – dos cidadãos europeus...
Afortunadamente o atual
Presidente da República, tudo tem feito para inverter o complexo que tantos:
políticos, desportistas, artistas e figuras públicas, sofrem, considerando que
é seu dever exprimirem-se no idioma do país que visitam.
Estando na Foz de Iguaçu,
visitei a Argentina, num grupo de brasileiros. Todos ou quase todos, falavam
castelhano apalhaçado. Apenas eu falei português. Fui compreendido
perfeitamente e até louvado!
Dizia Eça que no seu tempo os
casquilhos falavam francês, agora fala-se inglês. É bonito, é chique, e dá status.
E os bacocos nacionais,
escancaram a boca de espanto, e pensam estupefactos: Como é culto!... Como é
inteligente!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário