Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Sou o nome dela por acaso! Clara, um lindo nome, daquela mulher que morava na
frente da minha casa. Passava as manhãs tomando banho de sol, isto é quando
tinha sol. Mas voltamos ao início, que é um bom lugar para se começar, ela
passava as manhãs de sol ameno se banhando de luz solar. Fora assim por meses a
fio, até a Maria das Saudades, minha conhecida do bairro, passou na frente da
casa dela e simplesmente disse: — Bom dia professora Clara! Um mistério
para se dissipar, um bem pequeno a bem da verdade.
Não me contive e fui ter uma conversa com Maria das Saudades e logo perguntei
quem era minha nova vizinha. E como ela foi para na cadeira de rodas, eu
estava afoita e queria detalhes atômicos.
— Como ela foi parar na cadeira de rodas eu não sei dizer, ela foi a
minha professora no jardim de infância! Simples assim! Ela me acompanhou por
anos, uma excelente professora. Todos a amam, agora eu tenho que ir!
Fui acompanhando com o olhar Maria das Saudades sumir rua abaixo, andava aos
saltos, chamando a atenção de todos naquela rua bucólica. Mais tarde soube que
a professora Clara, dedicou toda a vida à educação. Filha de família pobre,
estudou, entrou na faculdade e dedicou toda a vida à educação. Casou tarde e teve
três filhas. E o que a levou a decadência, eu não soube e nem queria saber.
Aí veio a tormenta, os gritos, era Clara e seu marido, que discutiam e
discutiam. Não tinha hora certa, só o turbilhão quebrando a rotina daquela rua,
daquele pequeno bairro afastado. Porquê brigavam? Por tudo creio eu! Mas o que
mais me tocava eram as meninas, que raro saiam da casa e sempre que saiam
pareciam sempre tristes e assustadas.
Um dia de sol ameno, vi o casal, de olhar severo o elegante marido de
Clara a empurrava, ela triste na cadeira de rodas. Para onde foram eu não sei
dizer, só sei que o marido da professora Clara, voltara em poucos minutos, logo
não foram muito longe. Vi o marido de Clara adentrar sorridente na casa de uma
vizinha, quem era? Era uma jovem muito bonita, uma ave noturna, La belle de
jour, era assim a chamavam. O marido da professora Clara, ficou ali por pouco
tempo, saiu e foi buscar a esposa sabe-se lá onde. Pois o bem o fato em si não
chamou a atenção de ninguém.
Um dia não me contive e fui ter uma conversa com o marido de
Clara, Eu diante daquele homem alto e bem vestido: — E as crianças pequenas?
Elas ficavam sozinhas por um bom tempo, também não frequentavam escola! Ele
nada disse, mas o semblante assustado com a reação raivosa do senhor eu foi
embora. Teve que me afastar daqui.
Não demorou para
descobrir por vias tortas, que o motivo das brigas do casal, era porquê Clara
dava aulas para as filhas. E, ali estava uma guerreira, que nunca se deixou
levar, pela estupidez do esposo abusivo. Com as mãos ensanguentadas em dores,
mas com alma tranquila e serena, nada impediu aquela mãe de alfabetizar as suas
filhas, nem mesmo suas pernas paralisadas.
Um ano depois,
fiquei sabendo que as filhas da professora Clara estavam estudando e vivendo
como todas as crianças merecem. Quanto ao marido de Clara? Ele deixou a
família, esposa em uma cadeira de rodas, debilitada, filhas ainda pequenas,
homem amargurado, ele nunca quis aceitar a verdade. Toda criança merece um estudo
adequado!
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